O Cometa Halley e o Morro do Moreno
Trecho transcrito do Livro: Vila Velha, seu passado e sua gente.
Autor: Dijairo Gonçalves Lima
Vila Velha – ES – 2002
Nota do Site: Diógenes é um personagem fictício.
Diógenes sempre fora bem relacionado com a família Barcellos, principalmente com o Arnaldo, com o qual algumas vezes fora até ao topo do Moreno, onde existia um posto semafórico para observar os navios que remavam para Vitória.
Quando lá esteve pela primeira vez ficou maravilhado com o que viu. De um lado, a beleza impressionante da imensidão do mar a se perder na curva do horizonte. Do outro lado, as serranias distantes cobertas pela Mata Atlântica.
No posto, três homens se revezavam no serviço de observação dos navios que chegavam. Um deles era Clementino, irmão de Arnaldo. Com uma luneta rastreavam o horizonte e, ao avistarem um navio, enviavam sinais que era imediatamente percebidos por um observador postado na Pedra do Atalaia.3
Do Atalaia a informação era transmitida à Capitania dos Portos. A primeira mensagem, representada por duas bandeiras retangulares, uma azul e outra vermelha, significava: “navio à vista”. À medida que a embarcação se aproximava do litoral, novas bandeiras eram hasteadas no mastro. Dependendo da cor das bandeiras e da posição em que fossem hasteadas, logo se sabia a nacionalidade da embarcação e se ela procedia do Sul ou do Norte. Depois disso, saía de Vitória a lancha que levava o prático para buscar o navio.4
A outra vez em que Diógenes subiu o Moreno foi quando a imprensa passou a noticiar com previsões alarmantes a passagem, nas proximidades da Terra, do cometa de Halley, acontecimento esperado para o dia 19 de maio de 1910. Diógenes procurou Arnaldo Barcellos e pediu para ser levado novamente ao Moreno, local privilegiado para a observação do astro, principalmente com luneta. Durante trinta dias o cometa pôde ser visto sobre o mar, sempre de madrugada. Os dois se deliciavam com o maravilhoso espetáculo cósmico.
A imprensa européia, com base em estudos do renomado astrônomo francês Camille Flammarion, alertava sobre a grande possibilidade de, no dia 19 de maio, quando a Terra fosse envolvida pelos gases letais da causa do cometa, extinguir-se em envenenamento toda a humanidade. Em Paris, centro cultural e científico da época, muitos se desfizeram de suas fortunas, esbanjando-as, enquanto outros foram levados ao suicídio. Tudo isso por causa do cometa. O pânico se alastrava.
Diógenes estava a par de tudo, pois recebia, embora com certo atraso, os jornais do Rio com notícias inquietantes vindas da Europa. Guardava silêncio a respeito dessas notícias e, quando era convidado pelos amigos a opinar sobre o assunto, dizia não acreditar nos efeitos mortais que o cometa poderia causar aos habitantes da Terra. Mesmo assim, algumas notas preocupantes liberadas pelos jornais de Vitória davam motivo a que muitos passassem a se confessar diariamente na esperança de limparem a alma, pois brevemente seriam alcançados pela morte. Nunca se fez tanta caridade como às vésperas do 19 de maio. As igrejas viviam cheias e, nas ruas, nunca os pobres foram tão bem alimentados e agasalhados. Alheios aos comentários gerais, os pedintes, atônitos, sentiam-se como se vivessem em outro mundo.
A tão indesejada e temida noite de 19 de maio, a “noite do fim do mundo”, foi chuvosa – pelo menos em Vila Velha e em Vitória – e ninguém viu o cometa passar.5
Sempre que tocava no assunto, Diógenes não conseguia esconder sua decepção pelo fato de não ter podido ver a passagem do cometa de Halley devido ao meu tempo, com baixas nuvens negras, e muita chuva. Seu retorno só aconteceria daí a setenta e seis anos.5ª
Referência Bibliográfica:
Lima, Dijairo Gonçalves
Vila Velha: sua passado e sua gente / Dijairo Gonçalves Lima. – Vila Velha: [s.n.], 2002 354 p.: il.; 21 cm
1. Vila Velha (ES), 1535 – 1912 – História.
2. Romance brasileiro – Vila Velha (ES). I. Título
CDD 981.529
B 869.3529
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