Chupa - Por Elmo Elton

Desdentado, tinha boca de chupa-ovo. Preto. Galanteador. Já era idoso quando o conheci, morando aos fundos da casa da, muito solicitada, parteira Dona Maria Augusta Mendes, nas proximidades do Colégio do Carmo. Vivia apregoando riquezas (quantas riquezas!), mormente entre os estudantes da cidade, que lhe faziam roda, crivando-o de perguntas jocosas. Dizia-se, além de grande banqueiro, dono de uma fonte de leite. "Mulher que bebesse desse leite ficava logo mais bela.” Era pai de dois filhos imaginários: - Maria da Glória, professora e pianista, e Roberto, este, a um só tempo, médico, engenheiro e advogado, detentor de vários diplomas da Sorbonne. Ambos gênios.
As moças, sobretudo as que lhe eram vizinhas, deixavam-no de cabeça inchada, às tontas, já que quase todas se confessavam "apaixonadíssimas" por ele, tanto que, não raro, escondidas por detrás das janelas, costumavam, à moda dos namoros antigos, atirar-lhe sempre alguma flor ou bilhetes, quando o viam, espreitando as casas, na calçada desta ou daquela rua. O velho se envaidecia com tais "demonstrações de amor", mas o certo é que nunca ficava sabendo qual a verdadeira identidade das "pretendentes", visto que estas, antes de lhe aparecer à janela, se pintavam exageradamente, mudavam de cara, colocavam perucas sob ridículos chapéus, afinavam a voz. Caso alguma se caracterizasse de velha, aí o pobre esfriava, mudava de assunto, alegando estórias de um breve casamento com moça rica da Praia Comprida.
No fundo do antigo palácio episcopal, hoje demolido, havia um terraço decorado com duas figuras femininas, em tamanho natural, talhadas em mármore, as quais eram vistas, mesmo de longe, pelos que moravam em determinada área da parte baixa da cidade. Inventaram, para uma dessas estátuas, o apelido de Dona Maria Pinguelina, que ficou sendo a noiva de Chupa. O pobre, muito ingênuo, mandava-lhe repetidos presentes, através de pessoas com quem residia, tais como garrafas de vinho Setúbal, o mais caro da praça, uvas moscatel e outros produtos importados. Nada chegava até o palácio episcopal, porque ditos oferecimentos ficavam em poder das mesmas pessoas que lhe estimulavam o estapafúrdio noivado.
Manoel Cabral, este seu nome, trazia ao pescoço um seboso cordão com patuás e, no paletó preto, de alpaca, ostentava, com garbo, diversas medalhas de santos, grandes e pequenas, quase todas de alumínio, além de presas à lapela, tampinhas de garrafas de cervejas, à guisa de crachás. Aborrecia se lhe chamavam Chupa, mas se envaidecia quando tratado de o Conde de Santa Fé. Perguntassem-lhe como conseguira o título de conde, respondia, enfático, ter sido Pio XI que assim o distinguira, por sabê-lo "descendente dos cristianíssimos reis que fizeram as Cruzadas, conforme documento que receberá do Vaticano". Otávio Paes, então o mais artista dos fotógrafos de Vitória, lhe tirou ótimos retratos, alguns estampados nas revistas Vida Capichaba e Chanaan.
Chupa faleceu em 1936 (ou 1937?).
Fonte: Velhos tempos e tipos populares de Vitória
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter de Aguiar Filho
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