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Luiz Buaiz - Preparação para ser médico

Na foto oficial da formatura, a expressão serena do grande médico humanista que estava nascendo

O próprio Luiz Buaiz faz um balanço do que acontecia em Vitória, desde que começou a estudar até os dias atuais. Ele recorda: “Naquele tempo você acabava o ginásio, não tinha opções. Não tinha escola de Medicina aqui, então, íamos estudar no Rio”.

Diariamente na casa de Luiz Buaiz, o ex-deputado estadual Arabelo do Rosário, senão o maior, certamente um dos maiores amigos do médico, conta como era o ainda estudante de Medicina. “Ele era muito estudioso. O seu pai, Alexandre Buaiz, era bastante rigoroso e cobrava dele e dos irmãos. Sempre via o Luiz estudando demais. Já nessa época ele era muito preocupado com os outros, e comprava problemas, que podia resolver, das pessoas próximas”, recorda.

O aluno dedicado surgiu em criança. Antes de fazer Medicina ele estudou, durante seis anos, como interno no Colégio São José, depois de passar, em Vitória, pelas escolas de Dona Esterzinha Oliveira e de Dona Odete Paiva, de preencher muito Caderno de Calygraphia, e de fazer Admissão ao Gymnasio.

Sair de Vitória para um centro maior foi indispensável e o destino foi a capital do país. A viagem para o Rio foi uma aventura. Foi a sua primeira viagem de trem. Saiu de Vitória no trem comum – em Campos é que se passava para o carro-leito – e viajou 22 horas até chegar à Capital Federal. O irmão mais velho, José, já estava no Rio quando Luiz Buaiz foi para lá, para estudar como interno no Colégio São José, dos Irmãos Maristas. Depois, em 1933, seria a vez de o irmão mais novo, Américo, ir também.

No São José havia três turmas: a dos menores, a dos médios e a dos maiores. Os dormitórios e refeitórios eram separados de acordo com essas turmas. Havia, à disposição dos alunos, sala de aula, sala para estudos, piscina. “Além da piscina”, lembra ele, “tinha açude e um campo de padrão elevado para jogar futebol. O São José mantinha um time de vôlei e outro de basquete. O aluno, quando ia para o internato, levava um enxoval, comprado na loja Quatro Nações, na Rua Buenos Aires, esquina com Rio Branco, no Centro. Os uniformes eram fabricados ali”.

A rotina do internato era: acordar, tomar banho de água fria, ir à missa, tomar café, assistir às aulas, ir para a Sala de Estudos, fazer a refeição, depois lazer: normalmente jogar pingue-pongue.

Luiz, como os seus colegas, buscava tirar boas notas, e não tinha dificuldade para seguir a disciplina do colégio. Para incentivar, havia um concurso exclusivo de cada matéria: os melhores recebiam medalha de ouro e de prata. “As repreensões aconteciam, mas, normalmente os alunos eram muito disciplinados. Para cada matéria havia um irmão que dava aula.” Entre eles o professor de que Luiz mais gostava era o Irmão Francisco, mas ele não se esquece do Irmão Honório, do primeiro ano ginasial, “que era gordo e que batia no quadro.”

Fora das aulas, um dos irmãos maristas – que cultivavam a devoção a Nossa Senhora de Lourdes – era orientador na Sala de Estudos. Orientador, inclusive, de religião.

A memória volta no tempo e traz a rotina e os amigos. Sem parar para pensar, os colegas de que ele se lembra são Rubens Costa (Sapinho), Zé Luiz Soares de Barros e Geraldo Barros, cujos pais trabalhavam na Vitória-Minas. Lembra-se muito, também, dos amigos Preguinho e Anselmo, que eram irmãos e acabaram vindo morar em Vila Velha.

As saídas de final de semana eram ansiosamente esperadas. No domingo, o passeio era um direito para todos os internos. Além disso, o aluno que chegasse ao Quadro de Honra era premiado com a saída durante a semana, no dia que quisesse. Nas folgas o programa era ir ao cinema. E cinema era para ver dramas e far west, nas sessões empolgantes com Tom Mix e Buck Jones. Já estudante de Medicina, Luiz entrava no Cine Metro e, depois de duas horas, no intervalo, ia ao Odeon. Menino ainda, passeava na Cascatinha, no Sumaré, na Vista Chinesa, no Pão de Açúcar. Foram seis anos inteiros no internato.

