Abastecimento d’água na década de 40 - Por Celso Caus
Por meio do Decreto 11.012, de 18 de dezembro de 1939, o Governo do Estado transferiu para a Prefeitura de Vitória os serviços de água e esgoto. O Executivo municipal passou a geri-los somente a partir de 1º de janeiro de 1940. Antes disso, a administração estava sob o comando, como já mencionado, do extinto Departamento Geral de Agricultura do Governo estadual.
Da forma como foi feita, a transferência não permitia poderes sobre os bens administrados. Em 16 de dezembro de 1946, o Estado assinou a doação condicional à Prefeitura dos serviços de água e esgoto, reservando para si o direito de promover a reversão integral do patrimônio estadual, mas sem o direito de indenizar o erário municipal, se essa atitude fosse conveniente.
Durante a administração municipal dos serviços de água, o prefeito e engenheiro Henrique de Novaes (22 de janeiro a 12 de novembro de 1945) iniciou a construção da barragem de Duas Bocas, cujo volume girava em torno de 140 mil metros cúbicos.
O engenheiro Henrique de Novaes nasceu, em 1884, em Cachoeiro de Itapemirim. Formou-se em engenharia pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1903. Trabalhou na Diretoria de Obras do Estado, na Usina Paineiras, nos serviços públicos da Prefeitura de Vitória, além de ter atuado como engenheiro e urbanista. Foi prefeito de Vitória duas vezes, sendo a primeira de 24 de maio de 1916 a 5 de janeiro de 1920. Durante seu último mandato, de 22 de janeiro a 12 de novembro de 1945, deixou a Prefeitura para ocupar o cargo de senador da República.
Em Vitória, em 1917, desenvolveu o projeto da Catedral Metropolitana com detalhes neogóticos. Prestou serviços no Rio de Janeiro, onde projetou e construiu o reservatório do Engenho de Dentro, conhecido, na época, como a “obra mais notável do Brasil em cimento armado”.
Em Natal, construiu uma barragem com acúmulo de água que se transformou em piscina pública. Em agosto de 1921 foi nomeado Diretor de Obras contra as secas no Rio Grande do Norte. Em 1924, convidado pelo governador do Rio Grande do Norte, José Augusto Bezerra de Medeiros, passou a coordenar a então criada Comissão de Saneamento de Natal, quando elaborou o Plano Geral de Obras de Saneamento de Natal.
Henrique de Novaes faleceu em Vitória, em 1950, aos 65 anos de idade. Retomando a barragem de Duas Bocas, a obra iniciou-se em 9 de julho de 1945. Foi concluída em 1951 no Governo Jones dos Santos Neves.
O prefeito e engenheiro José Ribeiro Martins (de 7 de abril de 1951 a 5 de maio de 1953) deu a ordem para o enchimento da barragem que, para sua surpresa, vazou em vários pontos com jatos violentos. Não há descrição detalhada desses pontos de vazamento. Porém, existe relato de carreamento de material sólido e um acidente mais grave que ocorreu no maciço, a montante e nas proximidades da ombreira direita. O acidente provocou a formação de uma abertura no talude de montante, próximo à crista, além de um escorregamento que pode ter sido pelo efeito “piping”. Após obras de recuperação, a barragem apresentou novos vazamentos e sua capacidade de produção caiu pela metade, em condições de alimentar apenas a adutora de 500mm construída em 1936. Com isso, a reversão do Mangaraí para Duas Bocas e a construção da segunda adutora de 500mm jamais aconteceram.
Nas considerações preliminares sobre a barragem realizada pela empresa Engenharia Gallioli Ltda(1), consta: “Não foi construído o muro em seco que figura no desenho de outubro de 1934”. Constatou-se, no primeiro enchimento do reservatório, a duvidosa impermeabilidade da barragem reconstruída numa grande parte do talude de montante e aprofundada a cortina de montante. Sucessivas manifestações de permeabilidade perigosa da obra obrigaram o rebaixamento do nível da água, dinamitando parte da estrutura do vertedouro e, repetindo, a permeabilidade perigosa, o nível foi rebaixado ainda mais para reduzir a acumulação de água num volume quase insignificante.
Os rios abastecedores da barragem são o Pau Amarelo, Panela, Nanhu-Açu, Biquinha e Sertão Velho. A área de drenagem na seção da barragem é de aproximadamente 30 Km². A bacia hidrográfica do Rio Duas Bocas, afluente do Santa Maria da Vitória, já nas proximidades da baía de Vitória é de aproximadamente 85 Km². A Reserva Biológica de Duas Bocas foi criada pela Lei nº 4503, de 2 de abril de 1991.
Consta na placa ainda existente em Duas Bocas: “Construção iniciada em 09- 07-1945 na interventoria Jones dos Santos Neves continuada nas administrações Octaviano Lengruber Aristides Campos, Moacir Ubirajara, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg e José Rodrigues Sette, sendo concluída a 8 de setembro de 1951 como parte das comemorações do IV centenário da fundação de Vitória sob o Governo do Dr. Jones dos Santos Neves.”
Com a construção da barragem de Duas Bocas, algumas das menores e primitivas barragens ficaram submersas. Curiosamente na década de 1980, com o rebaixamento em nível crítico da água ocorrido em épocas de estiagem foi possível ver uma das barragens do Rio Pau Amarelo. A foto, a seguir, mostra esta barragem que em condições normais fica submersa.
Atendendo ao Decreto 5.929, de 23 de fevereiro de 1935, foi prevista uma instalação completa para cloração das águas de Duas Bocas. Outro fato significativo é que a adutora de 500mm foi totalmente substituída por outra de diâmetro de 400mm no trecho da barragem até as imediações de Cariacica Sede. A conclusão aconteceu em 2009. Á área de influência de abastecimento de Duas Bocas que anteriormente ia até Vitória, com a expansão urbana, hoje atende a Sede de Cariacica e bairros adjacentes.
Notas:
(1) A Engenharia Gallioli Ltda interpelou o engenheiro Manoel Vivacqua Vieira, da Soletec, anteriormente diretor da Koteca, que construiu a barragem e efetuou a primeira reconstrução de parte do maciço a montante.
Fonte: Das Fontes e Chafarizes às Águas Limpas – Evolução do Saneamento no Espírito Santo – Cesan, 2012
Autor: Celso Luiz Caus
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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