Estaleiro Naval - Por Cacau Monjardim (1982)
O governo do Espírito Santo assinou em 16 de fevereiro do corrente ano, com a interveniência da Brazilinterpart, um protocolo de intenções com o Grupo Lisnave, de Portugal, visando assegurar a implantação de um moderno estaleiro de reparos navais em nosso Estado, envolvendo recursos superiores a 200 milhões de dólares, viabilizando a criação de cinco mil novos empregos diretos.
Há cerca de 15 anos, quando o Espírito Santo resolveu enfrentar a velha dependência econômica do café, contrapondo opções geográficas ao eternos vazios da administração federal, ganhando espaços e sensibilizando os altos escalões para a viabilidade siderúrgica, portuária, para química e naval, iniciava uma arrancada que em breve responderia por investimentos superiores a 10 bilhões de dólares, gerando numa esteira quase infinita, milhares de novos empregos, afirmando-se já agora o Estado como o “único parceiro da economia paulista em termos de desenvolvimento”.
Uma explosão desta ordem teria que trazer no seu bojo um preço. Estamos descontando, conscientemente, as promissórias de nossa emancipação econômica. Estamos pagando, com o crescimento das deficiências infraestruturais – habitação, saúde, educação, saneamento básico e abastecimento – que exigem cada vez maiores recursos públicos e criam sérios problemas para a administração, a histórica escolha que fizemos.
Claro que esta escolha não vale o preço da alienação de toda a nossa gente. Temos que aprender a conviver com os reflexos deste crescimento, impondo pela força da razão e do bom senso, as medidas que possam dentro das avançadas opções tecnológicas, estabelecer um equilíbrio justo entre o progresso e as possíveis agressões ao meio ambiente, a ecologia e as mais desejáveis condições de vivência e lazer, conquistas de uma sociedade evoluída.
Hoje discutimos, sob impacto da paixão, um fato que é reflexo de um estágio de nosso desenvolvimento, alicerçado por esta incontornável posição locacional que exige, sem dúvida, um redimensionamento das nossas próprias posições.
Somo, todos, favoráveis à implantação de um estaleiro de reparos navais em nosso Estado. A questão de sua localização é que nos parece ser o aspecto mais perigoso, mais envolvente e, também, mais discutível.
Por ser assunto complexo, altamente técnico, não deve continuar sendo tratado em ritmo de noticiário policial, como tem acontecido, inadvertida e capciosamente, inclusive por pessoas que não têm autoridade para entrar no debate de tão importante decisão.
O governo não se definiu, senão pela formulação de uma válida e elogiável pretensão: a conquista do estaleiro naval. Hoje temos assegurada, apenas, a prioridade absoluta para sediarmos o estaleiro, em confronto com ponderáveis interesses econômicos de outros Estados. Apenas isto.
O Secretário Adhemar Musso Leal conduz as demais etapas, buscando o encontro de parceiros de porte para o empreendimento. Em seguida as equipes técnicas dos grupos interessados deverão examinar todas as opções locacionais, fixando-se naquela que melhor atender a todas as exigências, evidentemente, considerados os aspectos que venham a envolver arranhões no bem estar da população.
Outro aspecto que nos parece válido, é saber realmente se as atuais condições técnicas que se exigem num moderno estaleiro são as mesmas com as quais estamos habituados a conviver no curso dos últimos quinze anos. Muita coisa mudou. A tecnologia naval se desenvolveu, se modernizou, se aprimorou. Equipamentos altamente sofisticados balizam a tecnologia do ruído, da poluição ambiental, da balneabilidade das águas do mar e toda uma interminável gama de soluções que precisam ser analisadas com maior profundidade e serenidade. Repetimos que o estaleiro naval é um projeto para ser tratado sem passionalismos e sem repentes eleitoreiros.
O engenheiro naval Dorian Castelo Miguel, cuja autoridade é credora de respeito, em estudo elaborado recentemente, dentro do qual situa várias opções locacionais para um estaleiro naval no Espírito Santo, tem uma frase que bem traduz a nossa preocupação: “Ser dogmaticamnete contra a implantação de grandes projetos industriais para prevenir poluição ou contra o controle da natalidade, são atitudes que nos parecem românticas, irreconciliáveis e tendentes a gerar o caos social”.
Dorian Castelo Miguel identifica em seu trabalho, entre outras, duas opções que nos parecem muito oportunas e que devem ser consideradas prioritárias: as proximidades da foz do Riacho Soé, na margem norte da Barra de Santa Cruz, ambas no município de Aracruz.
Fonte: Capixaba, sim (hoje mais do que ontem), 2006
Autor: Cacau Monjardim Cavalcanti,1982
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2012
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