Censo e Recrutamento - Segunda metade do Século XVIII
Segundo documentação oficial, em 1774-75, a população do Espírito Santo era calculada em 7.773 almas. Os fogos subiam a 1.434.(41)
Ao fazer tal levantamento, visava a administração “saber a gente que se pode tirar de cada uma [freguesia] para o serviço de S. M. sem opressão dos povos”.(42)
Iniciado o recrutamento, imediatamente a Câmara de Vitória protestou, alegando que a capitania ficava “desprovida de homens para a sua guarnição e defeza dos ataques dos gentios”(43) e dos espanhóis, de cuja presença na ilha de S. Catarina chegaria notícia a Vitória em março de 1777.(44) Foi a única voz que se ergueu contra aquela providência, conforme resposta do governador.(45)
Desatendidos e censurados na Bahia, voltaram-se os capixabas para o Rio de Janeiro, onde obtiveram melhor êxito, ou seja, uma ordem do vice-rei para que fosse suspenso o recrutamento.(46)
Em 1776, a situação militar traria, novamente, ao Espírito Santo, “o Sargentomor Engenheiro José Antonio Caldas, com dois dos seus subalternos e alguns inferiores e soldados bons da Artilharia, para se reedificarem as Fortalezas da mesma Capital, levantar reclutas e instruil-os nas manobras da Artilharia e Infantaria, como tambem formar hum novo Terço de Auxiliares dos moradores, para estes pela melhor fórma possível defenderem aquella importante entrada, no caso de ser atacada”.(47)
No ano seguinte, a guarnição da capitania contava com cento e vinte e sete praças da Companhia de Infantaria paga(48) e “as fortalezas da Barra da Villa da Victoria não tinham a artilharia necessaria para a defesa e precisavam ser reforçadas, pelo menos, com vinte peças”.(49)
NOTAS
(46) - Ofício do Marquês de Lavradio, Vice-Rei do Brasil, para o Governador da Bahia, no qual se refere à importância do posto da Vila da Vitória da Capitania do Espírito Santo e à inconveniência de recrutar nesta Capitania soldados, que possam fazer falta para a sua defesa. Rio de Janeiro, trinta e um de outubro de 1775.
– “Ainda que a guerra se não acha athé agora declarada, he certo, que por ordem d’El-rei Meu Senhor, se devem guarnecer todos os portos, que se acharem no risco de serem acommetidos e como me consta que por ordem de V. Ex. se estão recrutando os Moradores da Villa da Victoria da Capitania do Espirito Santo, para serem remettidos para essa Cidade, me parece devo representar a V. Exa. que aquelle porto he hum dos mais importantes, donde deve haver toda a precisa deffensa e a maior cautela, não só pela vizinhança, em que se acha com as Minas do Castello e com a Capitania de Minas Geraes, porque tomado elle, ficam no risco de perderem-se aquelas Minas, por haver caminho franco da mesma Villa para ellas e por conseguinte todas as outras contiguas áquella Capitania, mas tão bem pelos continuos assaltos, que lhe dá o gentio bravo dos sertões, com que ella confina, que achando-a desprevenida e falta de gente, que lhe haja de resistir, pode causar-lhe hum grande damno e athé destruir-lhe tudo o que n’ella houver, por cuja causa tomei a resolução de ordenar ao Capitão mór da mesma Villa suspendesse por hora as reclutas, que n’ella se estão fazendo, athé segunda ordem de V. Ex., a quem escrevia sobre este particular, que ponho na presença de V. Exa. para dar as providencias, que lhe parecerem mais justas” (ALMEIDA, Inventário, II, 318-9).
– Parece, contudo, que, efetivamente, a Bahia recebeu reforço capixaba. É o que se infere do ofício que se lê em ALMEIDA (Inventário, II, 333): “Na Companhia da Capitania do Espirito Santo, que fiz logo marchar para aumentar o numero da guarnição [da Bahia]”. O grifo é nosso.
(47) - Ofício do Governador Manuel da Cunha Menezes para Martinho de Melo e Castro, no qual se refere ao recrutamento de soldados para completar os regimentos que estavam destacados no Rio de Janeiro e aos obstáculos que encontrara para recrutar cinqüenta praças na Capitania de Sergipe d’El-rei e que o obrigaram a recorrer de novo à do Espírito Santo. Bahia, quinze de abril de 1776 (apud ALMEIDA, Inventário, II, 318).
(48) - Relação dos gêneros precisos para se fardarem cento e vinte e sete praças da Companhia de Infantaria paga, que guarnece a Capitania do Espírito Santo. – Bahia, três de agosto de 1777 (apud ALMEIDA, Inventário, II, 380).
(49) - ALMEIDA, Inventário, II, 346.
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018
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