Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

O Franciscano Frei Pedro Palácios trouxe a devoção da Penha

Frei Pedro Palácios e os colonos, quadro de Benedito Calixto, do Acervo do Convento da Penha

Em A História Popular do Convento da Penha, Guilherme Santos Neves chama a atenção para o fato de que "a piedosa vida de Pedro Palácios só começa realmente a registrar-se para a história, quando, impelido por natural pendor, toma ele o hábito de religioso leigo, e como tal vive na província de São José dos Reformados, em Castela (Espanha), passando mais tarde para a província da Arrábica, em Portugal, onde vai servir como enfermeiro, no Hospital Real de Lisboa, desvelando-se, com grande amor e caridade, junto aos leitos dos seus enfermos".

Foi um sonho que o impeliu a viajar para as terras do Brasil: nesse sonho apareceu-lhe um anjo que descia do céu e salvava da morte, num rio profundo, um grupo de pessoas prestes a afogar-se. O anjo os agarrara pelos cabelos e os trouxera para a margem.

Esse sonho o impressionou e o fez pensar que era uma mensagem divina. Ele sabia que criaturas de Deus se afogavam na cegueira do mal e da barbárie nas terras da Colônia portuguesa de além-mar. Dessa maneira, conseguindo licença do seu superior, embarcou para o Brasil, aportando em Porto Seguro. Lá ficou sabendo que não havia na Capitania do Espírito Santo nenhum missionário da sua Ordem. Foi assim que chegou a terras capixabas.

Frei Pedro Palácios nasceu na Espanha, filho de nobres e desde muito cedo mostrou sua inclinação para as doutrinas da fé.

Frei Jaboatão, citado por Guilherme Santos Neves, relata a viagem do franciscano para o Espírito Santo:

"Da sua passagem do Reino para o Brasil, só achamos escrito, fora o ano de 1558, e sendo o navio que o transportava acometido na viagem de uma rija e furiosa tormenta, nos últimos apertos, recorrendo os navegantes a Frei Pedro Palácios pelo bom conceito que já haviam formado de sua virtude, e tomando-lhe o manto o lançaram ao mar, e foi o mesmo estender-se sobre as águas, que baixaram logo a soberba de suas empoladas ondas: ausentaram-se os ventos que as moviam contrários, e soprando outros mais favoráveis, tomaram o porto com feliz viagem no de Vila Velha, Capitania do Espírito Santo" (crônica in Correio da Vitória, n° 72, de 28/6/1872.)

Em Vila Velha, o frei foi morar no alto do Morro da Penha. Muitas vezes passava tempos na gruta que existe no sopé do morro e que até hoje é chamada por muitos de "Gruta do Frei Pedro Palácios".

É importante chamar a atenção para o tato de que Frei Pedro Palácios foi o primeiro pregador e anunciador do Evangelho para os nativos, na Capitania do Espírito Santo. O Correio da Vitória de 1872 transcreve testemunhos de pessoas que o conheceram. Um desses é o de Nuno Rodrigues, morador na Vila do Espírito Santo, homem de cento e dois anos de idade e em pleno domínio das suas faculdades mentais: "Disse que conheceu aqui na Vila do Espírito Santo o Padre Frei Pedro, religioso leigo da Ordem de São Francisco, haverá cinqüenta anos, ao qual tratou particularmente, e lhe disse que era castelhano de nação, natural de Medina do Rio Seco, perto de Salamanca, e o viu ordinariamente andar pelas ruas, ensinando a doutrina cristã aos meninos e a todos, e o mesmo ia fazer pelas Aldeias dos índios, onde ainda não residiam religiosos da Companhia, senão aqui na Vila, e lá nas ditas aldeias batizava aos índios, que se convertiam à fé católica, e era mui zeloso da salvação das almas". (História Popular do Convento da Penha, de Guilherme Santos Neves). Foi o Frei Pedro o fundador do Convento da Penha.

Ajudou mesmo a carregar materiais até o alto da montanha onde foi construída a ermida. Mais tarde, a obra foi, então, completada por seus sucessores. Frei Pedro Palácios foi encontrado morto no dia primeiro de maio de 1570.

O Convento da Penha é hoje o maior monumento religioso do Espírito Santo, visitado por religiosos e turistas do Brasil e do exterior.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2016

Pesquisa

Facebook

Matérias Relacionadas

A Igreja de São Tiago e a lenda do tesouro dos Jesuítas

Um edifício como o Palácio Anchieta devia apresentar-se cheio de lendas, com os fantasmas dos jesuítas passeando à meia-noite pelos corredores

Ver Artigo
As aldeias e os jesuítas no ES – Por Celso Perota

Um tema que está para ser estudado com maior profundidade é a atuação dos jesuítas na Capitania do Espírito Santo

Ver Artigo
Há sete mil anos os índios já habitavam o Espírito Santo

Foi o que constaram pesquisas feitas nos objetos encontrados nos locais onde moraram os índios, os chamados sítios arqueológicos

Ver Artigo
No Mapa Capixaba, uma herança dos primeiros habitantes

Os topônimos indígenas que identificam os nomes de rios, montanhas, serras, povoados e cidades no ES

Ver Artigo
José de Anchieta e o Espírito Santo

O jesuíta visitou mais de uma vez o Espírito Santo quando em trabalho de inspeção aos colégios dos padres e seminários de instrução

Ver Artigo
Capitania melhora com a vinda de missionários

Primeiro foi Frei Pedro Palácios, franciscano. Depois vieram os padres jesuítas, o rei pediu sua ajuda para civilizar colonos e índios no Brasil

Ver Artigo
Padre Brás Lourenço, o pioneiro

Entre os jesuítas que atuaram no Espírito Santo, destacaram-se Brás Lourenço, Diogo Jácome, Pedro Gonçalves e Manuel de Paiva, além do Padre José de Anchieta 

Ver Artigo
Anchieta, Cultura e Santidade

Ele veio para o Brasil com 19 anos, na companhia do segundo governador-geral, Duarte da Costa 

Ver Artigo
Jesuítas fundam o primeiro colégio

Afonso Brás foi assim o fundador do primeiro colégio da Capitania do Espírito Santo e também o primeiro professor de letras

Ver Artigo
Os Botocudos – Por Celso Perota

Os botocudos surgem na região Norte do Espírito Santo, nos vales dos rios Doce, Cricaré e Itaúnas

Ver Artigo
Os vários grupos de índios – Por Celso Perota

Habitaram a área do atual Estado do Espírito Santo representantes de dois troncos lingüísticos: o tupi-guarani e o jê

Ver Artigo