Os pioneiros – Alguns nomes – Número – Partida do Tejo
Sobre o grupo de pessoas que embarcaram com Fernandes Coutinho para “conquistar e povoar”(31) a capitania, são escassas as notícias. Os mais abalizados autores registram mais ou menos sessenta, aí incluídos “dois fidalgos de elevada nobreza”(32) D. Jorge de Menezes,(33) “o das proezas nas Molucas e do descobrimento da Nova Guiné”,(34) e D. Simão de Castelo-Branco.(35) – Ambos, “por mandado de S. A., iam cumprir suas penitências a estas partes”.(36) Degredados é que eles eram.
Não obstante frei Vicente do Salvador referir-se a “uma grande frota”,(37) no que é secundado por Gabriel Soares, que afirma ter o donatário ordenado “à sua custa uma frota de navios”,(38) o mais razoável é admitir a expedição limitada a uma caravela – a Grorya. Nela embarcaram, no porto de Lisboa, em princípios de 1535,(39) Vasco Fernandes Coutinho e sua gente.
Em que pese a autoridade de alguns historiadores,(40) é duvidosa a presença da família do chefe da expedição na comitiva. Não é conhecida uma alusão que seja à legítima esposa do donatário na crônica da capitania. Ao contrário, tudo leva a crer que é Ana Vaz quem a substituirá, dando a Vasco Fernandes Coutinho um filho bastardo, herdeiro do nome paterno e, legitimado, seu sucessor na donataria.
Ignorados o dia e o mês exatos da partida das margens do Tejo, tudo se desconhece também sobre o curso da viagem, embora Rocha Pombo, interpretando elasticamente uma passagem de Simão de Vasconcelos,(41) insinue: “tinha naturalmente [o navio de Coutinho] tomado, em alguma das Capitanias do Norte, gente prática da costa”.(42)
NOTAS
(31) - VICENTE DO SALVADOR, Hist. Brasil, 95.
(32) - P. DE AZEVEDO, Primeiros Donatários, 201.
– VICENTE DO SALVADOR fala de “outros fidalgos”. Hist. Brasil, 95.
(33) - VARNHAGEN, HG, I, 217.
– BASÍLIO DE MAGALHÃES atribui a D. Jorge de Menezes a descoberta da Nova Guiné, em 1526 (Hist. do Comércio, 154, nota).
– Referindo-se a esse companheiro de Continho, escreveu CARLOS MALHEIRO DIAS: “turbulento D. Jorge de Menezes, celebrado pela sua intrepidez no ataque ao Samorim de Calecute, e que o vice-rei D. Nuno da Cunha castigara pelos desvarios cometidos nas Molucas, mandando-o algemado para Lisboa, de onde D. João III o deportou para o Brasil” (Regimen Feudal, 243).
(34) - “Segundo os linhagistas,* D. Jorge de Menezes era filho bastardo de D. Rodrigo de Menezes, filho segundo de D. João de Menezes e de D. Leonor da Silva. D. Rodrigo foi comendador de Grândola, guarda-mor do príncipe D. Afonso, filho de el-rei D. João II e mordomo-mor da rainha D. Leonor. Casou três vezes e teve bastardos. Um destes bastardos é o referido D. Jorge, capitão de Moluco, que foi degredado para o Brasil por matar a Gaspar Pereira, capitão da mesma fortaleza, onde morreu sem casar. Teve bastarda D. Inês, freira da Anunciada de Lisboa.
Os historiadores referem-se com horror a D. Jorge de Menezes, como se houvesse sido um monstro de perversidade, mas o fato é que o seu único crime foi o apontado, não havendo base para outras acusações; e esse crime resgatou-o morrendo na guerra com os índios revoltados” (P. DE AZEVEDO, Primeiros Donatários, 201).
* Rangel de Macedo, cód. 387 da Pombalina, fl. 182 v. (apud P. DE AZEVEDO, Primeiros Donatários, 201).
(35) - Não obstante apontar D. Simão de Castelo-Branco como fidalgo de elevada nobreza, PEDRO DE AZEVEDO escreveu: “esse nem sequer os nobiliários citam, apesar de não ser fácil omitir-se neles algum nome dos depositários do título de dom, que representa o mais elevado grau de nobreza portuguesa, sendo outrora castigado severamente quem o usasse indevidamente”.
RANGEL DE MACEDO** aponta nos seguintes termos um cavaleiro assim chamado por esse tempo: “D. Simão de Castelo-Branco, filho segundo dêste D. Pedro de CasteloBranco, serviu em Azamor com cavalos e criados à sua custa donde veyo desgostoso com ElRey, D. João o 3.° por cuja causa se foy para Castella e se achou com o Emperador Carlos 5.° na conquista de Tunes e na jornada e naufrágio da Armada de Argel. Casou com D. Maria de Menezes, filha de Manuel de Noronha da Câmara e de sua primeira mulher D. Brites de Menezes.
É, pois, mais provável que o companheiro de D. Jorge de Menezes, que foi morto pelos índios em seguida a esse fidalgo, fosse apenas um obscuro, Simão de Castelo Branco” (P. DE AZEVEDO, Primeiros Donatários, 201) .
– ROCHA POMBO di-lo “companheiro de troça de Jorge de Menezes” (HB, III, 225).
** Cod. 369 da Pombalina, fl. 162 v. (apud P. DE AZEVEDO, Primeiros Donatários, 201).
(36) - SOARES, Notícia, I, 171.
(37) - Hist. Brasil, 95.
(38) - SOARES, Notícia, I, 171.
– ‘”Fez em Lisboa huma boa Armada á sua custa” (VASCONCELOS, Crônica, I, 58).
– “No ano de 1525 (sic) sahio da Corte a tomar posse della, com huma Esquadra de Navios á sua custa” (JABOATAM, Orbe Seráfico, I, 73).
(39) - ROCHA POMBO, HB, III, 224.
(40) - RUBIM diz: “embarcou com sua família” (Memórias, 201).
– ROCHA POMBO repete: “partiu de Lisboa com sua família” (HB, III, 224).
(41) - “Chegou a salvamento a esta costa do Brasil, onde por informações (ao que parece) dos que havião demarcado a terra, forão em demanda do porto, que hoje chamamos do Espírito santo” (VASCONCELOS, Crônica, I, 58).
(42) - ROCHA POMBO, HB, III, 225.
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, julho/2018
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