Anchieta – Por Serafim Derenzi
De 1533 a 1590, Padre Anchieta não teve residência fixa no Espírito Santo como supõem alguns historiadores. (1)
Visitou várias vezes a Capitania, principalmente depois de 1564, em viagem da Bahia para Rio, São Paulo e vice-versa. Algumas vezes, em missão determinada, demorou-se em ministérios que o Padre Nóbrega lhe cometia. Visitava as Residências, Aldeamentos ou Reduções incipientes. Resolvia dúvidas, empregando pedagogia nova na pacificação dos índios. Pregava sermões edificantes, aconselhava os donatários em suas múltiplas dificuldades, doutrinava os colonos e ensinava catecismo aos curumins e aos portugueses. Em cartas minuciosas, verdadeiras fotografias da vida social-econômica da Capitania, relatava aos superiores o fruto de sua missão. Seu cuidado maior se dirigia aos índios, fundando pequenas aldeias, que hoje são cidades, abrindo caminho através da mataria litorânea espírito-santense. Em Vitória escreveu, pelo menos, dois autos e algumas de suas poesias. Sua predileção, porém, foi a enseada tranqüila e bucólica de Reritiba. Seus amigos escolhidos, os índios dessa embocadura plácida do Benevente. Ali quis passar seus últimos dias, quando as fadigas do apostolado lhe haviam consumido as energias. Despido de todas as funções dos ministérios, que exercera em obediência aos superiores da Companhia, escolheu a aldeia de Reritiba, onde se entregou à sua vida mística. Escreveu cânticos à Virgem Santa, educou índios, que lhe dedicaram amor filial.
Sob o trópico do Espírito Santo, terra que invoca a terceira pessoa da SS. Trindade veio conviver somente com Deus. Já dera muito de suas energias, inteligência e ação. Ajudara a fundar São Paulo e Rio de Janeiro. Exortara os portugueses, os primeiros brasileiros da pátria nascente, a expulsar os estrangeiros infiéis. Precisava de descanso para gozar o clima de sua paisagem interior.
De Reritiba, escreve, a 9 de dezembro de 1590 ao P. Inácio Tolosa: "O Padre Provincial me mandava licença para que estivesse em qualquer porte da Provinda que quisesse. Não quis tanta liberdade, porque sói ser causa de cegueira e errar o caminho, não sabendo o homem escolher o que lhe convém.... Pus-me nas mãos do Padre Fernão Cardim, Reitor do Colégio do Rio de Janeiro e ordenou Nosso Senhor que acompanhasse ao Padre Diodo Fernandes nesta aldeia de Reritiba, para o ajudar na doutrina dos índios, com os quais me dou melhor que com os portugueses, porque àqueles vim buscar ao Brasil e não a estes"..... (2)
Não mais se ausentou da Capitania e nos trajetos terrestres entre Reritiba e Vitória, fundou o Aldeamento de Guarapari, iniciando a capela de Santa Ana. (3)
Em 9 de julho de 1597, com 63 anos de idade e 44 de Brasil; adormeceu placidamente, num domingo de manhã. A notícia traumatizou toda a região. Choraram-no principalmente os indígenas. Em cortejo processional foi transportado para o Colégio de Vitória, sendo sepultado na igreja de Santiago, ao Iodo de seu amigo. Padre Gregório Serrão.
Os despojos do Apóstolo do Brasil, permaneceram em jazigo até o ano de 1611, quando por ordem do Padre Cláudio Aquaviva, Geral da Companhia de Jesus, foram removidos para o Colégio da Bahia. Alguns ossos e um fêmur foram mandados a Roma. Em Vitória, no antigo Colégio, hoje Palácio do Governo, conservaram-se vários ossos em urna de prata ou jacarandá. Quando da visita do Imperador Pedro II, foi-lhe oferecido um fragmento e outro ao Dr. Barbosa Rodrigues. (4) Em 1888, as partes restantes, foram entregues a Padres Jesuítas, que por lá passaram.
Em se demolindo a igreja de Santiago, em 1913, encontram-se ainda ossos, vértebras e falsas costelas, que foram depositados no túmulo construído na ala posterior do Palácio e recoberta, com a lousa sepulcral primitiva.
Um dia, não se sabe quando, o Venerável Padre José de Anchieta, será elevado às honras dos altares. Será proclamado Apóstolo do Brasil e primeiro Santo espírito-santense.
NOTAS
(1) "Vida Ilustrada do V.P. Anchieta do Brasil" (Publicação oficial dos P.P. Jesuítas).
(2) "Cartas Avulsas".
(3) Basílio Daemon – Cezar Marques
(4) "Vida Ilustrada"...
Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, arbril/2017
GALERIA:
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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