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Índios e jesuítas em Orobó

Ruínas do Aldeamento de São Pedro, Anchieta -ES

A região de Anchieta foi uma das mais populosas da costa brasileira. Há informações publicadas na Revista do Mepes de que cerca de 40 mil índios temiminós moravam entre o vale do Orobó, em Piúma, e as cabeceiras do rio Salinas. Só o aldeamento de São Pedro, onde foram descobertas ruínas, presumivelmente da sede de uma fazenda clandestina de extração de sal, concentrava 9 mil índios.

Com tantos índios e riquezas naturais, os jesuítas não tardaram em chegar para iniciar a catequização e a colonização. Com o tempo, a população indígena foi diminuindo em progressão geométrica. No tempo dos jesuítas havia em Reriritiba 12 mil índios. Depois de expulsão da Companhia de Jesus do Brasil, os índios foram reduzidos a 9 mil, e em 1820 toda população da paróquia de Benevente não ultrapassava 2.500 indivíduos, segundo Pizarro em História de Mem de Sá.

 

Jesuítas

O padre José de Anchieta chegou à baía de Todos os Santos em 13 de julho de 1553, acompanhado do segundo governador geral do Brasil, Dom Duarte da Costa, e cinco membros da Ordem, que participavam da terceira missão, chefiada pelo padre Luís de Grã. Em 1569 visitou Iriritiba ou Reriritiba, instalando ali uma nova povoação, que mais tarde seria uma das mais promissoras da capitania. Em 1579 Anchieta, já provincial da Companhia de Jesus, construiu o templo dedicado a Nossa Senhora da Assunção.

Foram os Jesuítas que fundaram a Aldeia de Reriritiba. Era uma das quatro vilas indígenas fundadas pelo missionário no Espírito Santo. Além de reunir significativo número de índios, os jesuítas construíram uma hospedaria para os viajantes de sua ordem. Reriritiba foi o principal palco dos trabalhos do padre Anchieta.

Em 1759, Reriritiba foi elevada a categoria de Vila com o nome de Benevente. Em 14 de fevereiro de 1761 transformou-se em Distrito. Após a extinção de Companhia de Jesus, o governo apoderou-se do mosteiro. O naturalista Saint-Hilaire, em Segunda Viagem ao Interior, registrou que no século passado uma parte do edifício servia de alojamento ao cura. Uma parte abrigava a prisão. Uma sala era utilizada pela Câmara. Outra peça às audiências do ouvidor, quando ia cumprir suas funções de corregedor. Havia também um quarto que era cedido aos estrangeiros que passavam pela região.

Quando os jesuítas foram expulsos, a administração destinou aos índios civilizados de Benevente uma extensão de seis léguas, mas como o lugar era fértil, os governantes também deram a seus amigos porções dessas terras, sem considerar o direito dos indígenas que inutilmente as reclamaram, segundo o naturalista francês.

“Para comprar aguardente, muitos índios cederam suas propriedades aos brancos, que para garantir a posse se comprometeram a pagar uma pequena retribuição à municipalidade de Benevente”. Outros índios, ao abandonar suas terras, não realizaram nenhuma venda, e os portugueses simplesmente tomaram a posse das áreas. Naquela época as sesmarias eram distribuídas em todo o distrito, sem mesmo “exigir foro para a Câmara”. O ouvidor da Vila de Vitória tinha o título honorável de conservador das possessões dos índios de Benevente, mas nada mais tinha a conservar.

“As referidas terras têm passado quase todas pelas mãos dos luso-brasileiros e os índios se limitam em cultivar campos que deveriam semear para eles próprios”. Saint-Hilaire foi mais longe: “Quando o índio pede justiça contra o português, como poderá obtê-la? É aos amigos e patrícios de seus adversários que ele é obrigado a dirigir-se já que os juízes de Benevente são exclusivamente portugueses”.

Quando o Espírito Santo começou a abrir estradas na gestão de Rubim, e instalou a nova vila de Viana, os índios de Benevente foram empregados em trabalho diversos. Em 1818 os índios eram revesados de três em três meses. “Mandavam trabalhar bem longe de suas casas. Alimentavam-nos mal e no final do trimestre recebiam 4$000, mesmo assim sem regularidade”.

 

Fonte: A Gazeta 26 de setembro de 1994
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2012 

 

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