Os vários grupos de índios – Por Celso Perota
A etnohistória dos índios no Espírito Santo é bastante rica mas pouco precisa. Numa análise das informações observa-se que os dados do século XVI são abundantes. Nos séculos XVII e XVIII eles se tomam escassos, provavelmente pela posição política de pouco destaque da Capitania — e depois Província do Espírito Santo — e também pelo isolamento da população portuguesa e neo-brasileira na região litorânea. No Século XIX as informações voltam a ser abundantes.
Habitaram a área do atual Estado do Espírito Santo representantes de dois troncos lingüísticos: o tupi-guarani e o jê. E duas famílias lingüísticas: a mashacali, patashó e malali; e a puri-coroado (atualmente essas duas famílias estão sendo classificadas como pertencentes ao macro-jê).
O grupo lingüístico tupi-guarani — representado no Espírito Santo pelas tribos tupinambá, tupiniquim e temiminó — habitou predominantemente a faixa costeira e parte dos vales dos rios Cricaré, Itapemirim e Itabapoana. Foi o grupo de contato com a população portuguesa, que rapidamente se aculturou e participou do processo da miscigenação. Apesar dos grandes aldeamentos jesuíticos no Sul do Estado, nos séculos XVI e XVII a mobilidade desse grupo foi intensa, principalmente de tupiniquins e teiniminós.
No final da década de 60 um grupo de guaranis desloca-se do interior do Estado do Paraná pelo litoral e se fixa nas proximidades da foz do rio Piraquê-Açu. Foi a última migração de índios para o Estado do Espírito Santo.
O grupo lingüístico jê é representado por uma série de tribos, genericamente denominadas "botocudott", cuja presença é bastante relevante a partir do final do século XVIII, quando se verifica uma extensa migração pelo vale do rio Doce. Esses índios foram forçados pelos grupos mineradores que atuaram nas cabeceiras dos formadores desse rio. A área de domínio desse grupo é o vale dos rios Doce e Cricaré.
No século XIX são criados, na zona litorânea e ao longo do rio Doce, quartéis, para manter a comunicação entre as vilas e, principalmente, para proteção dos viajantes contra os ataques dos botocudos. Nos primeiros anos do século XX esses índios começaram a ser aldeados, após a criação do Serviço de Proteção ao índio (SPI). Um aldeamento de botocudos foi criado em Lajinha de Pancas, então município de Colatina. Funcionou até o final da década de 40.
A família lingüística mashacali. patashó, malali habitou preferencialmente os vales dos rios Doce, Cricaré e ltaúnas, num tempo anterior ao grupo jê. Remanescentes dessa família estavam presentes no vale do rio Cricaré, na sua parte litorânea, no final do século XIX. A principal tribo dessa família linguística no Estado do Espírito Santo é a malali.
A família puri-coroado esteve presente no Sul do Estado, notadamente no vale do rio Itapemirim e na região montanhosa dos municípios de Castelo. Conceição de Castelo, Muniz Freire, Iúna, Alegre, Guaçuí e em toda a Serra do Caparaó.
Pequenos grupos dessa família fixaram-se no litoral Sul até o século XIX e outros foram aldeados na região serrana, nas cabeceiras dos formadores do rio Itapemirim.
Atualmente remanescentes desses grupos indígenas ainda habitam duas áreas no Estado do Espírito Santo. Os tupis-guaranis (tupiniquins e guaranis), na região litorânea do município de Aracruz, em áreas indígenas criadas pela Funai.
Famílias isoladas de remanescentes de puris-coroados estão localizadas entre os municípios de Conceição do Castelo, Muniz Freire e Iúna.
Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Autor deste texto: Celso Perota
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2016
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