Golpe de Estado de 3-11-1891
Junta Governativa – Iniciava o barão de Monjardim seu período de governo justamente quando, no cenário federal, crescia a incompatibilidade entre o marechal Deodoro da Fonseca e o Congresso Nacional. Ao golpe de três de novembro, desferido por aquele contra este, Monjardim reagiu como a quase unanimidade dos governadores estaduais: hipotecando apoio entusiástico ao presidente da República.(10) Com tal gesto selou o destino do seu governo.
A subida de Floriano Peixoto ao poder e a orientação política dos seus primeiros atos infundiram ânimo aos membros do Partido Construtor para um assalto ao poder.(11) E foi o que fizeram na noite de trinta de novembro, quando “alguns populares penetraram violentamente” no Palácio, “visando intimar o velho titular a renunciar o poder”.(12) Este, porém, na véspera, passara o governo ao vice-presidente Antônio Aguirre, então igualmente considerado deposto.
Nos primeiros dias de dezembro chegou a Vitória o deputado Inocêncio Serzedelo Correia – encarregado, por Floriano Peixoto, de observar a situação do Estado e encaminhar entendimentos no sentido de normalizá-la.
Dando conta de sua comissão ao chefe do Executivo federal, informava Serzedelo Correia, em telegrama de oito daquele mês, ter conferenciado com Aguirre, a quem dissera não merecerem a confiança do governo federal os governadores que haviam prestigiado o golpe de Estado. No mesmo despacho, referia-se a um conflito havido em Guandu(13) e terminava peremptório: “Com estes homens não poderemos governar”.(14)
Era o fim. A oposição bem o compreendeu e cuidou de organizar a Junta Governativa, constituída pelo coronel Inácio Henrique de Gouveia,(15) Graciano dos Santos Neves e Galdino Teixeira Lins de Barros Loreto. No dia dezoito, por intermédio de uma delegação pacificadora, a Junta procurou, em Palácio, o governador, aconselhando-o a que lhe entregasse o cargo. Não encontrando apoio no 32.º Batalhão de Infantaria, Antônio Aguirre, no dia seguinte, sob pressão popular, abandonou o governo, que passou a ser exercido pela Junta.(16)
NOTAS
(10) - No telegrama endereçado por Monjardim ao barão de Lucena datado de cinco de novembro, apresentava o governador felicitações ao ministro “pela completa paz e tranqüilidade que reinam em toda a República, o que bem demonstra o acerto da medida tomada, e o assentimento e franco apoio que lhe dá a opinião pública” (Apud NORONHA SANTOS, Floriano, 204).
(11) - A vinte e quatro de novembro de 1891, o coronel Inácio Henrique de Gouveia, comandante do 32.º Batalhão de Infantaria, dirigiu ao marechal Floriano Peixoto o seguinte telegrama: “Consta Partido Construtor pretende depor governador. Que atitude devo tomar? Peço resposta urgente” (Apud NORONHA SANTOS, Floriano, 278). Assevera NORONHA SANTOS que, “em resposta, ordenou o marechal Floriano que aquele comandante prestigiasse as autoridades legalmente constituídas”. E acrescenta: “Como pôr em prática o comandante do 32.º essa determinação – se a todo momento chegavam à Vitória notícias de atos de irreprimível insubordinação a essas ‘autoridades legalmente constituídas’”? (Op. cit., 204).
(12) - NORONHA SANTOS, Floriano, 205.
– Adelfo Monjardim informa: “Após a renúncia, o barão de Monjardim formou o Partido Autonomista. Querendo dar uma idéia do que foi a agitação durante os primeiros governos republicanos no Espírito Santo, José Cândido salientou que, em 1890 e 91, passaram pelo Governo do Estado onze pessoas...”
(13) - O Estado do Espírito Santo, de dezoito de dezembro de 1891, informava que nos municípios de Calçado, Alegre, Rio Pardo, Linhares, Itabapoana, Santa Cruz, Espírito Santo do Rio Pardo e outros, haviam sido depostos os partidários de Monjardim.
(14) - Telegrama reservado de Serzedelo Correia ao tenente-coronel Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão, secretário do presidente da República (Apud NORONHA SANTOS, Floriano, 279).
(15) - O coronel Inácio de Gouveia – que, na ocasião, se encontrava na Capital federal – foi substituído, interinamente, pelo alferes Edgardo Eurico Daemon, aclamado pelos seus colegas do 32.º B. I. para integrar a Junta. Com o regresso do coronel Inácio Gouveia a Vitória, Edgardo Daemon entregou-lhe o cargo, fato que se verificou a vinte e seis de dezembro de 1891. O 32.º B. I. foi organizado ao tempo do governo Afonso Cláudio pelo coronel Joaquim Fernandes de Andrade Silva e major Silvestre Rodrigues Travassos. Este último esteve em evidência em 1904, quando, juntamente com Lauro Sodré, insuflou o motim da Escola Militar do Rio de Janeiro.
(16) - No dia dezenove, pela manhã, foi distribuído o seguinte convite à população de Vitória: “Convida-se aos republicanos e em geral ao povo espírito-santense para uma demonstração de sinceridade republicana, um grande meeting de protesto contra o sebastianismo renitente e ousado que já se atreve a conspirar na capital federal e nos Estados. Esse meeting de alevantado patriotismo realiza-se às [?] horas da manhã, em frente ao palacete do Dr. Moniz Freire. Vitória, dezenove de dezembro de 1891.”
Durante o comício, falou o Dr. Torquato Rosa Moreira que, concluindo, concitou o povo a depor o governo. A assistência aclamou, então, a Junta constituída e, em seguida, deputou uma comissão para ir a Palácio intimar Antônio Aguirre – que no dia anterior recebera o governo do barão de Monjardim – “a se considerar deposto pelo voto da soberania popular”. Enquanto a comissão se desincumbia de sua tarefa, a Junta oficiou ao comandante do 32.º B. I. participando o ocorrido. Aguirre não atendeu à intimação. O povo – ciente de tal atitude – dirigiu-se ao Palácio, onde penetrou sem encontrar resistência, pois já o tinham abandonado (O Estado do Espírito Santo, vinte e dois de dezembro de 1891).
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, setembro/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
Ver ArtigoA obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro
Ver ArtigoPara prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda
Ver ArtigoNo final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações
Ver ArtigoO nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto...
Ver Artigo