Nos passeios ele também fazia visitas. Quase sempre à família Oliveira Soares, que morava próximo à Praça Saens Peña, nas imediações do São José, na Mariz y Barros. Na Avenida Paulo de Frontin morava a família Murad, que também gostava de visitar.

Do internato foi para o Colégio Universitário, onde se fazia o Pré-Médico. Foi preciso buscar um lugar para morar e assim chegou a Botafogo, Rua Real Grandeza, número 173, onde já morava o amigo Aníbal de Ataíde Lima, que era como um irmão. Enquanto Luiz estudava Medicina, ele fazia Direito. Formado, chegaria a desembargador. Aníbal foi seu amigo de 1938, quando se conheceram, até ele morrer. Décadas depois, quando Luiz Buaiz candidatou-se a deputado federal, o amigo arrumaria, em sua cidade, São José do Calçado, 700 votos.

O famoso Colégio Universitário, que ficava na Praia Vermelha, foi o caminho para Luiz Buaiz chegar à Medicina. Era um curso de alta seriedade e exigência: “Ali você estudava dois anos para fazer o vestibular. Então eu fiz isso tudo e comecei a cursar Medicina em 1941. Naquele tempo você estudava mesmo. Anatomia era cursada em dois anos. Anatomia Descritiva, Anatomia Topográfica, Semiologia... Você aprendia a tocar o doente, auscultar, palpar pra fazer um diagnóstico provável. Essa parafernália toda de exames que está aí não existia. Não tinha nada disso. O médico tinha de ser, antes de mais nada, um clínico. Você tinha duas linhas: clínica e cirúrgica. Quando você optava por fazer Clínica, fazia Clínica Médica e uma das especialidades clínicas. Você se dedicava, estudava muito... Quantas vezes eu vejo um diagnóstico de que a gente até ri, porque a pessoa não tem noção do todo. Porque hoje o cara é especialista em cotovelo. Daqui a pouco um vai ser especialista no olho direito, o outro no olho esquerdo”.

Luiz Buaiz lembra professores que eram verdadeiras sumidades, como Joaquim Motta, de quem foi aluno. Porque estudava com tanta dedicação, e realmente aprendia, o médico era respeitado: “No interior o médico mandava mais que o padre, o delegado e a professora. O farmacêutico também era respeitado. Eu me lembro de Rufino Manoel de Azevedo, de Ibiraçu, que era Pau Gigante naquele tempo... Manoel Coutinho, o farmacêutico de Colatina, Roberto Silvares lá no norte, de São Mateus... Nós éramos respeitados. Eu, menino de 24 anos, médico, quando me formei, saí da missa, na Catedral do Rio, e fui passar um telegrama e me deram a vez. Porque se identificava o médico pelo anel. Identificavam-se as profissões pelo anel”.

Luiz Buaiz foi fazer Medicina no propósito de ser obstetra. Seu sonho de criança era ser parteiro. Era um sonho e uma convicção, mas o quadro apresentado em Vitória, uma cidade portuária, e a carência de profissionais, lhe apontariam um outro caminho, do qual não pôde fugir. Quando estava no quarto ano, mais ou menos, seu irmão mais velho, Benjamin – que já atuava em Medicina – lhe disse que o médico José Augusto Soares, o único da capital especializado em Venereologia, havia voltado para São Paulo. Sugeriu-lhe, então, que ficasse nessa área porque poderia atuar em Vitória. Quando houve o concurso para ocupar a vaga, Luiz fez a prova e tirou o primeiro lugar.

 

PRODUÇÃO

 

Copyright by © Luiz Buaiz – 2012

 

Coordenação do Projeto: Angela Buaiz

 

Captação de Recursos: ABZ Projetos

 

Texto e Edição: Sandra Medeiros

 

Colaboraram nas entrevistas:

Leonardo Quarto

Angela Buaiz

Ruth Vieira Gabriel

 

Revisão: Herbert Farias

 

Projeto e Edição Gráfica: Sandra Medeiros

 

Editoração Eletrônica: Rafael Teixeira e Sandra Medeiros

 

Digitalização: Shan Med

 

Tratamento de Imagens: TrioStudio; Shan Med

 

Fonte: Luiz Buaiz, biografia de um homem incomum – Vitória, ES – 2012.
Autora: Sandra Medeiros
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2020

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