Jesuítas fundam o primeiro colégio
A chegada dos jesuítas ao Estado inaugura uma nova era, propiciando uma sensível mudança no modo de agir de muitos colonos e certa moderação nas atitudes dos indígenas
Os discípulos de Santo Inácio aportaram no Espírito Santo em 1551, representados pelo Padre Afonso Brás, de 27 anos, e o irmão Simão Gonçalves. A Capitania do Espírito Santo, vista de fora ou antes de se sentirem de perto as suas dificuldades, parecia um pouco a Terra da Promissão.
O Padre Afonso Brás, que já conhecia a costa desde a Bahia, não escondeu o seu entusiasmo:
..."Esta, onde ao presente estou, é a melhor e a mais fértil de todo o Brasil" (Leite, Serafim — História da Companhia de Jesus — vol. I).
Apesar de a história do Espírito Santo, nas primeiras épocas, ser uma sucessão de encarniçadas lutas entre os colonos que ocupavam apenas o litoral e os índios que desciam, de repente, em correrias até a costa, a Companhia de Jesus não encontrou, nesta Capitania, algumas das sérias dificuldades que acompanharam o seu desenvolvimento em outras partes do Brasil.
O que caracterizava o primeiro jesuíta que chegou ao Espírito Santo, o Padre Afonso Brás, além das atividades especiais de sacerdote, era a sua qualidade de arquiteto, exercida aqui, no Rio de Janeiro e em São Paulo, durante mais de meio século de apostolado nas terras do Brasil.
Assim escreve Serafim Leite, na sua História da Companhia de Jesus no Brasil, vol.VI: "O Padre Afonso Brás, em 1551, já principiara a construção de uma casa, cujos ecos chegaram logo à Bahia, onde pretendia ensinar as primeiras letras e os mandamentos cristãos. Quando o Padre Manuel da Nóbrega e Tomé de Souza (primeiro governador-geral do Brasil) passaram em Vitória, no ano de 1552, já encontraram o Colégio São Tiago, grande casa e igreja (onde é hoje o Palácio Anchieta). Entrando com o governador-geral na igreja, Nóbrega entoou o Veni Creator Spiritus, alusão ao nome da terra que pisavam. A igreja ou recebeu o nome de alguma capelinha que ali existisse anteriormente, ou talvez fosse inaugurada em 25 de julho de 1551, o que explicaria a invocação de São Tiago".
Afonso Brás foi assim o fundador do primeiro colégio da Capitania do Espírito Santo e também o primeiro professor de letras. Foi um admirável incentivador de jovens para a sua "escola de ler, escrever e algarismos". E arquiteto e construtor da Igreja de São Tiago da Vila Nova de Nossa Senhora da Vitória.
O historiador José Teixeira de Oliveira conta que o jesuíta ficou assombrado com a quantidade de índios que encontrou em terras capixabas: "São tantos, e a terra é tão grande que, se não guerreassem tanto e se não se comessem uns aos outros, não caberiam na terra".
Receava também batizar os gentios "pela sua inconstância e pouca firmeza". Diz que muitos deles, após terem recebido o primeiro sacramento, haviam fugido para os matos e "andavam depois piores do que antes, e voltavam a meter-se com seus vícios e comer carne humana". Afonso Brás não ficou no Espírito Santo. Transferiu-se para São Paulo, obedecendo a ordens do Padre Manuel da Nóbrega. Em terras paulistas, além dos serviços religiosos, espalhou largamente o seu talento de arquiteto e de artista das profissões elementares. Deixara plantada no Espírito Santo a Casa de São Tiago (hoje Palácio Anchieta), sob a forma de colégio e seminário. Esse colégio deveria ser um guia da educação por mais de duzentos anos. E depois, por outros muitos e muitos anos, pólo das atividades políticas e administrativas da Capitania, depois Província e hoje Estado.
Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2016
Um edifício como o Palácio Anchieta devia apresentar-se cheio de lendas, com os fantasmas dos jesuítas passeando à meia-noite pelos corredores
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