No laço da saudade – Por Elizabeth Martins
Ouço de novo a prata do pequeno sino marcando o intervalo entre as aulas, revejo os enormes chapéus de asas brancas que jamais alçaram vôo e sinto o aconchego do abraço maternal da irmã Margarida.
Novamente me arrepia e intriga o mistério oculto além de algumas portas sempre trancadas, nos corredores sombrios, nas passagens secretas do prédio antigo. E eu, menina de imaginação sem rédeas, via em tudo sinais de estranhos acontecimentos, de segredos fantásticos e de histórias não contadas.
Tão forte era esta impressão que ainda hoje, espiando de longe o prédio imponente onde estudei durante tantos anos, as primeiras sensações que me ocorrem não estão ligadas às pessoas, às brincadeiras ou às aulas.
Como se olhasse uma radiografia, não é o aspecto externo do colégio mas sim, nítido e arquitetonicamente imutável, o que vejo é o seu interior. Lá estão o jardim interno com a gruta e a imagem de Nossa Senhora de Lourdes em intermináveis conversas com Bernadete. As escadas e as sacadas de madeira que balançavam sob os nossos passos. As largas varandas do recreio com vista para o pátio. A cozinha cheirosa de comida no fogo e doces para as meninas choronas. O grande refeitório onde eram esquecidas as três horas de jejum que precediam o sacramento da eucaristia. Os corredores sem luz que levavam ao Orfanato e à creche. A sala onde eram feitas as hóstias, cujas sobras, retalhos do Cristo que viriam a ser, podíamos mastigar, pois estando ainda por consagrar, não sangrariam.
Relembrando tudo, lamento não ter invadido as salas fechadas, procurado os túneis, buscado as histórias. Era tímida demais para isto.
O prédio permanece lá, não mais o "meu" Colégio do Carmo. Chego bem perto, penso em subir a escadaria, reencontrar tudo (como se possível fosse). De repente, em algum lugar da minha memória, cresce o som longínquo de uma alegre cantoria infantil numa brincadeira de roda:
Rolinha andou, andou
Caiu no laço, se embaraçou
Me dá um abraço
Que eu desembaraço
A sua rolinha que caiu no laço.
Vontade de sentar nos degraus tão conhecidos, capitular. Os olhos molhados transbordam e, inconvenientes, revelam a saudade. Preciso retornar, buscar o hoje, mas como é difícil me livrar do embaraço deste laço.
Fonte: Escritos de Vitória, nº 10 – Escolas, 1995
Autora: Elizabeth Martins
Nascida em Vitória (ES)
Formada em História (UFES)
Professora e escritora
Autora de A bailarina cor-de-rosa
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2020
O ano que passou, o ano que está chegando ao seu fim já não desperta mais interesse; ele é água passada e água passada não toca moinho, lá diz o ditado
Ver ArtigoPapai Noel só me trouxe avisos bancários anunciando próximos vencimentos e o meu Dever está maior do que o meu Haver
Ver Artigo4) Areobaldo Lelis Horta. Médico, jornalista e historiador. Escreveu: “Vitória de meu tempo” (Crônicas históricas). 1951
Ver ArtigoEstava programado um jogo de futebol, no campo do Fluminense, entre as seleções dos Cariocas e a dos Capixabas
Ver ArtigoLogo, nele pode existir povo, cidade e tudo o que haja mister para a realização do sonho do artista
Ver Artigo