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Vitória-ES (Ação Declaratória) - Por Roberto Mazzini

Obelisco em homenagem a Vasco Coutinho - Foto: Lobão

Te vi desde quando?

Passei por ti, em caminho para o Convento, nos meus sete anos de idade mas dessa vez não te vi. Ou melhor, vi só o cais das barcas na praça Oito, ao lado da Alfândega, e o obelisco da Colonização equilibrado sobre quatro esferas de aço. Vi o rio largo que me diziam que não era só seu, porque pertencia também a outra cidade ou a outro país; um rio que tentavam me convencer que era o mar. Não me convencia porque o mar que eu pensava era bem diferente. Por fim, vi esse mar diferente do alto do Convento e fiquei sem fala e sem fome. Eu que gostava tanto de pão quentinho com manteiga, não consegui engoli-lo na volta da visita à Penha no Café Queiroz de Vila Velha. “Não quero, não estou com fome, minha avó”. A imagem inimaginável do mar diferente e ainda sem acreditar tê-lo visto.

De volta para a montanha, desde aí, no mapa da Oceania que ganhei de meu pai, olhava muito o azul do mar, irmão do mar do Convento.

A partir de então, procuro mas não sei dizer quando comecei a te ver de verdade Mesmo. Com meu amor crescendo, sem estardalhaço.

Mas nunca, devo lhe dizer, Vitória – ES, foi como ontem.

Ontem quando o outono já traz amansado este calor dos últimos desses e onde abril não foi – como já se disse – o mais cruel dos meses. Ao contrário. Abril nos trouxe as primeiras chuvas que faz chiar a chapa quente do verão com alguns aguaceiros consideráveis. Preciosos. Tudo, agora sei, para armar o cenário de ontem quando fui à Cidade e passei pelo bosque da praça dos Namorados e te vi na curva do Saldanha que exibia aquela faixa de mar, agora um mar de família, AI fundo, no campo da saudade, as montanhas azuis dos que chegaram de longe, me puseram no mundo e me trouxeram para cá.

Ao voltar da Cidade, já ao anoitecer, te amei tanto que nem posso dizer quanto ao chegar à praia de Camburi. Vi tuas luzes amarelas e o doce mar de ondas modestas ninando os coqueiros e suas folhas luzentes. Vi os passantes mergulhados nos encantos da tarde que ia indo, acompanhados pela sábia circunspecção do Mestre Álvaro, nosso guia e sentinela. Então, nessa tarde, me permiti, ignorar ainda mais que por um tempo curto, a triste estatística de males anunciada pelos jornais e me entregar apenas a esse amor com toques de esperança.

 

Fonte: Revista da Academia Espírito-Santense de Letras. Vitória – ES. 2007
Autor: Roberto Mazzini (cadeira nº 13)
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2012 

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