Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

D. Francisco de Sousa experimenta as minas capixabas

Mestre Álvaro visto do Moreno

Dom Francisco de Sousa, o das Manhas, que governou o Brasil, pela primeira vez, no fim do século XVI, aqui esteve depois de outubro de 1598. Dirigia-se a São Paulo, mas, “por lhe dizerem que havia metais na serra de Mestre Álvaro e em outras partes, as tentou e mandou cavar e fazer ensaio, de que se tirou alguma prata. Também mandou que fossem às esmeraldas, a que da Bahia havia mandado por Diogo Martins Cão(57) e as tinha descobertas”.(58)

Informa Basílio Daemon que o governador foi em pessoa examinar algumas minas e que, entre os da sua comitiva, se contavam dois alemães – um engenheiro, de nome Geraldo, e um mineiro, Jaques.(59)

A primeiro de dezembro daquele ano, D. Francisco de Sousa ainda se encontrava na capitania.(60) Os operários especializados que o acompanhavam levantaram um pequeno forte de pedra e cal, destinado à defesa da entrada da vila, fornecendo o governador duas peças de artilharia.(61) Conseqüência, talvez, da visita que Olivier van Noord fez ao rio Doce, justamente nessa quadra do ano.(62)

 

NOTAS

(57) - Indicações para a sua biografia na História Geral, de Varnhagen, II, 104-5. Nota devida a Rodolfo Garcia.

(58) - VICENTE DO SALVADOR, Hist. Brasil, 380.

(59) - Prov. ES, 103.

– “À vila de São Paulo chegou D. Francisco de Sousa no ano de 1599, trazendo ... um mineiro alemão Jaques de Oalte e um engenheiro, também alemão, Giraldo Betink, vencendo cada um de ordenado 200$000 por ano” (Pedro Taques, Informação sobre as Minas de São Paulo e dos Sertões da sua Capitania desde o ano de 1597 até o presente de 1772, in R.I.H.G.B., LXIV, Parte 1ª,pag 7). – RODOLFO GARCIA comentou: “Os cognomes germânicos estão evidentemente estropiados” (Notas à HG, de VARNHAGEN, II, 101).

(60) - É daquela data a provisão em que determinava ao almoxarifado de Santos que fornecesse todo o necessário, inclusive dinheiro, ao capitão Diogo Aires Aguirre, que para ali seguia como seu enviado (de D. Francisco de Sousa), acompanhado de duzentos índios destinados à lavragem das minas de ouro em Santos (DAEMON, Prov. ES, 103). Ao que tudo indica, aqueles duzentos índios foram retirados do território capixaba.

– FELISBELO FREIRE afirma que a provisão é de dois de dezembro e que o enviado de Francisco de Sousa se chamava Diogo Dias de Aguirre (Hist. Territorial, 377-8).

(61) - VICENTE DO SALVADOR, Hist. Brasil, 380.

(62) - “Olivier van Noord foi o primeiro holandês a visitar as costas orientais do Brasil. Partindo em 1598, para uma viagem à volta do mundo, escalou, para fins de reabastecinlento, nesse mesmo ano, no Rio de Janeiro e no Rio Doce” (NETSCHER, Os Holandeses, 40).

– TAUNAY ensina: “foi Olivier van Noord o primeiro marítimo da nação batava que deu a volta ao globo” (Visitantes do Brasil, 19).

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2017

 

SOUSA, D. Francisco de (1540?-1611)

7º governador-geral do Brasil e governador da Repartição do Sul.

D. Francisco de Sousa nasceu por volta de 1540 e morreu, em São Paulo, em 1611. 

Era filho de D. Pedro de Sousa, conde do Prado e alcaide-mor de Beja, e de Violante Henriques, filha de Simão Freire de Andrade, senhor da Bobadela. 

Pertenceu ao Conselho do rei; esteve em Tânger com D. João de Meneses; acompanhou D. Sebastião a África, em 1578, como capitão de um dos galeões do seu tio D. Diogo de Sousa; foi ainda capitão-mor de Beja e comendador de Orelhão na Ordem de Cristo. Governou o Brasil por duas vezes, uma como governador-geral, entre 1591 e 1602, e outra como capitão-geral e superintendente das capitanias do Sul, entre 1608 e 1611. 

Nomeado governador-geral em finais de 1590, apenas chegou à Baía no ano seguinte, a 9 de Junho de 1591. Com ele viajaram Pedro Oliveira, sargento-mor, e Agostinho de Sotomaior, provedor das minas do Brasil. O rei D. Filipe II deu-lhe poderes para prover ofícios, militares ou civis, que vagassem no Brasil, para criar fidalgos e para distribuir alguns hábitos da Ordem de Cristo, deveria nomear também um ouvidor-geral para São Paulo. 

