Ano de 1875 – Por Basílio Daemon
1875. Publicou-se neste ano, na vila de Itapemirim, no dia 3 de janeiro e sob a redação e propriedade do Sr. Augusto A. Pereira César, um periódico sob o título Operário do Progresso,(774) unicamente dedicado aos interesses da província. Nele colaboraram o bacharel José Feliciano Horta de Araújo, e engenheiro Leopoldo Augusto Deocleciano de Melo e Cunha e Joaquim Adolfo Pinto Paca.
Idem. Faleceu no dia 8 de janeiro deste ano o capitão Francisco Ladislau Pereira, tesoureiro do Tesouro Provincial, lavrador e homem muito estimado por seus conhecimentos e excelentes qualidades; fora sempre sectário do Partido Liberal, ao qual prestou muitíssimos serviços. Para o lugar que ocupava este digno cidadão foi nomeado por ato da Presidência de 9 do mesmo mês, para servir interinamente o dito cargo, o honrado contador aposentado do Tesouro Provincial, major Sebastião Fernandes de Oliveira, hoje tesoureiro da Caixa Econômica e Monte de Socorro desta capital.
Idem. Neste ano, nos dias 25 e 26 de janeiro, em consequência das grandes chuvas e enchentes dos confluentes do rio Itapemirim, é inundada a vila de São Pedro do Cachoeiro, ficando parte das casas térreas embaixo d’água e as ruas com dois e três metros de água, causando enormes prejuízos aos moradores da dita vila. Esta enchente foi superior às dos anos de 1862, 1866 [e] 1873, que também deram àqueles moradores e aos da vila do Itapemirim prejuízos extraordinários.
Idem. No mês de janeiro deste ano é nomeado pelo ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, conselheiro José Fernandes da Costa Pereira, o hábil engenheiro austríaco Andreas Lebin Cernadack para proceder nesta província aos estudos necessários para desobstrução da barra da Vitória, tendo o mesmo engenheiro feito as sondagens, percorrendo a baía e alto-mar em frente à barra, levantando uma carta topográfica e descritiva a esse respeito, e que apresentou-a a 27 do mesmo mês de janeiro. Foi nesses trabalhos coadjuvado pelo ilustrado e habilíssimo engenheiro César de Rainville.
Idem. Por carta imperial de 6 de fevereiro deste ano é transferido da província do Amazonas para presidente desta província o bacharel Domingos Monteiro Peixoto (hoje barão de São Domingos), que prestou juramento e tomou posse a 4 de maio, sendo exonerado a 4 de dezembro do mesmo ano.(775)
Idem. Por decreto de 13 de fevereiro deste ano é nomeado juiz de direito da comarca de Santa Cruz o bacharel Luís Ferreira Tinoco, que prestou juramento a 4 e entrou em exercício a 5 de março,(776) sendo removido para a comarca do Lambari, em Minas Gerais, a 11 de outubro de 1876.
Idem. Naufraga a 24 de fevereiro deste ano, pelas 4 horas da madrugada, o vapor Diligente, pertencente à Companhia Espírito Santo e Campos, e que na véspera havia saído desta capital levando a seu bordo a comissão de estudos sobre o traçado da estrada de ferro desta capital para Minas Gerais, representada por seu diretor o engenheiro Miguel de Teive e Argolo, perdendo-se parte ou todos os trabalhos que levavam para serem apresentados ao respectivo ministro; ia também o engenheiro Andreas Cernadack, que viera estudar a desobstrução e melhoramento da barra desta capital, assim como muitos outros passageiros e famílias. Os prejuízos trazidos ao comércio e aos particulares desta capital foram extraordinários. O vapor perdera-se na altura das ilhas de Maricá, e por negligência do comandante.
Idem. É assinado, a 13 de maio deste ano, o contrato modificado para navegação dos portos da capital, vila do Espírito Santo, Itaquari, Itacibá, Porto Velho, Cariacica e intermediários até o Cachoeiro de Santa Leopoldina, de conformidade com as leis nº 12 [d]e 18 de outubro de 1873, e nº 35 de 14 de novembro de 1874, sendo seu empresário o bacharel e engenheiro civil José Feliciano de Noronha Feital, sendo organizada uma companhia no Ceará, no mês de outubro, para levar a efeito a dita navegação, cuja inauguração teve lugar a 6 de setembro de 1876 com o pequeno vapor Fortaleza. Não tendo cumprido o seu contrato, foi por ato de 6 de setembro dada por finda aquela empresa. Esta navegação tornou-se tão péssima e irregular que, afinal, para cumprir parte do contrato, a companhia apresentou um vapor desprezado no Rio de Janeiro por inutilizado, para que servisse à navegação dos portos indicados, sendo por isso rescindido o contrato por prejudicial à província, como se verifica da lei nº 10 de 10 de agosto de 1877. Depois disto, tem havido uma ou outra navegação em alguns daqueles portos, mas sem contrato firmado.
Idem. A 16 de junho deste ano é inaugurada a estação telegráfica da cidade da Serra pelo engenheiro da linha telegráfica desta província, César de Rainville, trocando-se nessa ocasião diversos telegramas entre o mesmo ilustre engenheiro, presidente da província e outros.
Idem. A 23 de junho deste ano é concedida pelo governo geral a garantia de juros sobre 2.000.000$[000] para a fatura da estrada de ferro desta província,(777) havendo por essa causa grandes regozijos nesta capital, saindo o povo na noite do dia 26, em que recebeu-se a notícia, em passeio pelas ruas tendo à frente duas bandas de música, recitando-se discursos, poesias e dando-se vivas ao Gabinete 7 de março, e especialmente ao deputado Dr. Heliodoro José da Silva e ao conselheiro José Fernandes da Costa Pereira, então ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e deputado por esta província.(778)
Idem. Neste ano, tendo-se declarado na província a epidemia das bexigas, e especialmente nesta capital, onde fez muitas vítimas, a Irmandade de São Benedito do Convento de São Francisco estabeleceu ali um hospital para os variolosos, o qual prestou importantes serviços, sendo ali recolhidos muitos dos infectados da epidemia.(779) A comissão incumbida daquele hospital não se poupou a esforços no tratamento dos doentes, e menção merecem pelo muito que trabalharam e se prestaram o tenente Antônio Augusto Nogueira da Gama, tabelião nesta capital, e Sebastião da Guia Tristão, relojoeiro. O presidente da província coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas também foi incansável em tomar providências, já pondo quantias à disposição, já tomando medidas para as localidades.
Idem. Por decreto de 7 de julho deste ano é nomeado o capitão Sebastião Raimundo Ewerton para comandar a Companhia de Infantaria desta província, por se haver reformado no posto de tenente-coronel o comandante da mesma companhia major Luís Martins de Carvalho, tendo o mesmo capitão Ewerton assumido o comando no dia 2 de setembro deste mesmo ano.
Idem. É efetuado a 12 de julho deste ano um contrato com o general Franzini para a introdução de 50.000 imigrantes para esta província, cujo contrato não teve efeito.
Idem. Em vista do decreto nº 5.973 de 4 de agosto deste ano, que restabeleceu o decreto nº 5.319 de 24 de junho de 1873, é mandado pela Presidência observar a resolução presidencial de 7 de março de 1872 a respeito da nomeação de juiz municipal dos termos reunidos de Linhares e Santa Cruz, ficando sem efeito a nomeação de juiz municipal de Linhares e Nova Almeida.
Idem. É nomeado em agosto deste ano capitão do Porto desta província o capitão-tenente Antônio Severiano Nunes, que assumiu o exercício a 4 de setembro deste mesmo ano.
Idem. Por decreto de 9 de setembro deste ano é nomeado chefe de Polícia desta província o bacharel Manoel Antunes Pimentel,(780) que prestou juramento e entrou em exercício a 31 de setembro do mesmo ano, sendo exonerado do dito cargo a 12 de setembro de 1877, sendo-lhe posteriormente designada uma comarca na Bahia, como juiz de direito.
Idem. Falece neste ano, a 17 de setembro, o capitão-de-mar-e-guerra reformado João Paulo da Costa Neto, que aqui residia, casara-se e ocupara o lugar de capitão do Porto. Foi o seu enterro bastantemente concorrido, fazendo-lhe as honras do estilo a Companhia de Infantaria e a Companhia de Aprendizes Marinheiros.
Idem. É inaugurado no dia 20 de setembro deste ano um teatro feito a expensas dos habitantes da cidade de São Mateus, dando sua primeira récita no dia seguinte, 21 do mesmo mês, sendo o Sr. Joaquim de Souza Vila-Nova o diretor daquela obra.
Idem. Neste ano, a 24 de setembro, é publicado nesta capital um periódico científico, literário e industrial, intitulado A Aurora, sob a direção dos estudantes do Ateneu Provincial Monteiro Peixoto, Muniz Freire e Afonso Cláudio, mas teve pouca duração.
Idem. É concedido pela Assembleia Provincial, na lei nº 8 de 9 de novembro deste ano o privilégio por 10 anos e a garantia de juros de 7 por % sobre cem contos de réis, a quem inaugurasse a navegação fluvial do rio Doce. Esta lei depois sofreu alterações diversas. Levantou-se uma companhia, estando à frente dela o negociante Francisco da Rocha Tagarro, o qual mais tarde apresentou o vapor Rio Doce, tendo lugar a inauguração da mesma, nesta capital, a 16 de fevereiro de 1879.
Idem. Neste ano, a 25 de novembro, principiaram pela primeira vez no Espírito Santo os exames gerais de preparatórios perante a Delegacia Especial da Instrução Pública da Corte nesta província, sendo seu delegado o major Joaquim José Gomes da Silva Neto. Mais tarde foram suspensos esses exames na província, sendo em 1878 outra vez restabelecidos.
Idem. Instala-se no dia 1º de dezembro deste ano a Caixa Econômica e Monte de Socorro desta capital, sendo seus primeiros diretores Francisco Pinto de Oliveira, coronel Manoel Ferreira de Paiva, capitão Francisco Rodrigues de Barcelos Freire, major Joaquim José Gomes da Silva Neto e tenente-coronel José Ribeiro Coelho, e empregados nomeados com aprovação do governo geral no mês de novembro, Manoel Pinto Ribeiro Manso, escriturário; major Sebastião Fernandes de Oliveira, tesoureiro; Aprígio Guilhermino de Jesus, amanuense; Vicente Rufino Ferreira Coutinho, porteiro; Francisco Pinto de Oliveira Júnior, avaliador.
Idem. Publica-se neste ano, no dia 1º de dezembro, nesta capital, um periódico em grande formato, sob o título O Comércio, de propriedade e redação dos bacharéis José Feliciano de Noronha Feital e José Joaquim Peçanha Póvoa, tendo o mesmo desaparecido por penhora e embargo feito à tipografia por um negociante da Corte.
Idem. Por carta imperial de 4 de dezembro deste ano é nomeado presidente desta província o bacharel Manoel José de Menezes Prado, que prestou juramento e entrou em exercício a 3 de janeiro de 1876, sendo exonerado a 13 de dezembro do ano citado.
Idem. Assume a administração da província o íntegro 1º vice-presidente coronel Manoel Ribeiro Coutinho de Mascarenhas, no dia 24 de dezembro, por ter sido exonerado o bacharel Domingos Monteiro Peixoto.
