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Anchieta, Cultura e Santidade

O pavilhão jesuíta em uma caravela ilustra o novo modo de fazer missão desses padres, que surgiram com a tarefa de combater as idéias de Lutero

Ele veio para o Brasil com 19 anos, na companhia do segundo governador-geral, Duarte da Costa

Em 1553, com o segundo governador-geral, Dom Duarte da Costa, chegaram ao Brasil mais sete jesuítas, três padres e quatro irmãos, sob a chefia: Luis da Grã.

Nesse grupo vinha José de Anchieta, que teria participação destacada não apenas na obra catequética, mas na própria colonização do Brasil. E teria, também, especial destaque na história do Espírito Santo.

A idéia dos jesuítas, então sob a chefia do Padre Manuel da Nóbrega, era fazer sua obra catequética chegar até o Paraguai. Para isso, era necessário estabelecer uma base, de onde partissem as expedições missionárias. Foi, então, construído abrigo nos campos de Piratininga. Para a edificação desse abrigo contaram com a grande ajuda de João Ramalho, náufrago português que morava na região e era casado com a filha do chefe Tibiriçá — a índia Bartira.

José de Anchieta foi chamado pelo Padre Manuel da Nóbrega a participar desse empreendimento. Tão logo chegou a Piratininga, Anchieta reiniciou seus trabalhos de catequese. E, junto a outros jesuítas, fundou a cidade de São Paulo. Em 25 de janeiro de 1554, celebrou-se a primeira missa no planalto. Como se comemorava, naquele dia, a conversão do Apóstolo São Paulo, o novo estabelecimento foi a ele dedicado.

Ensinando às crianças índias os princípios da fé cristã, o Padre Anchieta e seus companheiros sentiam que estavam no caminho certo para a expansão da conversão do restante das tribos.

Em constante contato com os índios, José de Anchieta aprendeu a língua tupi. Foi dessa maneira que escreveu, mais tarde, a Gramática da Língua Mais Falada na Costa do Brasil, cartilha de grande utilidade a todas as missões jesuíticas da Colônia portuguesa.

Outro fato da maior relevância foi a participação dos jesuítas no episódio que ficou conhecido como a Confederação dos Tamoios. A aliança dos Tamoios aos invasores franceses na Guanabara era uma grande preocupação dos portugueses, que previam, nessa parceria, sérias ameaças. A participação dos jesuítas no conflito foi decisiva. Nóbrega e Anchieta atuaram como verdadeiros emissários de paz. Durante esse episódio, Anchieta foi preso e ficou como refém na aldeia indígena. Foi quando ele escreveu, na areia, em latim, seus famosos versos dedicados à Virgem: Da Virgem Santa Maria Mãe de Deus. Logo que o conflito foi debelado, com a assinatura de um armistício, o Padre Anchieta voltou ao Colégio de São Vicente, onde escreveu seus versos no papel. Eram, ao todo, 4.172.

Assim começa o seu poema épico, O Poema da Virgem:

Eis os versos que outrora, oh Mãe Santíssima,

te prometi em voto,

vendo-me cercado de feros inimigos,

desarmado e único entre eles.

Enquanto a minha presença

ameaçava os Tamoios conjurados

e os levava com jeito

à suspirada paz,

Tua graça me acolheu

em Teu colo materno

e Teu poder me protegeu intato

corpo e alma.

As inspirações do céu,

eu, muitas vezes, desejei penar

cruelmente expirar em duros ferros

mas sofreram repulsa os meus desejos

só a heróis

compete tanta glória!"

José de Anchieta nasceu na Ilha de Tenerife, do arquipélago espanhol das Canárias, em março de 1534. Muito cedo, aos 14 anos, foi enviado por seu pai a Portugal para cursar as aulas da Universidade de Coimbra.

Seus primeiros estudos foram realizados na sua terra natal, São Cristóvão da Laguna. Desde menino se interessara pelos livros e pela literatura. Compunha versos e recitava. Em Coimbra, logo se destacou como aluno aplicado e conquistou a admiração de mestres e colegas.

Conheceu alunos jesuítas e se interessou pelos princípios da ordem religiosa que fora fundada por um seu parente, o Padre Inácio de Loyola. Empolgado com os ideais missionários da Companhia de Jesus, em maio de 1551 integrou-se como um dos seus membros. Continuava seus estudos de Filosofia na Universidade.

Por esse tempo, contraiu séria enfermidade que lhe deixou marcas para o resto da vida. O deslocamento de uma vértebra, na coluna, trazia-lhe muitas dores e seus ombros se arquearam, o que lhe dava uma aparência de grande debilidade.

Com o tempo, as dores se agravaram e ele andava vacilante, quase se arrastando. O Padre Miguel Torres, seu superior, percebeu o drama do estudante. Dentro da precariedade dos conhecimentos médicos da época, chegaram à conclusão de que os ares do Brasil fariam bem ao jovem. José de Anchieta exultou com a idéia. Chegou a dizer que era um Deus.

Foi uma viagem longa, mas revestida de sonhos e esperanças. O jovem sentiu-se melhor, as dores foram suavizadas.

Chegou ao Brasil com fé redobrada, disposta a enfrentar o desafio de um campo imensurável para a catequese dos índios e para a renovação da fé que fugia aos colonos brancos.

O grupo de viajantes chegou primeiramente à Bahia, onde o novo missionário permaneceu por três meses, já em ativos trabalhos de ensinamentos aos nativos.

Depois foi chamado a participar dos novos empreendimentos, em São Vicente, sob a direção do jesuíta Manuel de Nóbrega.

 

Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 19/08/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz    
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2016

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