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Fisco e comércio no Rio Doce – Silva Pontes

Capa do Livro: História do Estado do Espírito Santo, 1951 - José Teixeira de Oliveira

E assim se explica por que duas atitudes opostas tendiam ao mesmo fim: até então, o governo proibira a abertura de caminhos para evitar o extravio de ouro, agora de próprio tomava a iniciativa de estabelecera via de comunicação para poder, mais facilmente, policiar o tráfico de pedras e metais preciosos. Para tanto, instalou, no Espírito Santo, os quartéis deLorena, da Regência e do Sousa(8) – este onde “se termina a navegação fácildo oceano... comandado por um alferes de linha, um cadete, um cabo, edez soldados de linha; um cabo de pedestres(9) e vinte soldados; uma peça de artilharia de três, montada em carreta de ferro, municiada de pólvora, bala emetralha, o quartel defensado com estacada”.(10)

Duas finalidades eram atribuídas aos destacamentos militares: apoiaras exigências do fisco e assegurar um ambiente de garantia para o comércio direto entre Minas Gerais e a Europa(11) idéia generosa que Silva Pontesacalentava com otimismo, conforme tão eloqüentemente o atesta o auto dedemarcação.

Resta salientar que todo aquele aparato militar visava, preferentemente,a evitar as surpresas dos índios que habitavam a região.

O entusiasmo de Silva Pontes pelas possibilidades da navegação do Doce – o Nilo Brasiliense, conforme denominação de Francisco Manuel da Cunha(12) – levou-o a estudar o curso desse rio e seus afluentes e fazer-lhe o levantamentodesde a foz até a cachoeira das Escadinhas, “sendo esse o primeiro trabalhotopográfico que se executou na Capitania”.(13)

Logo ao regressar a Vitória, dando conta da missão ao governador daBahia, Silva Pontes escreveu, cheio de entusiasmo: “Só o distrito desta novaCapitania das cachoeiras para baixo do Rio Doce forma a mais bela provínciadas marítimas do Brasil”. (I)

 

NOTAS

(8) - “...fundou o quartel de Lorena dando-lhe este nome por deferência ao capitão general Bernardo José de Lorena; o do porto de Sousa, assim denominado em atenção aoministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, e na barra do Rio Doce o da Regência Augusta, emhonra e consideração ao príncipe regente” (RUBIM, Memórias, 263).

– Silva Pontes alude, também, ao destacamento de S. Fernando Portugal, silenciado por todos os memorialistas. Ver nota I deste capítulo.

(9) - O Corpo de Pedestres foi criado a quatro de abril de 1800 (RUBIM, Memórias,168).

(10) - Auto de demarcação de limites, in RIHGB, XIX, 193-4.

(11) - “Mais importante que todas estas novas vias de penetração do litoral para Minas,é a do Rio Doce. Ela ocupa seriamente a administração pública porque, geograficamente, é de fato pelo Espírito Santo, e não pelo Rio de Janeiro, a saída natural da Capitania. Contingências políticas e interesses fiscais, mais tarde o fato consumado, mantiveram até hoje o primitivo percurso aberto por Garcia Rodrigues. Mas a topografia, a praticabilidade e a menor distância apontam claramente para o vale do Rio Doce” (CAIO PRADO, Formação, 244).

(12) - Navegação, 4-7.

(13) - PENA, História, 89.

– VERÍSSIMO COSTA informa: “foi esta carta continuada por seu sobrinho [dele,Antônio Pires da Silva Pontes], o alferes Antônio Rodrigues Pereira Taborda, até as origensou cabeceiras, em Minas Gerais” (Viagens, 215). – DAEMON registrou “Antônio PereiraRodrigues de Taborda” (Prov. ES, 206).

– MISAEL PENA atribui a Silva Pontes a construção de “uma pequena estrada” queligaria entre si os diversos quartéis estabelecidos junto ao rio Doce (História, 89).

