Visita oficial do Imperador ao ES
O Presidente Pedro Leão Veloso teve o privilégio de hospedar suas Majestades Imperiais, quando da visita feita à Província. Foi o maior acontecimento da história social do Espírito Santo, desde o Brasil Colônia até a República. Sem expressão política e econômica, o Espírito Santo ocupava modesto décimo quinto lugar no seio da nacionalidade.
Sua pobreza proverbial era o refrão da correspondência entre governadores e ministro de Estado. A notícia auspiciosa, anunciada pela fala do trono de setembro de 1859, encheu o povo de júbilo, mas preocupou a esfera oficial. Os orçamentos minguados ou não, na era monárquica, não consignavam rubricas para representação e festas.
Pedro Leão Veloso teve que convocar a generosidade dos abastados a fim de que "voluntariamente" merecessem a honra de contribuir para as despesas indispensáveis à hospedagem dos Augustos Imperantes.
O Coronel João Nepomuceno Gomes Bitencourt, comandante Superior da Guarda Nacional, o Barão do ltapemirim e o Major Mateus Cunha associaram-se e responderam ao apelo do Presidente da Província, desvanecidos pela preferência.
Regressando de sua visita ao Norte do país, na manhã de 26 de janeiro de 1860, pelas oito e meia, aproou a flotilha de guerra, sob o comando de Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, na risonha baía de Vitória. Os Augustos Soberanos viajavam no navio Apa.
Estrugiram girândolas festivas. Os fortes S. Francisco e S. João dispararam suas baterias em continência militar. A cidade foi toda uma festa de orgulho patriota. O desembarque deu-se no Cais das Colunas ao meio dia, onde, em dois pavilhões armados para a cerimônia, um para as altas autoridades e outro para as senhoras gradas. A população da cidade, engrossada pelos das Vilas vizinhas, aguardava o momento de aclamar suas Majestades. Os vereadores estreavam suas fardas regimentais.
O Presidente da Câmara Municipal fez entrega simbólica da chave da cidade e deu o crucifixo a beijar, com breve alocução, a D. Pedro II. Agradeceu com simples e bondosas palavras o Imperador. Fez-se a apresentação de estilo. D. Teresa Cristina distribuía as graças de sua bondade às senhoras capixabas. Sob pálio subiram a escadaria do Palácio em demanda da Capela Nacional, igreja Santiago, onde ouviram um "Te Deum" cantado.
O Padre Francisco Antunes de Siqueira proferiu a saudação oficial. Das janelas do Palácio, lado da Misericórdia, suas Majestades receberam continência da Guarda Nacional e ovação do povo.
Seguiu-se o beija-mão e, depois da sesta, os Soberanos jantaram acompanhados pelo Presidente Leão Veloso. Faziam parte da ilustre comitiva João de Almeida Pereira Filho, Ministro do Império; Cândido José de Araújo Viana, camareiro; Luís Pereira do Couto Ferraz, veador e Dona Josefina da Fonseca Costa, dama de companhia da Imperatriz.
Comparada às visitas presidenciais, desta terceira República, é quase ridícula a modéstia com que os Braganças exerciam suas funções de Chefes de Estado. A austeridade e o respeito aos cofres públicos foram o apanágio do segundo Império. D. Pedro, quando adoentado, manifestou o desejo de ir à Europa, mas suas finanças não lhe permitiam gastos compatíveis com a dignidade dinástica. O negociante e rico proprietário Jerônimo Mesquita pleiteou a honra de lhe ofertar uma ajuda de custo de cinqüenta contos de réis. Nenhuma recompensa maior recebeu o filho do Conde de Bonfim senão o título de Barão de Mesquita.
O Imperador tudo visitou: conventos, igrejas, cemitérios, repartições, quartéis, escolas, hospitais e a cadeia.
Ao jantar do dia seguinte sentaram-se à mesa, além da comitiva, o casal Leão Veloso, o chefe de polícia, Dr. Manoel Pedro Vilaboim, o Barão do Itapemirim, o Major Mateus Cunha, o Coronel João Nepomuceno, o Coronel Comendador José Francisco de Andrade Almeida Monjardim e o médico Lima e Castro. A orquestra improvisada pelo maestro Baltazar Antônio dos Reis, professor de música do Ateneu Provincial, abrilhantou a solenidade. No dia 28 S. S. Majestades assistiram à missa no convento da Penha e visitaram a pequena Vila Velha. Os Imperadores viajaram para o Norte da Província a cavalo. Conheceram Serra, Nova Almeida, Santa Cruz e Linhares. A aproximação em cada vila era anunciada por foguetório a distância. Muitos não conheciam a arte pirotécnica, motivando as hipóteses mais disparatadas.
D. Teresa Cristina e D. Pedro, em Linhares, não puderam furtar-se à visita da Lagoa Juparanã. A ilha do Imperador, onde fizeram pequena refeição assinala, com marco comemorativo, a imperial presença naquele cenário maravilhoso de águas cristalinas, matas seculares e fauna prodigiosa.
Noventa e quatro anos depois outro chefe de Estado visitaria a histórica e minúscula ilha, o Presidente Vargas, quando de inauguração da monumental ponte sobre o Rio Doce, construído no governo do Dr. Jones Santos Neves.
Da capital seguiu o Imperador para Sta. Leopoldina e Sta. Isabel a inspecionar os novas colônias agrícolas de imigrantes teutos e italianos. Surpresa singular o aguardava na volta: na corveta "Elizabeth", da Marinha de guerra austríaca, fundeada no porto de Vitória, esperava-o seu primo, o Arquiduque Maximiliano, irmão do Imperador da Áustria, para cumprimentá-lo, por não o ter encontrado no Rio de Janeiro, donde vinha em regresso à sua pátria. Suas Majestades Imperiais, agora com maior conforto, seguiram, por mar, para Vila do Itapemirim, comboiados pela corveta austríaca.
De passagem conheceram Guarapari, Benevente e Rio Novo. No dia 7 de fevereiro retribuíram a visita do Arquiduque, em sua nave de guerra, e deixaram a Província, inteirados de suas imensas necessidades. Ouvi, de velhos descendentes do Barão de Itapemirim, ter sido este o único a não sentir saudades dos Imperadores. Preparara festiva recepção em sua luxuosa fazenda do Muqui: baixela e banheira de prata maciça, cortinas de brocado, tapetes orientais e cristais da Boêmia. Mas D. Pedro cancelou inopinadamente a visita, que aceitara fazer. A mágoa causada pelo orgulho ferido, adoeceu o cérebro do Barão prestimoso.
Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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