Mané Cocô - Por Elmo Elton
Antes do governo de Jerônimo Monteiro (1908/1912), Vitória não possuía luz elétrica nem água encanada. Ruas e casas eram iluminadas por lampiões, lamparinas, velas e até por tochas. Os bondes eram puxados a burro. Água, só mesmo a das poucas nascentes, sendo que, em decorrência da falta de esgotos, os detritos eram lançados ao mar, também nos mangues e em terrenos pantanosos, - a fedentina poluindo o ar.
Inaugurado o abastecimento de água, foi construído, no morro de Santa Clara, um reservatório que passou a servir, preferencialmente ao palácio, repartições públicas e residências particulares dos abastados (...)
Os menos afortunados, enquanto aguardavam a canalização atingir toda a cidade, se valiam dos chafarizes construídos nos pontos de maior concentração popular: Porto dos Padres, mercados, quiosques e botequins, quase todos situados na orla marítima.
Antes da canalização, toda a população se abastecia de água potável das nascentes da Lapa, Fonte Grande, Vigia, da Capixaba e dos poços artesianos.
Os moradores da cidade alta e locais distantes dos chafarizes pagavam carregadores para levar, em latas ou pipas, a água até suas casas.
Resolvido o problema da água, o governo inaugurou os serviços de eletricidade e esgotos, terminando assim as profissões de conservadores de lampiões e dos 'carregadores de cocô' - que em latas levavam as fezes e outros detritos, jogando-os no mar:'
Manoel de Oliveira Dias, preto, ainda moço, de rígida musculatura, era "carregador de cocô". Tinha freguesia numerosa e certa, de modo que, duas ou três vezes por semana, ia a casas de famílias, mormente de famílias moradoras na cidade alta, apanhar os barris onde eram depositados fezes e urina, além de lixo diverso, - carga que preferencialmente atirava, em maré Vazante, ora no Porto dos Padres, ora no Cais de São Francisco. Esses barris, porque não esvaziados diariamente, se enchiam de vermes, o mosqueiro em redor, tudo provocando sufocante fedor. Um flagelo!
Em Vitória, a esse tempo, havia outros iguais carregadores, mas o certo é que a preferência das famílias recaía sempre em Manoel, dado seu temperamento cordial, sua simpatia e humildade, cobrando ele pelos seus serviços apenas a ninharia de cinco tostões por caminhada. Foi numa dessas caminhadas que, lá por volta de 1911, ao passar pela antiga rua do Egito, despregou-se o, já apodrecido, fundo do barril que levava à cabeça, todo o conteúdo fétido derramando-se sobre ele. Desde esse dia, o serviçal Manoel de Oliveira Dias passou a ser chamado Mané Cocô, daí que, em sendo visto, aqui ou ali, logo alguém lhe gritava:
- Mané Cocô, você vai eu também vou.
O negro respondia:
- Mas eu só vô se a mãe fô.
Mané Cocô - já a cidade dispondo de rede de esgotos - fazia, prestativo, biscates nos mercados, antes tendo sido vendedor ambulante de cocadas, o que lhe não trazia quase proveito algum, o tabuleiro voltava sempre cheio, talvez mesmo em decorrência de seu próprio apelido ou porque fosse portador de uma úlcera na perna direita.
Nos últimos anos, tornou-se irritadiço, zangava-se facilmente, mesmo com amigos e parentes (conheci alguns de seus parentes, cunhadas e sobrinhos, gente humilde mas respeitável), passando a beber desbragadamente. Intrometia-se nos discursos de políticos, quando eram ouvidos em praça pública, interrompendo-os com estapafúrdios apartes, o que lhe valeu algumas detenções, logo relaxadas.
Faleceu no início da década de 30.
Fonte: Velhos Templos e Tipos Populares de Vitória - 2014
Autor: Elmo Elton
Compilação: Walter Aguiar Filho, fevereiro/2019
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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