Imigrantes deixaram portugueses para trás
Apesar de achar que são necessários "ainda uns bons quatro anos de pesquisa para encontrar corretamente o biotipo capixaba", o professor, historiador e escritor Renato Pacheco, nessa entrevista, antecipa algumas conclusões a que chegou a partir de fatos por ele pesquisados, avalia outros e traça perfis que muito vão ajudar nessa busca do conteúdo do capixaba. Sua participação nesse esforço para definir o biotipo capixaba cresce de importância por tratar-se do mais importante pesquisador da história do Espírito Santo. Um historiador que não se furta às minúcias. É ele quem mostra, com absoluta clareza, a ascensão do que se convencionou chamar de europeu (italianos, alemães, suíços, austríacos, pomeranos, holandeses, tiroleses, belgas) na economia e na cultura do Estado, a ponto de predominar, numa mistura, na formação do capixaba.
A Tribuna — Dr. Renato, os índios foram massacrados, os negros discriminados, os lusos os discriminavam e depois os imigrantes europeus. Como o senhor vê essa situação?
Renato Pacheco — Vamos começar pelos índios. Eles viviam em territórios diferentes, tinham culturas diferentes, como é o caso, por exemplo, dos tupis e dos botocudos. Os botocudos dominavam o Norte e os tupis o Sul. Eles bem que tentaram vencer a luta contra o branco invasor. Em Vitória, eles se homiziaram todos, depois de atacados, nos manguezais aqui da Ufes. Ainda hoje se encontram ali os tambaquis estudados pelo professor Celso Perota. Os índios que se adaptaram acabaram se acaboclando. É um biotipo que vamos encontrar no nosso litoral. Encontramos inúmeros pescadores que revelam sua condição de índio. São índios que, com suas redes e canoas, continuam vivendo no mesmo sistema do século XVI.
— E com relação ao africano, o que senhor tem a nos dizer?
— Nós nunca tivemos uma população muito grande de africanos, principalmente em Vitória, onde muita gente pensa que havia uma forte presença deles. Havia negros em São Mateus e nas fazendas escravocratas do Sul. Eles se misturavam com brancos, formando um contingente razoável de pardos.
— Com relação aos lusos, nos referindo ao início da colonização, eram numerosos?
— Também não foi um número muito grande. Não passaram de 30 a 40 mil no período colonial e imperial. Mas eram os que mandavam. Tanto que os governantes — e vamos encontrar entre eles os Tovar, os Silva Pontes, os Rubim — eram todos brancos, portugueses. O clero também. Padre Marcelino, padre Afonso Siqueira, etc. eram formados em Coimbra e vinham para o Espírito Santo exercer a sua função religiosa. E as fazendas eram de brancos, luso-brasileiros. Não havia fazendas de negros e muito menos de índios. Esse povo era de paulistas, fluminenses e mineiros, principalmente. Vieram em busca de terras nobres para plantar café. É uma cultura que sempre exigia mais terra. Para Guaçuí, por exemplo, foram fazendeiros paulistas insatisfeitos com a Revolução de 1842. Era os Ferraz, os Lacerda, os Aguiar, os Lacerda de Aguiar (deu o governador Francisco Lacerda de Aguiar). Mas são luso-brasileiros.
— Os lusos não eram muitos mas dominaram o Estado, principalmente no período colonial. E se formos considerar sua presença por causa de atividades comerciais, então vamos ver esse total domínio...
— Pode pegar todos os comerciantes de café, Oliveira Santos, A. Pedro, etc. Os bares, as padarias... Os bares então eram todos dominados pelos portugueses. Seu Laurindo, no Avenida, seu Manoel, no bar e café Estrela, funcionava também outro português, seu Ribeiro. Um português curiosíssimo. Ele recitava versos de Camões e Bocage. Eles dominavam o Estado, inclusive os governos do Estado. Você pode lembrar que Carlos Lindenberg era descendente de alemão, mas ele era também Monteiro. Portanto, português. Ele foi político porque era Monteiro. Tinha linhagem portuguesa. Assim também é o caso de Arthur Carlos Gerhardt. Ele é filho de Otaviano Santos, prefeito de Domingos Martins. O primeiro descendente de italiano a entrar no governo foi Henrique Pretti como vice-governador e como governador, algum tempo depois, o Gerson Camata. Acontecimento dos nossos dias porque anteriormente somente os lusos tinham acesso ao poder. O caso de Florentino Avidos, um mulato, parece uma exceção, mas tratava-se, de qualquer modo, de um membro da elite. Ele era engenheiro e casou-se com uma Monteiro. Seu pai era proprietário de fazenda escravocrata no Rio de Janeiro. Quem fazia Direito, Engenharia e Medicina, até, a década de 30, eram somente os brancos, ou seja, a elite. Depois é que entraram nesses cursos os representantes de outras etnias. Por exemplo, durante a guerra, os sírios começaram a dominar o mercado negro (mercadorias proibidas e vendas racionadas por causa da guerra). Eles passaram a dominar o comércio a partir de 40.
