Uma Capitania Atribulada
Vasco Fernandes Coutinho lutou na África e navegou pelos mares da China, a serviço do reino de Portugal, nas primeiras décadas do século XVI. Herói habituado a vencer, poderia passar o resto da vida numa quinta perto de Lisboa, a consumir as mordomias que beneficiam os fidalgos. Só que quando o rei Dom João III lhe deu uma capitania com 50 léguas de costa, no Brasil, Vasco Coutinho investiu tudo o que tinha na aventura de colonizar o novo território.
Chegou em 23 de maio de 1535, com outras 60 pessoas, na caravela Glória. Na entrada da baía escolhida para sede da capitania mandou disparar tiros de canhão para afugentar índios que pareciam hostis. Desembarcou numa praia ao pé do Moreno, atual Prainha, no lugar que ficaria conhecido como Vila do Espírito Santo e, mais tarde, Vila Velha.
Aventura
Vasco começou a governar, mas sem muito sossego. Os homens que o acompanhavam estavam mais interessados em aventurar-se pelo sertão a dentro, em busca de ouro e pedras preciosas. Além disso, havia os índios, tentando sempre expulsar os invasores da terra onde viviam.
Dois anos depois de sua chegada, Vasco estava tão encurralado na defensiva, que deu a Ilha de Vitória a Duarte de Lemos, ex-soldado português na Ásia, que mudou-se para cá. Em 1539, confessando-se devedor de Pero de Góes, donatário de São Tomé (Rio de Janeiro), que lhe deu escravos e outros benefícios, Vasco fixou o limite sul da capitania no rio Itapemirim, cedendo assim um bom pedaço do seu território.
Como a situação não melhorava, em 1540 Vasco foi para Portugal, na tentativa de angariar recursos para explorar a capitania. Deixou como substituto Jorge de Menezes, “um depravado”, segundo o historiador Rocha Pombo. Nas mãos daquele preposto, a capitania degringolou ainda mais. Não se sabe ao certo quanto tempo Vasco Coutinho ficou em Portugal. Há registros que indicam que foi por volta de 10 anos.
Quando voltou, o Brasil era governado por Tomé de Souza, que trouxe os primeiros jesuítas. Logo que chegou foi tratado com maledicência não só por Duarte de Lemos, como por outros poderosos. Ao passar pela Bahia foi excomungado publicamente, ao vivo, do púlpito, pelo bispo Dom Pero Fernandes Sardinha, enojado com a mania que o donatário capixaba tinha: mascar fumo, um hábito indígena.
O último registro da presença de Vasco Coutinho no Brasil é de 1558, quando ele pede ajuda ao governador Mem de Sá para combater os índios. Por azar, no rio Cricaré, o filho de 20 anos de Mem de Sá perdeu a vida. Vasco deixou a capitania aos cuidados de Belchior de Azevedo que mais tarde transferiu o poder para Vasco Coutinho Filho.
Trecho transcrito do: Jornal A Gazeta (Projeto Educar).
26/09/94
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