I  -

“A notícia de se achar V. Ex. incomodado na sua preciosa saúde foi o detrimentomaior, que experimentei na minha digressão às Escadinhas e como agora sei, que V. Ex.está restabelecido, vou com o maior prazer fazer presente a V. Ex., que estão fora todos osobstáculos da Barra do Rio Doce e das correntezas dele e que por mercê de Deus inda semcontar com um só efeito do precioso das Minas Gerais, só o distrito desta nova Capitania dascachoeiras para baixo do Rio Doce, forma a mais bela província das marítimas do Brasil.

O rio é majestoso, desde que passa as serras das ditas Escadinhas e tem de comum um terçode légua de largo, povoado à profusão de Ilhas, que não alagam pelas enchentes. A margem denorte é toda de terra levantada coberta de arvoredo de construções. A do sul de várzeas e tabuleirosfrescos. As árvores revestidas de trepadeiras, que fazem as mais pitorescas imagens da fecundidade.Os rios, que vêm ter ao Capital do Doce e o grande lago do Giparanã, tudo isto forma um tesourodaquelas riquezas, que não acabam enquanto durar o braço do homem. O Exmo. Sr. Bernardo JoséLorena (Governador de Minas Gerais), pelo seu notório patriotismo, pretendeu vir em pessoa, porém,por falta de saúde, mandou um tenente-coronel de cavalaria miliciana, com o qual ajustei, havendooV. Ex. por bem, a divisão pelo outeiro, que separa as águas do rio principal de Sousa ou Guandudas do Mainaçu. Tudo fiz com os pedestres, que levam a pistola pronta no correão e o remo nasmãos. Ficou destacamento forte e aprazível no Porto de Sousa e na boca mais boreal do Giparanã,que chamam Barra Seca está o de S. Fernando Portugal; e assim ficam defesos os extravios do ouroou diamantes, que tanto recomendam as instruções, que tive ordem de apresentar a V. Ex. e ter ocumpra-se delas. Assim tenho concluído a minha comissão.

A terra está defensada com trincheiras respeitáveis; a barra condada e reconhecida,assinados postos como se faz nas naus de S. A. R. a uma soma de homens, que tinham achadoo segredo de honrar-se com postos militares, para não servirem, nem nas milícias, nem nasordenanças; cada corpo destes fazia um estado maior e inútil ao real serviço. O Rio Doce de quese tinha informado a V. Ex. a impraticabilidade, se achou qual se tem achado, franco e bom; euma lancha, que lhe saltou vento à proa, encostou com 22 palmos de fundo e nem um só grãode farinha se molhou, e ela se lançou outra vez ao mar e aqui está recolhida a salvo. Só nãotenho podido evitar os assassinos, pela mistura ou mistifório das justiças do Rio de Janeiro emilitar da Bahia. Na minha ausência fugiram da cadeia horríveis criminosos de morte e roubos,que tinha feito apreender.” (Do ofício de SILVA PONTES para o governador da Bahia, dedezesseis de novembro de 1800, in ALMEIDA, Inventário, IV, 293-4).

– Lê-se em OLIVEIRA LIMA: “A canalização do Rio Doce e a franquia da Provínciade Minas Gerais ao comércio universal por essa via fluvial, pomposamente anunciadas pelogovernador do Espírito Santo, Eschwege as reduz ao seguinte: o governador carregara de salalgumas canoas que com extrema dificuldade subiram o Rio, sendo as canoas e a carga postasem terra vinte e três vezes a fim de contornar as cachoeiras, e sofrendo a gente da expediçãoos ferozes ataques dos botocudos. Chegadas as canoas a Minas, após mil perigos, vendeu-seo sal, carregou-se algum algodão e iniciou-se a jornada de regresso com os mesmos riscos, aoponto de ninguém mais se abalançar a semelhante cometimento, batizado solenemente deabertura da navegação para Minas Gerais” (Dom João VI, II, 789).

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, maio/2018

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