Francisco Alberto Rubim
Com o ouro escasseando em Minas, não havia mais motivo para se isolar a capitania do Espírito Santo. Porém, os efeitos desse isolamento não terminaram da noite para o dia. O governador da capitania, Antônio Pires da Silva Pontes, assina o Auto de Demarcação de Limites, em 1800, incentivado pela palavra do rei de Portugal. O soberano recomendava ao governo da capitania capixaba que se fizessem todos os esforços para traçar o maior número possível de estradas a fim de ligar o Espírito Santo a Minas Gerais. Nos planos do governador Silva Pontes, o potencial do Rio Doce seria amplamente explorado.
Um dos sucessores de Pontes, Francisco Alberto Rubim (governou de 1812 a 1819) resolveu investir no transporte por terra. Abriu um caminho ligando a baía de Vitória a Vila Rica (atual Ouro Preto). A estrada começou a ser feita em 1814 e só foi concluída seis anos depois. Seu trajeto era semelhante ao da atual BR 262. A estrada de Rubim possuía guarnições militares de três em três léguas para proteger os viajantes de salteadores e dos índios botocudos. A intenção era intensificar o comércio. A primeira boiada, vinda de Minas, chegou ao porto de Itacibá em julho de 1820.
A estrada não teve o sucesso esperado. O consumo de carne pela população de Vitória não justificava uma caminhada tão longa, nem os riscos enfrentados pelos tropeiros. Ao mesmo tempo, a venda do sal do mar capixaba para as cidades mineiras de Vila Rica e Mariana não era em grande volume. Assim, o transporte do produto não era regular. Diante desses fatores, a estrada foi perdendo importância e acabou sendo abandonada.
Apesar desse projeto fracassado, o governador Rubim se destacou por tirar Vitória de um certo marasmo. Combateu as epidemias, promovendo uma limpeza nas ruas, acabando com os terrenos alagadiços e dando o pontapé inicial nas obras do primeiro hospital, a Santa Casa de Misericórdia. Construiu pequenas calçadas na Cidade Baixa e fez reparos em igrejas, quartéis e fortes. Extremamente detalhista, Rubim torna obrigatória a limpeza e reparação das fachadas. A cidade lhe presta uma homenagem com o nome de Vila Rubim.
Dois estrangeiros ilustres documentam as mudanças promovidas por Alberto Rubim: o príncipe Maximiliano e o naturalista Auguste Saint Hilaire. O monarca viajava com um séquito de botânicos e desenhistas e aportou em Vitória em 1816. Produziu gravuras que hoje se mostram raras já que revelam como era a Ilha naquele tempo. Uma delas, chamada "Pedra de Jucutuquara" mostra uma Vitória repleta de matas. Já o francês Saint Hilaire foi minucioso em seus relatos: "As ruas são calçadas, porém, o são mal, tem pouca lagura, não oferecendo nenhuma regularidade. Entretanto, não se vêem aqui casas abandonadas, semi-abandonadas, como na maioria das cidades de Minas Gerais. Entregues à agricultura, ou a um comércio regularmente estabelecido, os habitantes da Vila da Vitória não são sujeitos aos mesmos reveses dos cavadores de ouro, e não têm razão de abandonar a sua terra natal. Eles têm o cuidado do bem preparar e embelezar suas casas. Um número considerável dentre elas tem um ou dois andares. Algumas de janela com vidros e lindas varandas, trabalhadas na Europa..."
Fonte: A GAZETA, encarte especial, Vitória 450 anos - 09/09/2001
Compilação: Walter de Aguiar Filho, julho/2012
GALERIA:
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