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Confrontos de História – Por Levy Rocha

Primeiro Visconde de Araruama

Estudos geográficos e históricos da baixada fluminense constituem bom manancial para analogia com os da baixada capixaba. Daí, o apreço às obras de Alberto Lamego e Lamego Filho.

Na "Nova Edição da Memória Topográfica e Histórica sobre os Campos dos Goytacazes", com uma notícia breve de suas produções e comércio, oferecida ao muito alto e muito poderoso Rei D. João VI, por um natural do país, José Carneiro da Silva, 1º Visconde de Araruama — Rio de Janeiro, Impressão Régia, 1818", interessam-nos as referências à nossa Capitania.

A mencionada 2ª edição, vinda a lume em 1907, foi ampliada com novos acréscimos, pelo autor e pelo Barão de Monte do Cedro, mas, para conservar o cunho de vetustez do documento, conforme nota introdutória, não houve modificação na linguagem simples.

Queremos destacar — dizíamos — as referências ao Espírito Santo, que começam na definição dos limites divisórios, ao norte, com os Campos dos Goytacazes, pelo rio Cabapuana (Itabapoana). No capítulo em que enumera os pássaros e animais notáveis do País (País ao invés de região), informa o 1º Visconde de Araruama que a quantidade de aves, em processo contínuo de decréscimo, era de tal porte que muitas famílias tinham como diversão ir pelos campos a colher cestos de ovos dos bandos de milhares das diversas espécies plumárias. Cita a maior, o tuiuu, com dimensão de onze palmos e meio, medidos de uma ponta à outra das asas; a colhereira; as aves migradoras, bem como os animais silvestres; a onça pintada; a anta; os anfíbios, ressaltando o jacaré ururau, espécies que, naquela época, não seriam estranhas nas restingas capixabas e que se tornaram, hoje em dia, extintas nessa região e na espírito-santense.

Resumindo a história da Donataria da Paraíba do Sul e Cabo São Tomé, conhecida pelo nome de Campos dos Goytacazes, a qual se estendia por trinta léguas de costa, lembra o seu 1° Donatário, Pero de Góis, amigo de Vasco Coutinho e ressalta os esforços do filho e sucessor, Gil de Góis, no intento malogrado de povoar a Donataria "pela parte do norte, no lugar que então chamaram enseada dos Pargos, e hoje S. Catarina das Mós".

Lamego Filho corrige a distorção histórica, lembrando que a primeira fundação da Capitania de São Tomé (1538), estabeleceu-se nas proximidades da ponta do Retiro, junto à lagoa Doce, ao sul da barra de Itabapoana, onde ergueu-se a Vila-da-Rainha "cujas ruivas o mapa de Couto Reis, de 1785, designa sob o nome de Santa-Catarina-das-Amós". E, acrescenta: "Provém a confusão em torno dos dois nomes do fato de haver o 2° Donatário, Gil de Góis, filho do 1º, construído na mesma Capitania, porém na foz do rio Itapemirim, a vila de Santa Catarina, também destruída pelos índios". E, explica com maiores detalhes: "Ao nome falso das ruínas de Vila-da-Rainha, foi acrescentado "das Amós", por haverem sido ali achadas duas grandes mós, uma das quais pode ser vista hoje (ele escreveu em 1946), em frente à Prefeitura de São João da Barra. Essa mó é de arenito conchífero, mui grosseiro, e evidentemente inadequada, pela textura irregular e cavernosa, repleta de conchas frágeis e moluscus, para a moagem de qualquer espécie de grão. Parece, antes, ter tido uso em um jogo primitivo de moendas de canas."

O historiador fluminense estampou no seu livro: "O Homem e a Restinga", duas fotografias da mó que examinou, considerando-a "a mais antiga relíquia histórica do norte" do seu Estado. É pena que ela tenha sido levada para tão longe, encontrando-se, atualmente, no Museu do Açúcar, em Recife.

A dúvida suscitada na localização geográfica das duas vilas coloniais foi assunto também esmiuçado por Alberto Lamego, no 1º volume de "A Terra Goitacá" e o seu filho-historiador nos veio dar maiores elementos de elucidações: "A enseada ou Baixo-de-Pargos fica nas proximidades da foz do Itapemirim, e não ao sul do Itabapoana". É de sua opinião que as mós foram encontradas no ponto em que Pero de Góis elevou a Vila-da-Rainha. Ele invocou o testemunho de um antigo fazendeiro do local, Joaquim de Brito Machado, ex-prefeito de São João da Barra, o qual atestava a existência de ruínas na citada zona.

O Visconde de Araruama, em sua "Memória Topográfica" lembra a anexação dos Campos dos Goitacazes à Comarca da Capitania do Espírito Santo (1741); cita uma provisão de 1810, determinando que se remetesse para a Junta da Real Fazenda da mesma Capitania, todo o produto dos dízimos e novos direitos que se arrecadassem naqueles Campos, considerando a pequena renda da Junta referida: trinta e três contos de réis, mais ou menos. Ao citar os produtos da região campista, lembra o Visconde que o comércio importava, do Espírito Santo, panos de algodão; colchas e farinha de mandioca produzida em São Mateus.

 

Fonte: De Vasco Coutinho aos Contemporâneos
Autor: Levy Rocha,1977
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2015

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