Praia de Piratininga e Forte São Francisco Xavier
Piratininga é termo de origem tupi que vem de pira, que significa peixe, e tininga, que significa seco. [Tibiriçá, 1989:145 e 168]
Após a chegada da nau Glória na enseada da Praínha, em 1535, Vasco Fernandes Coutinho tratou imediatamente da proteção e da subsistência dos homens que trouxera de Portugal.
Organizou a construção de um fortim na Praia de Piratininga, entre os morros do Moreno e da Ucharia, de onde avistava a abertura da barra na sua maior amplitude. Esse baluarte, bem mais tarde, daria lugar ao forte de São Francisco Xavier. Quanto a proteção da caravela, tudo indica que o local escolhido inicialmente tenha sido o fundo da enseada da Praínha, onde está hoje o pórtico da ladeira dos fiéis do convento, porque ali ela estaria próxima do primeiro acampamento, resguardada da vista de qualquer invasor e ao abrigo das eventuais procelas e ventanias que soprassem do nordeste. Mas o donatário não só cuidava da defesa, como também da construção das primeiras cabanas indispensáveis ao abrigo de todos os colonos.
No transcorrer dos meses, sucederam-se as dificuldades com os nativos e os trabalhos foram ficando cada vez mais lentos. O tédio e a angústia foram fazendo parte do cotidiano de todos. Com a mudança da sede da capitania para a ilha, tanto o primitivo forte como a pequena vila foram relegados ao abandono. O novo baluarte ficou sendo o forte de São João, construído de frente para o Penedo, no ponto mais estreito do canal, lugar ideal para aniquilar qualquer tentativa de invasão. Em 1702, por ordem Dom Rodrigues da Costa, governador da Bahia, novo baluarte foi construído, com muralha de pedra de cal, na pequena praia de Piratininga e o mais próximo possível do morro da Ucharia, na entrada da baía de Vitória, litoral norte de Vila Velha, provavelmente perto ou no mesmo local onde o donatário construíra a primeira defesa em paliçada.
No decorrer dos anos, referências, relatos e citações de historiadores, visitantes e autoridades o indicaram com os nomes de forte de São Francisco Xavier (nome original), São Francisco Xavier da Barra e forte de Piratininga.
No ano de 1767, o novo donatário, Francisco Gil de Araújo, achou conveniente impedir definitivamente a passagem das embarcações hostis. Para isso mandou reformar o forte e antes da conclusão da obra sofreu ataque de ingleses e holandeses. Já em 1726, quando mandou construir cinco fortalezas no Espírito Santo, o conde de Sabugosa mandou reedificá-lo e reaparelhá-lo com quinze peças de artilharia. Renascia o forte com o nome de São Francisco da Barra, com a mesma planta na forma circular que apresenta hoje.
Em 1851, foi criado o Terceiro Batalhão de Caçadores, como parte do Qüinquagésimo Batalhão de Caçadores da Bahia. Em 1917, o Terceiro Batalhão foi transferido para o Espírito Santo com o nome de Meio Batalhão e ficou provisoriamente instalado no hotel de João Nava, à rua Vasco Coutinho, no centro de Vila Velha. A 10 de novembro de 1919 instalou-se definitivamente nas dependências que acabaram de ser construídas, ao lado do forte de são Francisco Xavier da Barra, na praia de Piratininga.
Em 1862, o antigo forte foi cedido ao Ministério da Marinha, que o usou como depósito e, logo em seguida, como sede da Companhia de Aprendizes-marinheiros, que foi extinta em 1866. Em 1909 foi ela reorganizada, sendo novamente extinta em 1913.
Pela nova organização do exército, em 1964, deixou de ser o Terceiro Batalhão de Caçadores para fazer parte do Trigésimo Oitavo Batalhão de Infantaria, tropa única, sediada no estado do Espírito Santo. O Trigésimo Batalhão de Infantaria desde 1851 inscreve nas páginas da nossa história as gloriosas e decisivas presenças que enriquecem as nossas tradições. Participou da guerra da Tríplice Aliança, de 1865 a 1879, e da batalha de Tuiuti, a 24 de maio de 1866. Sob o comando do major Antônio Tibúrcio, participou de várias batalhas na guerra do Paraguai. Esteve presente na campanha de Canudos, na perseguição da Coluna Prestes, em 1926, na Revolução Constitucionalista, de 1930 a 1932, e na guerrilha do Caparão, em 1967. Participou ainda da Segunda Guerra Mundial, quando tombaram nos campos da Itália, bravos combatentes capixabas. O antigo forte foi adaptado há poucos anos para instalação da Casa do Comando do Batalhão Tibúrcio e atualmente foi transformado em museu militar da região e hotel de trânsito para oficiais militares.
Depois dos memoráveis feitos, o Terceiro Batalhão de Caçadores e o Trigésimo Oitavo Batalhão de Infantaria tingiram as páginas da história da nossa cidade com as tintas sombrias das atrocidades cometidas pela ditadura militar, iniciada no ano de 1964. Nesses vinte anos de recesso do regime democrático, dos 707 processos políticos arquivados no Superior Tribunal Militar, em Brasília, deflagrados contra a nação a partir do Ato Institucional nº 5 (AI -5), seis deles são do Espírito Santo, mais precisamente de Vila Velha, com o seguinte registro: 46 denúncias de torturas consumadas no antigo Terceiro Oitavo Batalhão de Caçadores e outras 13, no antigo Trigésimo Oitavo Batalhão de Infantaria, todas no ano de 1972. [Wright, 1998]
Por outro lado, não se pode deixar de ressaltar a relevância do momento em que o Exército Brasileiro sediou o Meio Batalhão no antigo forte São Francisco Xavier. A pequena cidade parecia ter saído da narcose colonial, sendo despertada pelo sopro da renovação trazido pela constante atividade dos soldados cruzando as ruas. Os períodos de recrutamento, os jovens vindos do interior e dos estados vizinhos, as atividades militares, a banda, o rufar dos tambores, os hinos, os exercícios, os namoros, as participações e as integrações da vida civil com a militar. O comércio tomou vida nova, os ofícios e as diversas atividades ressurgiram e a cidade revigorou-se. Pode-se afirmar que Vila Velha teve o seu desenvolvimento marcado por dois tempos: antes e depois da chegado do exército.
Fonte: Vila Velha – Onde começou o Estado do Espírito Santo - Fragmentos de uma História
Autor: Jair Santos – 1999
Compilação: Walter de Aguiar Filho, outubro/2012
GALERIA:
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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