— Voltando aos brancos, os chamados lusos, como eles se portavam na miscigenação local?
— Eles se intercasaram, assim como também ocorreu com os sírios. Os árabes não gostavam de casamentos fora da sua etnia. Eram raros os casos como ocorreu com José Pedro Habodib. Ele casou com uma lusa-brasileira que era filha de Dr. José Horácio Costa. Alexandrina Costa. Mas eram exceções tanto para os lusos como para os árabes, principalmente para esses últimos.
— E quando começa a mistura com o biotipo europeu, que ingressa no Espírito Santo em meados do século passado, mas com mais intensidade próximo à passagem do século XX?
— Minha sogra era Avancini (italiano) e meu sogro Bomfim (português), mas o lado português não queria esse casamento. Eles ficavam namorando separados pelo rio Timbuí, um em cada margem do rio. Acabaram se casando e foram felizes. Tiveram uma prole grande. Homero Laureano do Bomfim era um santeiro baiano. Fez santos pelo Espírito Santo inteiro. Em Nova Almeida, nasceu o meu sogro que era chamado de Casusa Bomfim. Ele aplicou o emblema da monarquia numa banheira de bronze preparada especialmente para a visita de D. Pedro II ao Espírito Santo.
— Os lusos se misturaram muito pouco. Veja que ele discriminou também o europeu...
— Misturaram, sim. De certa forma, contribuíram para os pardos e caboclos. É bem verdade que os tinham como uma segunda família. Em São Mateus, por exemplo, havia os Rios brancos e os Rios pretos. Os Rios tinham uma família com uma lusa e outra com uma negra. É bom observar que o que desejava o português era ganhar dinheiro no Brasil e voltar para a sua terra. Já os espanhóis vinham para a América para ficar e criar o seu império. Por isso, eles traziam as plantas das cidades que iriam fundar. Com sua universidade, sua igreja e uma forma de casa para ficar mesmo. O português, não. As cidades foram construídas como cogumelos, ao léu da sorte. Uma casa junto da outra. Não existiam as praças, tão comuns nos países da América colonizada por espanhóis. Os espanhóis tinham a idéia de um império colonial. Já os portugueses tinham a pressa de tirar o que podiam de nossas riquezas: ouro, as esmeraldas. Mas é claro que não conseguiram isso. Foram ficando aqui no comércio e nas suas fazendas escravocratas.
— Quando surgem no comércio os europeus, principalmente os italianos?
— O comércio de café, por exemplo, a princípio, ficava todo nas mãos dos portugueses. Nesse setor, foram absolutos até a existência do DNC (Departamento Nacional de Café). Regulamentada sua comercialização, os portugueses, inadaptados, foram deixando o setor e sendo substituídos pelos italianos, que se adaptaram aos regulamentos, à burocracia, uma coisa com a qual o português não se acostumava. Daí surgiram, depois da Segunda Guerra Mundial, os Coser, Tápias, etc. Mil novecentos e cinqüenta, então, é o divisor de água. Com o fim da guerra, portugueses cedem em definitivo o espaço para os italianos.
— O senhor fala que essa mudança ocorreu em Vitória só ou no Estado todo?
— Antes de 50, Vitória era rival de Cachoeiro de Itapemirim. Mas depois de 50 distanciou-se de Cachoeiro, que se tornou rival de Colatina. Quando faço essa referência é evidente que Vitória já era centro comercial e econômico do Estado. Antes de 50, a chamada classe alta quem era? Eram os Guimarães, os Oliveira Santos, etc. Chegam depois os europeus, principalmente os italianos. A princípio para estudar, sua terceira geração, depois para tomar a dianteira do comércio. E finalmente em todos os sentidos: econômico, cultural, em tudo.
