Estrada de Contorno - Por Adelpho Monjardim
Nasceu a estrada de Contorno de feliz inspiração do prefeito Dr. Américo Poli Monjardim, para benefício da capital e das vastas propriedades daquela zona, isoladas de seu convívio. Era o seu acesso tão difícil como os ignotos sertões e consumia tempo igual ao de uma viagem a Colatina ou mais longe. A estrada resolveu o problema, integrando à coletividade vitoriense uma das suas melhores porções. Não são as únicas vantagens. A região, fertilíssima, possui esplêndidos sítios que estão suprindo a cidade de verduras, legumes, leite etc. A segunda foi o rápido desenvolvimento de toda a região, cifrado nas construções que se estão erguendo à margem da estrada, partindo de ambas as extremidades.
O projeto primitivo dava para a estrada a largura de cinco metros e assim foi iniciada em abril de 1939, sob orientação técnica do Dr. Laurentino Proença, diretor de Engenharia da Prefeitura Municipal de Vitória. Em tempo foi a largura aumentada para oito metros, que é a atual. Parte a estrada da estaca zero no cruzamento da estrada de Maruípe, ao lado do Quartel do Grupo de Artilharia Móvel da Costa, e atravessa trechos dos sítios: Maruípe, Maria Nunes do Amaral Pereira, Barreiros, José Nunes Monteiro, Godofredo do Amaral Pereira, Sidnei Pereira de Souza e terras de Francisco Xavier e Pedro Oliveira, até desembocar em Santo Antônio, na Praça Santos Dumont, junto ao Aeroporto.
Entre os quilômetros 6 e 7 passa junto à ilha das Calheiras ou Caieiras, hoje ligada a Vitória. Nesse povoado extremamente pitoresco habita um núcleo de pescadores e sobre pequena colina, à beira-mar, uma capelinha dedicada a Nossa Senhora da Conceição serve ao culto daquela boa e humilde gente. Junto à praia, também rua principal, ergue-se o velho chafariz mandado construir pelo barão de Monjardim, ainda no tempo do Império, cujo fornecimento d'água, interrompido há vinte e cinco anos, foi restabelecido no governo de Sua Excelência, Dr. Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, por ordem do prefeito Dr. Ceciliano Abel de Almeida, no dia 5 de setembro de 1948. Há de importante, no povoado, a fábrica de cal, propriedade da firma Miranda Sobrinho, a maior do Estado.
O trecho norte de Vitória era completamente desconhecido, pois apenas em alguns pontos era acessível por veredas transitáveis por pedestres e cavaleiros. Agora poderá ser percorrido por automóveis, desfrutando-se os mais variados panoramas, numa seqüência que a impressão é de se estar fora de Vitória. A estrada corre maior extensão no sentido norte-sul, e noroeste-sudeste pequeno trecho até alcançar Maruípe. Em todo o percurso as rampas máximas são de 8% e as curvas de raio nunca inferiores a cinqüenta metros, todas abauladas e providas de bueiros, cercas, valetas de proteção, banquetas, tudo, enfim, necessário a uma boa estrada. Do seu início até o quilômetro 3 avistam-se o povoado de Goiabeiras, o campo de aviação, a estrada da Serra e ao fundo o Mestre Alvo; de repente, atravessando-se um corte, descortina-se o inverso do panorama: Itanhenga, o mar, a mata e como pano de fundo as primeiras casas da ilha das Calheiras. Atravessam-se trechos em matas, em verdes pastagens, em cultivados pomares, em rocha bruta, em mangues, numa sucessão que aturde e encanta.
Para oeste a paisagem apresenta-se quase sempre plana e em alguns lugares movimentada, com minúsculos vales e belas formações rochosas que se estendem, em lençóis de rocha negra, sobre o tabuleiro de relvas. A leste a montanha continua e alguns cabeços formam elevações curiosas, agressivas, de beleza arrebatadora e selvagem. As cuidadas encostas são pastagens onde o gado campeia livremente. Há, numa delas, interessante gruta onde se fazem piqueniques e é desejo da Prefeitura dotá-la para tal fim; bem como prover a estrada de uma arborização condizente; de um chafariz em estilo colonial e de um relógio de sol.
Nas alturas da ilha das Calheiras, no cotovelo da estrada, alto paredão de pedra barra o caminho, obrigando-o a dilatada curva. Forma-o espetacular molhe de granito que é uma das pontas do morro do Cabral a cair sobre o Contorno. No paredão, a pique, os gravatás vicejam dando-lhe tinturas frescas ao semblante carrancudo e sombrio; aos seus pés, que se aprofundam na terra úmida e fofa, as piteiras de folhas largas apontam para o céu os finos estipes. No rebordo que se debruça para o abismo, profundos sulcos formam calhas por onde as águas da chuva se lançam a jorros, motivando a alcunha de pedra da Mijada. Junto, dentro da mata, fica o reservatório de água para Calheiras. Todo de pedra, hermeticamente fechado, é muito antigo, talvez colonial. Situa-se à entrada de uma lapa, sob a qual corre o regato que o alimenta. Forma-se a lapa de blocos rolados das encostas vizinhas e tem outra abertura pela parte superior, por onde árvores seculares deitam raízes e cipós até o manancial interior, captado pela Prefeitura. Por entre arredondados blocos de granito pode-se descer ao interior, o que não é aconselhável pelo risco que se corre de ser picado por alguma serpente, ali tão numerosas.
Distanciados, ao longo da estrada, três casarões se alinham. Bastante arruinados, ainda atestam a abastança dos antigos senhores. Habitados por gente humilde, gangrenados pelo tempo, vão-se desmembrando, lentamente, como três morféticos, até que restem as pedras secas dos alicerces. Pertenceu um deles ao antigo senhor do Santo Antônio, homem de largas posses e influência. Fala a lenda da existência de um subterrâneo em que, outrora, se homiziavam os salteadores do mar.
Não escapou ao plano diretor da cidade a importância da estrada de Contorno como elemento decorativo, de progresso e de harmonia no conjunto maravilhoso da ilha. Esta esplêndida via, terminada em 1943 e que se estende por treze quilômetros, em caprichosas curvas e prolongadas retas, custou aos cofres municipais a quantia de Cr$ 647.733,20, sendo inestimável o seu valor para a economia do município.
Fonte: Vitória Física, 1995
Autor: Adelpho Monjardim - Prêmio Cidade de Vitória, 1949
1ª Edição: Revista Canaan Editora, 1950
2ª Edição: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Vitória, 1995
Prefeito Municipal de Vitória: Paulo Hartung
Secretário Municipal de Cultura e Turismo: Jorge Alencar
Diretor do Departamento de Cultura: Luiz Cláudio Gobbi
Editor Executivo: Adilson Vilaça
Produtora Executiva: Silvia Helena Selvática
Projeto Gráfico: Ivan Alves
Editoração Eletrônica: Edson Maltez Heringer
Foto e Capa: Léo Bicalho
Revisão: Reinaldo Santos Neves
Chefe da Biblioteca Municipal Aldelpho Poli Monjardim: Ligia Maria Melo Nagato
Bibliotecárias: Elizete Terezinha Caser Rocha e Cybelle Maria Moreira Pinheiro
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2015
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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