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Café, assistência hospitalar, ensino na era Rubim

Luís Antônio da Silva, foi o principal doador e fundador da Santa Casa de Misericórdia - Galeria de retratos da Santa Casa de Misericórdia de Vitória

Embora continue sendo uma incógnita histórica a introdução da cultura do café no território espírito-santense, vale acentuar que, em 1812, as lavouras do rio Doce já produziam para exportação. Aliás, o lote então vendido alcançou o preço de 3$000 por arroba.(54) Só mais tarde, entretanto, lá para meados do século, a rubiácea alcançaria o lugar preeminente que vem mantendo no conjunto dos produtos que constituem a riqueza do Estado.

Nomeado governador do Ceará, Francisco Alberto Rubim deixou a administração da capitania nas mãos de um governo interino, a doze de setembro de 1819.

Coube-lhe o papel de pioneiro de duas grandes empresas: abrir estradas(55) e incentivar o povoamento. Sobrepondo-se a todas as deficiências da terra, num momento de carência geral, conseguiu pagar ao Banco do Brasil a dívida de 16:000$000 que o governo real impusera ao Espírito Santo, como quota de um empréstimo contratado pela Coroa com aquele estabelecimento de crédito.

Outras medidas de imediato interesse público tomadas durante a administração Rubim foram a fundação de um hospital para os enfermos pobres e a restauração da Santa Casa da Misericórdia de Vitória,(56) além da criação de diversas aulas na Capital e vilas da capitania. Por outro lado, o povo se beneficiava com a presença de um boticário licenciado em Vitória.(57)

Os habitantes das margens do rio Doce dispunham de um cirurgião-mor, hospital e os medicamentos precisos para acudi-los em suas doenças.(58) Itapemirim era elevada à categoria de vila(59) e a Capital aformoseada na sua arquitetura.(60)

Como se vê, Rubim compensou seus rompantes de homem dado a arbitrariedades com uma “administração ativa, benéfica e empreendedora”.(61)

 

NOTAS

(54) - TAUNAY, Hist. Café, III, 281-90.

– No relato feito ao conde de Linhares, em 1811, FRANCISCO MANUEL DA CUNHA já se referia ao comércio de café produzido no Espírito Santo (ver p. 272). Cumpre atentar na judiciosa observação do prof. Affonso de E. Taunay quando – apreciando a afirmação de Benvindo de Novaes: “Já no primeiro decênio do século XIX figurava o café entre os produtos da exportação espírito-santense” – diz que tal informação “exige um complemento indispensável, de que essa exportação seria, quando muito, de alguns quilos e de longe em longe ainda” (op. cit., 288).

(55) - Seu filho, o memorialista BRÁS DA COSTA RUBIM, traçando o quadro de sua administração, escreveu: “Abriu cinco estradas, sendo a maior de setenta e duas léguas e três quatros e a menor de dez léguas, rompendo sertões imensos” (Memórias, 301). Uma das estradas buscava a capitania do Rio de Janeiro e passava pela fazenda da Muribeca, outrora dos padres da Companhia de Jesus (PENA, História, 107).

(56) - RUBIM, Memórias, 301; DAEMON, Prov. ES, 220. Este último, referindo-se à construção do hospital (da Santa Casa da Misericórdia), escreveu: “Foi principal doador e fundador Luís Antônio da Silva, coadjuvado pelo governador Rubim, que também não se poupou a esforços para ver realizada aquela obra, à qual ele próprio administrava, enquanto que Luís Antônio da Silva concorria com o necessário para o seu acabamento” (Prov. ES, 220).

– Por decreto de vinte e três de dezembro de 1817 foi S. M. servido mandar criar na Vila da Vitória um hospital, debaixo da inspeção da Santa Casa da Misericórdia, confirmando as doações e donativos oferecidos para seu estabelecimento. (IX)

(57) - DAEMON, Prov. ES, 226-7.

(58) - Memórias para Servir à História.

(59) - Alvará de vinte e sete de junho de 1815.

(60) - RUBIM, Memórias, 301.

– “As ruas de Vitória são calçadas, porém o são mal; têm pouca largura, não oferecendo nenhuma regularidade. Entretanto, não se vêem, aqui, casas abandonadas, semi-abandonadas, como na maioria das cidades de Minas Gerais. Entregues à agricultura, ou a um comércio regularmente estabelecido, os habitantes da Vila da Vitória não são sujeitos aos mesmos revezes dos cavadores de ouro e não têm razão de abandonar sua terra natal. Eles têm o cuidado de bem preparar e embelezar suas casas. Um número considerável dentre elas tem um ou dois andares. Algumas de janelas com vidros, e de lindas varandas trabalhadas na Europa. A Vila da Vitória não tem cais [vide abaixo]; ora as casas se estendem até a baía, ora se vê, na praia, terreno sem construção que tem sido reservado para o embarque de mercadorias. Esta cidade é também privada de um outro gênero de ornamento: não possui, por assim dizer, nenhuma praça pública, posto que aquela existente defronte do palácio seja muito pequena e é com muita condescendência que se dá o nome de praça à encruzilhada enlameada” (SAINT-HILAIRE, Segunda Viagem, 95-6).

– “Em toda a Vila [da Vitória] se aporta em canoas, e escaleres com a maior facilidade; porém seus principais desembarques são o Cais Novo das Colunas, que fica abaixo da casa do governo, o do Azambuja, o Cais Grande, onde até atracam sumacas, o do Santíssimo, o do Batalha, e o dos extintos jesuítas, vulgarmente chamado Porto dos Padres” (F. A. RUBIM, Memórias para Servir).

(61) - PENA, História, 107.

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018

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