— Chegamos a um ponto que gostaríamos de aprofundar, pois achamos que, a partir dessa data, começamos a descortinar o biotipo capixaba. Não é verdade?
— O Gueerd Banks, antropólogo holandês, tem um estudo chamado Caçando com Gato, que se refere a italianos que saíram da zona rural e mudaram-se para Vila Velha, ocupando as mais diferentes profissões, ou seja, de pedreiro, passando por sapateiro, a marceneiro. No entanto, hoje, os seus filhos são os engenheiros da cidade, médicos também. Uma fusão que vai criar o capixaba, muito embora o cronista José Carlos de Oliveira tenha dito que o capixaba é, antes de tudo, um fraco. Mas não é verdade. O capixaba é, antes de tudo, um forte. Pois ele está se criando à luz de várias culturas e isso com muito pouco preconceito. O brasileiro tem preconceito racial? Tem. O capixaba tem preconceito racial? Tem. Mas é muito menor do que na maior parte do mundo.
— No Espírito Santo, o biotipo é bem diferente do biotipo que se formou em outros estados brasileiros. Ele é uma mistura do italiano com outras raças européias.
— Exato. Ele não se misturou com o luso-brasileiro. Este ao mesmo tempo em que discriminava negros, também o fazia com os europeus que chegaram depois para criar as nossas pequenas propriedades - a família-padrão - formada por braços familiares. Eram sub-raça para esses lusos, principalmente os de origem alemã. Além da fala mais reservada, não era neolatino o idioma deles, os alemães tinham também a igreja mais reservada, que era luterana. E a seleção da sua imigração não foi muito rigorosa. Vieram entre eles até mendigos. Grande parte deles eram de condados, reisados, quando se trata dos que vieram dos territórios alemães, holandeses, austríacos. O que não ocorreu com os italianos. Já os ingleses que foram para Piúma e os americanos que se estabeleceram em Linhares, desapareceram. Os italianos, no entanto, cresceram, expandiram-se, assim como as demais etnias européias, e tomaram conta do Espírito Santo.
— É incrível isso. Como o capixaba tomou uma formação atípica tratando-se de Brasil...
— Dizem que eles eram pobres, mas eram pobres apenas economicamente. Culturalmente eram riquíssimos. Tinham uma cultura de três, quatro mil anos. Os Trentinos... Ali era região de tropas desde Júlio César, desde Aníbal. Depois Napoleão. Séculos e mais séculos. É gente que acostumou-se a criar estratégias novas para sobreviver, como fizeram no Brasil. Chegaram ao ponto de adaptar-se ao trópico. O importante para eles era viver. Viviam supereconomicamente, o que, aliás, ocorre até os dias atuais ainda em determinadas regiões do Estado. Os pomeranos são um exemplo. Educar os filhos sempre foi uma preocupação deles. O que não ocorria com os lusos, cuja decadência se deve ao fato de os filhos não terem tido um prosseguimento educacional. Os que tinham eram bacharéis em Direito para efeito puramente retórico. Mas os estudos relativos à Medicina e Engenharia, que levam ao progresso no sentido contemporâneo, ficaram nas mãos de outros. O primeiro engenheiro importante do Estado foi Luiz Derenzi, filho de italianos, cujo pai carregava carrocinha de burro para aterrar o Parque Moscoso. O Vicente Caetano foi um dos primeiros bacharéis de origem italiana. Veja o interesse dele de ascender socialmente pelo estudo, na área que estava se abrindo no Estado.
— Interessante, quando se trata desses europeus, é a acomodação cultural que ocorreu em suas regiões de influência. Por exemplo, o holandês, que fala o dialeto do Sul do seu país, para ajustar-se foi obrigado a falar o pomerano, por ser o dialeto dominante, o alemão, por causa da Igreja, e o português. Isso ocorre também com as demais etnias que vieram para o Espírito Santo. Veja, portanto, que, em qualquer região montanhosa do Espírito Santo, o indivíduo, com escolaridade ou sem escolaridade, fala quatro dialetos. É um poliglota.