Idem. Por atos da Presidência datados de 29 e 30 de dezembro deste ano foram nulificados os contratos feitos pelo ex-presidente da província, bacharel Domingos Monteiro Peixoto, hoje barão de São Domingos, por serem lesivos à Fazenda Provincial, e foram rescindidos os da compilação das leis provinciais,(781) o da iluminação a gás,(782) o da limpa do rio Santa Maria,(783) o da navegação a vapor dos rios São Mateus e Itaúnas,(784) o da publicação do Dicionário Histórico e Geográfico, (785) o do aumento dos vencimentos de alguns empregados que já eram regulados, por só ter vigor o regulamento do 1º de julho de 1876.
NOTAS
(774) “Jornal dedicado aos interesses da província. O primeiro número apareceu aos 3 de janeiro de 1875. Quando surgiu, o único periódico que existia na província era o Espírito-Santense. Em seu artigo de apresentação, comprometia-se a ser imparcial em questões pessoais e políticas, e esforçava-se pelo desaparecimento do analfabetismo.” [Pereira, Imprensa, p. 38]
(775) “Nomeado presidente desta província por carta imperial de 6 de fevereiro último, depois do juramento de estilo, assumi a administração no dia 4 de maio.” [Fala com que o Exm. Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto instalou a Assembleia Provincial do Espírito Santo, na sessão do dia 18 de setembro de 1875, p. 2]
(776) “Tendo sido nomeado por decreto de 11 de fevereiro último o bacharel Luís Antônio Ferreira Tinoco, juiz de direito da comarca de Santa Cruz, e havendo-se apresentado nesta capital, prestou o devido juramento em data de 4 de março passado e entrou em exercício de seu cargo no dia 5 do mesmo mês.” [Relatório apresentado a S. Exm. o Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto pelo Exm. Sr. coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas, por ocasião da 1ª sessão da 21ª legislatura, 1874, Quadro das Diversas Comarcas da Província, p. 5]
(777) Decreto nº 5.973, de 23 de junho de 1875 – Concede, durante trinta anos, fiança de garantia de juros de 7% ao ano para o máximo capital de mil e oitocentos contos de réis, destinados à construção de parte da estrada de ferro da Vitória a Natividade, na província do Espírito Santo.
(778) “Dando-vos esta faustuosa notícia, que com entusiasmo foi recebida pela população desta capital e de toda província, faltaria a um dever imperioso, se em nome dela não se manifestasse a sua gratidão para com o seu representante, o conselheiro José Fernandes da Costa Pereira Júnior, que nos conselhos da Coroa e no parlamento, propugnou sempre com tenacidade pelo progresso do Espírito Santo...” [Fala com que o Exm. Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto instalou a Assembleia Provincial do Espírito Santo na sessão do dia 18 de setembro de 1875, Estrada de Ferro, p. 55-6]
(779) “E para o tratamento dos variolosos empreendi, e felizmente consegui com o auxílio da caridade pública, estabelecer uma enfermaria no Convento de São Francisco desta cidade...” [Relatório apresentado a S. Ex. o Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto pelo Exm. Sr. coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas, por ocasião..., 4 de maio de 1875, Salubridade Pública, p. 16]
(780) “A Repartição de Polícia acha-se a cargo de um cavalheiro de fino trato, em tudo igual aos seus colegas, o Dr. Manoel Antunes Pimentel.” [Relatório apresentado a S. Ex. o Sr. Dr. Manoel José de Menezes Prado pelo Exm. Sr. Coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas por ocasião ocasião de passar a administração..., 3 de janeiro de 1876, Administração da Justiça, p. 2]
(781) Relatório apresentado a S. Ex. o Sr. Dr. Manoel José de Menezes Prado pelo Exm. Sr. coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas por ocasião..., 3 de janeiro de 1876, Compilação das Leis Provinciais p. 5-7.
(782) Idem, Iluminação a Gás, p. 7-8.
(783) Idem, Desobstrução do Rio Santa Maria, p. 4-5.
(784) Idem, Navegação Fluvial a Vapor de S. Mateus e Itaúnas, p. 7.
(785) Dicionário de autoria de César Augusto Marques. [Idem, Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico, p. 4]
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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