Um Major turbulento, mas honesto – Por Serafim Derenzi
O fidalgo Major Manuel Vieira de Albuquerque Tovar, cujo governo se caracterizou pelas lutas com o desembargador Alberto Antônio Pereira e seus afeiçoados, não foi atento às necessidades da pequena Capital. Gozando da confiança e simpatia de D. Rodrigo de Souza Coutinho, como seu antecessor, não lhe soube tirar partido. Limitou-se a prosseguir a tentativa de povoar o Rio Doce e manter-lhe a ilusória navegação. Reconstruiu a aldeia de Coutins, destruída pelos índios, dando-lhe a denominação de Linhares, em homenagem ao ministro amigo do Espírito Santo. Não é fácil se apreciar o governo do temperamental fidalgo, porque os historiadores se referem às violências praticadas, mas não são muito explícitos em enumerar as causas. De modo geral os Ouvidores das Comarcas não eram isentos de culpas. Viviam em permanente disputa com os governadores.
Os magistrados, por serem também de provimento régio, não gostavam de obedecer aos governadores. Com seus 400$000 de vencimentos anuais, obrigados à filáucia do cargo, nem sempre eram vestais. Escorregavam e, nesses desequilíbrios, às vezes sujavam a toga de nódoas que o sabão não limpa. O fato de a coroa preferir militares no governo das Capitanias, imperativo da vigilância contra o resgate dos navios estrangeiros, suscitava esses incidentes burlescos de os lavradores e negociantes serem obrigados, a critério do Governador, Comandante das Armas, a fazer exaustivos exercícios militares pelas ruas da Vila. (10) Essa prerrogativa, o Major Tovar a usou com exagero, contra seus desafetos, partidários do Desembargador Pereira. (11) Historiadores e testemunhos não pouparam a reputação do inflexível governador. (12) Mas ele levou a melhor. Conseguiu a demissão do magistrado após depoimento pessoal no Corte do Rio de Janeiro.
Tovar governou o Espírito Santo de 17 de dezembro de 1804 a 13 de setembro de 1810. Nesse intervalo D. João, Príncipe Regente, envolvido nas guerras napoleônicas, foi obrigado a se transferir, com sua corte decadente, para o Brasil.
Em 19 de março de 1808, debaixo da mais retumbante festa do Brasil-Colônia, a esquadra real ancorava na baía de Guanabara. É, sem dúvida, o acontecimento nacional de maior significação histórica e política. Não teve o menor reflexo no Espírito Santo. Tudo se passou como se nada houvesse ocorrido. A rotina continuou. Em 13 de setembro, ao deixar o posto, o substituto já não obedecerá mais, nem no executivo nem no militar, ao governo da Bahia.
Tovar, em 1811, puniu os funcionários da Junta da Real Fazenda por desfalque apurado em inquérito. Em 1812 criou e instalou a Colônia de Santo Agostinho, geratriz do município de Viana. Recensia a população da Capitania e as listas acusam 11.900 pessoas livres e 12.100 escravas, fraquíssima densidade demográfica para a superfície ocupada do Itabapapoana a S. Mateus. Já em Lisboa foi Tovar nomeado governador de Angola. Reconhecia-lhe D. João os méritos postos em dúvida pelos capixabas.
NOTAS
(10) Silva Pontes tinha a mesma impertinência.
(11) Daemon.
(12) Daemon, Rubim e Saint-Hilaire acusam-no de violências.
Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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