— Oitenta por cento da riqueza capixaba estão nas mãos deles. Principalmente do ítalo-capixaba. Quem são hoje as grandes empresas no Espírito Santo? Dadalto, Camilo Cola, Coser, etc. Isso não é mal. Ao contrário. É sinal que eles tinham uma visão empresarial que adaptou-se às nossas circunstâncias. Qual é o processo cultural deles? É um processo constante de adaptação às situações vigentes. Pode-se dizer que o Espírito Santo é um Estado de colonização européia. Mas com bolsões étnicos. Eu diria que o litoral capixaba é afro-caboclo, de presença negra com hábitos indígenas, embora seja muito difícil dizer o que é afro e o que é índio. Ao longo de 400 anos, os hábitos foram se tornando brasileiros e, no nosso caso, capixabas. O alemão adaptou-se, como todos os demais, à mandioca, um alimento eminentemente indígena. Enquanto os outros tratavam da mandioca com faca, ele inventou um ralador tocado por água.
— Dr. Renato, vamos fazer uma pausa retornando aos lusos, com o intuito de esclarecer melhor sua existência no Espírito Santo, levando em consideração que eles foram, durante muitos anos, a nossa elite, quer dizer, a elite que antecedeu à atual elite composta de oriundos europeus que procederam da região de montanhas do Estado.
— Veja como era a sua influência no século XIX, por exemplo, situando-os pela Serra, vizinho município de Vitória. A Serra era considerada a Atenas capixaba. Reunia a intelectualidade lusa. Havia os Castelo, os Rosa, os Barbosa, os Nunes, os Leão... Muitos padres importantes na história do Estado saíram de lá. Padre João Clímaco, monsenhor Luiz Cláudio. Os Barbosa, Kosiusko e Aristóbulo foram estudar em seminários. Era uma cidade boca de sertão. Era longe de Vitória. Você ia para a Serra ou a cavalo ou de barco. Um dia inteiro de viagem, subindo o Santa Maria e parando em Queimado. Aí eles revendiam os produtos aos proprietários rurais de Timbuí, Guarani, daquela área toda já de italianos. Servia a eles de entreposto comercial. Interessante é que eles, por essa época, eram isolados. Esse isolamento fazia com que tivessem até um linguajar diferente. Além disso, eles eram conhecidos pelo maquiavelismo político. Destacaram-se na vida política do Estado. Eram lusos que se empenhavam para que os filhos estudassem, o que faziam até com as filhas. Diferente, portanto, dos demais lusos. Judith Leão Castelo foi a primeira mulher capixaba a se tornar catedrática da Escola Normal. Foi também a primeira deputada estadual e fez parte da Academia Espiritossantense de Letras. Ela é um produto dessa mentalidade lusa-serrana de fazer com que seus filhos estudassem para que o domínio também fosse cultural.
— Por que os lusos não sobreviveram como fazendeiros?
— Eles foram administradores e, como tal, produziram muito. Diferente dos europeus que trabalhavam a terra diretamente. Mas o trabalho era feito pelas mãos escravas. Formaram fortunas. A fortuna dos Areia, dos Lima, em Cachoeiro de Itapemirim. Os vestígios dessa riqueza ainda se percebe nos casarões que existem no Sul do Estado. O que é a fazenda do Centro? É um prédio luso-brasileiro. Ele é enorme. Com suas numerosas janelas, é uma beleza de prédio. Eles tiveram sucesso do seu ponto de vista, que era sugar ao máximo as nossas riquezas. Acabou o ouro, eles saíram de lá e foram para Itapemirim para cortar cana. A função lusa não era de fixar-se ao lugar. Ela era mais predatória. Por ocasião da queima do café, nos anos 30, milhares de capixabas foram para o Rio de Janeiro e outro tanto para Londrina, no Paraná. Foram os luso-capixabas que saíram. É resultado certamente da influência deles ainda. A lavoura do café significou sempre a escravidão. Escravidão por ocasião das fazendas lusas. Depois, regime de semi-escravidão com os meeiros. E agora escravidão com os bóias-frias. Vale esse comentário para não nos iludirmos muito com a relação de trabalho na agricultura.
— O que houve entre a transição do luso (que nós não estamos tratando aqui como europeu para estabelecer uma diferença com relação às demais etnias que depois vieram do velho continente) e os outros europeus vindos das regiões montanhosas?
