Casas antigas guardam histórias e mistérios (2ª parte)

Ele estava de costas, mas algo parecia vigiá-lo por trás. Janela bateu com o vento e o susto foi o bastante para o vigilante Wanderlício da Costa disparar em direção ao portão. “Às vezes fico angustiado pensando como a velha sofreu aqui, olho para o sótão e me dá arrepios”, fala. A mesma impressão de que, alguém a está vigiando persegue Jocimara da Silva Santos. Mas, o possível fantasma tem agora outro endereço: ladeira Wilson Freitas, número 300, antigo castelinho que pertence a outra tradicional família capixaba, os Neffa.
Na porta da antiga casa, grossos cadeados e um ranger que causa frio na espinha. As janelas estão caindo ou já nem existem mais. Escadas em caracol mostram caminhos tortuosos de histórias que se escondem atrás do mofo, teias de aranha, caminhos de cupins e morcegos. O cenário também é perfeito para um filme de terror e já não é mais habitado. Jocimara mora com o marido e mais duas famílias em um anexo da casa, que está conservado, com permissão da família Neffa. Ela e a cunhada, Ana Paula Botelho Pinheiro, contam que alguns dizem ver o vulto de um velho, antigo no local. Para Jocimara, pesadelo mesmo foi quando o marido, em uma brincadeira mais que sem graça, a trancou dentro de casa. “Quase desmaiei de medo”, revela.
Ao lado da casa dos Neffa, mais mistério e dúvidas. É a casa da família Vivacqua, onde mora o alemão Gunter Lemebke, que foi casado com uma das filhas do patriarca e hoje vive no local com o filho e a nova esposa. A imponente e sinistra casa ainda pode ser vista da Avenida Jerônimo Monteiro, em um caminho sinuoso que lembra aquelas casas de filmes de terror no topo da montanha. Gunter parece um homem exótico e não permite a entrada na casa porque cinco ferozes cães poderiam “estranhar” gente nova. O dono, que as vizinhas Jocimara e Ana Paula classificam como “estranho”, diz ter no preto velho sua proteção contra os “fantasmas”, misturando o ceticismo alemão e a crendice de umbanda e candomblé.
E parece que o mistério da antiga casa, que junto com o castelinho dos Neffa foi construída no início de século, continuará ainda por muitos anos indecifrável. Na placa de entrada diz: “cuidado com 310 cães”, E por mais que o aviso tenha se confundido com o número da residência, o visitante pressente que é preciso manter distância. Afianal, mesmo que o vulto seja de um cão bravio, fica difícil de controlar a imaginação humana.
Fonte: Jornal A GAZETA de 05/11/1999
Pesquisa: Casa da Memória do ES
Compilação: Walter de Aguiar Filho, agosto/2011
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>> Casas antigas guardam histórias e mistérios (1ª parte)
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