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O Encilhamento

Caricatura de Agostini sobre a reforma bancária.

A política econômica do primeiro governo republicano foi semelhante à que foi tentada – com menos consciência – após a extinção do tráfico em 1850. Ela buscava facilitar a aplicação em empreendimentos industriais daqueles recursos antes imobilizados em escravos e que ficaram disponíveis após a Lei da Abolição.

O mecanismo dessa transferência era simples: com o aumento das emissões de moeda, os juros se reduziriam e tornariam as aplicações em empresas mais atraentes que o entesouramento no mercado financeiro – tanto menos vantajoso quanto menores os juros.

Havia um único senão: transferir renda dos ex-proprietários de escravos para os novos industriais significava também transferir poder e prestígio – algo com que os fazendeiros e os rentistas que os cercavam estavam longe de concordar. Essa mudança exigia tempo. Desse modo, o que parecia uma boa idéia revelou-se um problema. Os rentistas, habituados a ganhar dinheiro sem trabalhar – a regra básica do mundo escravista -, só substituíram o objeto de sua especulação para demolir na prática a boa intenção do governo.

Em vez de emprestar dinheiro a juros altos para cafeicultores ou especular com as safras de café, os donos dos capitais passaram a comprar e vender ações de empresa, sem se preocupar com sua potencialidade real. Em pouco tempo, o movimento de papéis era muito maior do que os empreendimentos efetivos. A euforia do ganho fácil com ações tomou conta do Rio de Janeiro – e ficou conhecida como “Encilhamento”, nome tirado da gíria das corridas de cavalo (no local em que os cavalos eram encilhados, apostadores privilegiados recebiam dicas de treinadores e proprietários que lhes permitiam fazer fortunas nas apostas).

Apesar dos avanços da indústria no primeiro período republicano, a política econômica do governo logo se tornou alvo de críticas. Ao assumir a Presidência, Floriano Peixoto entregou o controle da economia ao paulista Rodrigues Alves.

Fazendeiro de café, conservador, e monarquista até o fim do Império, o novo ministro implantou uma política econômica que seria seguida por mais de uma década: contenção das emissões de moeda, contratação de financiamentos no exterior, aumento dos juros, elevação dos gastos estatais – de modo a impedir que os capitais sem destino fossem aplicados em empreendimentos industriais. Tal como no Império, essa orientação econômica privilegiava um único grupo, o dos donos de capitais para investir e fazendeiros, pois toda a sociedade foi obrigada a paralisar os investimentos.

 

Fonte: Viagem pela História do Brasil – ano 1999
Autor: Jorge Caldeira, Flavio de Carvalho, Claudio Marcondes e Sergio Goes de Paula
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2014

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