— O capixaba foi, durante algum tempo, um carioca frustrado, sobretudo culturalmente. Atrapalhou muito o Espírito Santo porque os modelos eram sempre do Rio de Janeiro. A burguesia européia que substitui a lusa no Espírito Santo era muito mais sofisticada. Aliás, falando sobre a lusa, veja que eles transportaram Lisboa para cá. Lá não existia esgoto, eles repetiram aqui. Todos os hábitos portugueses foram transportados para cá. Fomos herdeiros deles. A burguesia rural nasceu aqui com os europeus. Foram os Vervloet, os Muller, etc. Era um novo padrão. Os padrões portugueses permaneceram estáticos. Somos hoje um melê cultural e isso é bom. Foi esse melê que originou o capixaba. Deu-lhe formato final. É essa mistura de italianos e outras raças européias que vai fazer o capixaba.
— Como foi a perda da hegemonia dos lusos no Espírito Santo?
— A perda de sua hegemonia pode ser considerada também pelo pequeno número que eram. Não terem também se adaptado a uma nova modalidade, ocorrida no Brasil por ocasião da década de 30. Vítimas sobretudo da agressividade e competência dos netos de imigrantes europeus. Muitos começaram como simples empregados dos portugueses e depois tornaram-se seus patrões. O Coser, por exemplo, foi empregado do Ferreira. Ferreira era um exportador de café luso. Ao longo de 10 anos as posições se inverteram. Os portugueses não eram muitos, a importância do Estado cresceu, eles se consideravam o Estado. Mas não eram. O tempo mostrou a sua fragilidade. Foram suplantados por uma cultura mais sólida: a do europeu da família-força.
— Quando o senhor fala dos sírios, leva em consideração que eles também eram em número reduzido, correto?
— Eram muito poucos realmente. Mas muito unidos. Essa era a vantagem dos sírios sobre os demais: fortemente unidos, um ajudando o outro em todos os sentidos. Eles começaram dominando o comércio varejista de tecidos, de miudezas. Com uma grande capacidade de acumular capital, eles tinham uma vida muito simples e todo o dinheiro excedente era aplicado nos seus negócios. Construíam prédios, melhorando o seu comércio. Casavam entre si. Mas eram realmente muito poucos. Eles pouco contribuíram para a formação do biotipo capixaba. Assim, também, como os índios que foram massacrados, os negros que foram discriminados. E os lusos idem. Estes eram elites e discriminaram tanto os negros como os europeus que vieram depois. Tomados por eles como sub-raça. No entanto, esses europeus também entraram no ciclo da discriminação contra o negro e da matança de índios. Miscigenando com as demais raças européias compuseram esse biotipo predominante que é hoje o capixaba. De clara para jambo a cor e de cabelo castanho para aloirado.
— Quando você fala principalmente do extermínio do índio, há uma frase famosa da Teresa da Baviera. Ele dizia que "índio é igual a serpente, só matando".
— Era a visão predominante da época. O que eles tinham medo, eles matavam. Em vez de procurar, como Guido de Marliere, um processo de assimilação. Ele era um coronel francês que havia saído das guerras européias para cuidar de índios no rio Doce. Tornou-se um grande pacificador. Deve-se reconhecer que foram os europeus que fizeram o desenvolvimento do Espírito Santo na região central e Norte do Estado. O Sul, não. Quer dizer, eles se impuseram também pelo econômico, dominam também hoje a capital tanto no plano econômico como culturalmente. Já em forma, evidente, do biotipo padrão. Sugiro, inclusive, um estudo para chegarmos ao resultado do capixaba. Acho que é trabalho para uns bons quatro anos.
Fonte: A Tribuna, Caldeamento Capixaba – No biotipo capixaba, maior contribuição foi dos italianos, 30/12/1994
Textos: Rogério Medeiros
Fotos e reproduções: Rogério Medeiros e Cilmar Franceschetto
Produção: Alvaro Pandolpho Chaia
Consultores: Professores Renato Pacheco e Hermógenes Lima Fonseca, do Instituto
Histórico e Geográfico do Espírito Santo, e Agostinho Lazzaro (historiador).
Realização: Agência VIX e A Tribuna
Bibliografia: Aculturação no Brasil (Emílio Willems), Etnias e Culturas do Brasil (Manuel Diégues Junior), Turco Pobre, Sírio Remediado, Linabês Rico (Mintaha Alcuri Campos), Escravismo e Transição (Vilma Paraíso Ferreira de Almeida) e Segunda Viagem ao Interior do Brasil (Auguste de Saint-Hilaire).
Copyright: Rogério Medeiros
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2016
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