Durante o tempo em que foi governador-geral, um dos principais problemas da colónia continuou a ser a prática do corso e as trocas comerciais ilícitas com os europeus. Em vários pontos da costa brasileira, os Ingleses levaram a cabo numerosas devastações, as mais célebres comandadas por Tomás de Cavendish e James Lancaster. 

A capitania da Paraíba continuava com problemas de defesa, constantemente ameaçada pelos índios e Franceses. As desavenças entre as tropas portuguesas e espanholas punham em causa a continuidade desta colónia. 

Mais tarde, foram os Holandeses que ameaçaram a Baía, aquando da ausência do governador para as capitanias do Sul. 

A região do Rio Grande do Norte necessitava também de uma presença efectiva dos colonos portugueses. O governador tratou de arranjar uma força que se deslocou por terra e mar, que combateu os índios e os franceses. Derrotados os inimigos, iniciou a construção do forte dos Reis Magos e fundou a povoação de Natal. Para esta conquista impôs o tributo de um cruzado sobre cada caixa de açúcar e sobre os vinhos. 

Uma das medidas mais importantes que tomou para a defesa da colónia foi a fundição de alguns canhões. Em 9 de Novembro de 1607, Domingos Rodrigues foi nomeado fundidor-mor do Brasil. Tratou, também, de melhorar as fortificações do Recife e da Baía. 

Em relação às capitanias do sul, o governador decidiu visitá-las pessoalmente, onde acabou por se dedicar à questão da descoberta das minas e ao incremento da exploração das que já existiam. 

Um dos problemas nas regiões mineiras, nomeadamente em São Paulo, era a questão da escravatura dos índios. Os jesuítas impediam que os colonos se servissem da mão-de-obra autóctone que estava sob o seu amparo, o que motivou que os moradores paulistas se organizassem em bandeiras destinadas a capturar índios fora da jurisdição dos padres. Durante o seu governo intensificou-se o comércio com o rio da Prata, aberto já desde a época do governo interino do bispo da Baía e de Cristóvão de Barros. 

O governador trazia instruções para seguir com a descoberta das minas e tratar de tudo o que fosse necessário a Gabriel Soares de Sousa para levar a cabo o seu plano de exploração, que já antes havia apresentado no Reino. Prova evidente deste empenho da Coroa é a nomeação de um provedor das minas e o facto de terem seguido com ele, para o Brasil, um lapidário de esmeraldas e um feitor das minas de ferro. D. Francisco promoveu o desbravamento de sertões e expedições de pesquisa de metais preciosos no interior. 

Estava em Santos quando recebeu a notícia de que o seu sucessor tinha chegado à Baía, partindo directamente dali para a Europa. 

Por carta régia, a 2 de Janeiro de 1608, foi novamente nomeado para o governo do Brasil, mas desta vez das capitanias do Sul (S. Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro) que se desligaram, pela segunda vez, do governo da Baía. Recebeu ainda a superintendência das minas, os privilégios de Gabriel Soares de Sousa que se tinha proposto à exploração destas, o título de «grande» enquanto decorresse o seu governo, o direito de nomear alguns oficiais e uma guarda pessoal composta por vinte homens. 

Teve ainda a promessa do título de marquês, quando as minas começassem a ser exploradas, no primeiro lugar que povoasse, recebendo um quinto dos rendimentos, título que não chegou a gozar por ter morrido, a 11 de Junho de 1611, na vila de São Paulo. Sucedeu-lhe no governo das capitanias do Sul, o filho D. Luís de Sousa, que governou até a Coroa unificar de novo a administração do Brasil na pessoa de Gaspar de Sousa. 

Diz-se que morreu pobre, apesar de terem chegado à corte algumas reclamações de estar a servir os seus interesses próprios, tendo ficado conhecido por D. Francisco das Manhas. 

Bibliografia:
CAMPO BELO, Conde de, Governadores Gerais e Vice-Reis do Brasil, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1935; Dicionário de História da Colonização Portuguesa no Brasil, coord. Maraia Beatriz Niza da Silva, Lisboa, Verbo, 1994; Nova história da expansão portuguesa, dir. Joel Serrão e A. H. Oliveira Marques; vol.VI, O império luso-brasileiro:1520-1620, coord. Harold Jonhson e Maria Beatriz Nizza da Silva, Lisboa, Estampa, 1992; VARNHAGEN, Francisco Adolfo de, História Geral do Brasil: antes da sua separação e independência de Portugal, São Paulo, Ed. Melhoramentos, 4ªed., 1948; ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins, Nobreza de Portugal e do Brasil, Lisboa, ed. Enciclopédia, 1960-1989. 

Autor: Rita Domingues 

http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?printconceito=183



GALERIA:

📷
📷


História do ES

Penúria dos cofres públicos no ES, nos anos 20 do Século XIX

Penúria dos cofres públicos no ES, nos anos 20 do Século XIX

As rendas públicas caíram a ponto levar o governador a pedir ao Príncipe Regente licença para dispensar alguns serventuários

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo