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1ª Feira de Amostras

Inauguração da 1ª Feira de Amostras de Vitória (1935), com a presença do Interventor Federal, Punaro Bley e demais autoridades

Em 1935 quando das comemorações relativas ao 4º Centenário da Colonização do Espírito Santo, promovida pela Prefeitura de Vitória com o apoio do então prefeito Augusto Seabra Muniz, foi realizada a 1ª Feira de Amostras com objetivo de divulgar os produtos e a cultura da terra capixaba. O Estado era governado pelo Interventor Federal, Capitão João Punaro Bley.

No discurso pronunciado pelo Dr. Augusto Seabra Muniz, nas instalações do Colégio Estadual de Vitória, o político renomado fala de seus conhecimentos na agricultura e em Exposições.

Quando prefeito de Cachoeiro de Itapemirim em 1926, realizou exposição municipal com o apoio da Sociedade Rural daquela cidade e como Secretário da Agricultura do Estado em 1932, estabeleceu o plano de uma grande Exposição - Feira Estadual, que a revolução o impediu de realizar.

Exmoº. Sr. Interventor Federal. Srs. Secretários do Governo.

Srs. e Sras.

“ A realização da 1ª Feira de Amostras desta cidade, promovida pela Prefeitura, teve como principal escopo a participação do Município de Vitória nas comemorações relativas ao 4º Centenário do povoamento da terra de Domingos Martins, o protótipo dos espíritos santenses ilustres. Sendo este Município sede da Capital de nosso Estado, justo era, portanto, que a contribuição da Prefeitura naquelas comemorações, fosse de molde a dar uma demonstração aproximada do nosso valor econômico. Daí, surgir a idéia de se proporcionar ao povo da Capital e à maior parte das populações do interior, o espetáculo de uma Feira de Amostras, que, pelo seu lado mais prático, mais comercial, e mais moderno mesmo, digamos, veio substituir as antigas Exposições, que, sobre serem mais dispendiosas nas suas instalações, para efeitos mais empolgantes pelo seu aspecto externo, não tinha o dom de despertar o interesse comercial, que existe em alta escala nas Feiras de Amostras, de cujos caracteres melhor participa o certame que a Prefeitura de Vitória tem a satisfação de inaugurar nesse momento.

Porém no objetivo que se procurava alcançar vários óbices se opunham, sobressaindo o da dificuldade de área apropriada, sabido que Vitória se caracteriza por sua áspera topografia, aliada à deficiência sufocante de áreas edificáveis, a não ser em pontos por demais afastados do seu grande centro urbano. Não deveria recair nossa escolha em outro local que não fosse este, sob pena de condenarmos o nosso projeto a um fracasso certo, - pois, debruçando-se sobre o mar por meio da curva graciosa de um pequeno cais, a área de terreno preferida tinha a se garantir, assim, o seu principal caráter, que é o da aprazibilidade, além de possuir, ao lado, este grande prédio público que, em sua vasta área coberta, permitiria logo a instalação da maior parte dos stands da Feira [1].

Sinceramente, porém, devo acrescentar que um certame de tal natureza, a atual Prefeitura de Vitória o realiza, porque o considera também de grandes efeitos benéficos na vida econômica não só do Espírito Santo, como também na de todos os outros estados que conosco mantém intercambio comercial. Em 1931, dirigindo a Secretaria de Agricultura do Estado, fiz organizar na Estação de Monta [2], em Morro Grande [3], pertencente àquela Secretaria, a exposição agro-pecuária de Cachoeiro do Itapemirim, que foi patrocinada pela Sociedade Rural daquela cidade. Já em 1932, quando ainda Secretário da Agricultura do Estado, estabeleci o plano de uma grande Exposição-Feira Estadual, que a revolução constitucionalista e os pesados encargos dela decorrentes impediram materialmente a realização. Ainda em 1926, quando prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, realizei, naquela pitoresca cidade sulina, uma exposição municipal, preparatória da exposição estadual, que, naquele ano, o Governo do Estado realizou nesta cidade e neste mesmo local. O êxito alcançado pelo Município que eu então dirigia nesses dois certames, foi apreciado pela imprensa oficial desta cidade com o seguinte tópico que peço permissão para aqui transcrever:

“Dos 31 municípios do Espírito Santo, poucos foram os que não concorreram à Exposição e dos que nele tomaram parte destacaram-se na quantidade e variedade de produtos que expuseram, os que aqui citamos, na ordem do seu maior coeficiente e que são: - Cachoeiro de Itapemirim, Vitória, Itaguassu, Colatina, Pau Gigante [4], Serra, Vila Velha e São Pedro de Itabapoana.

Coube, como se vê, o primeiro lugar ao Município de Cachoeiro do Itapemirim, que assim se impõe e sobressai pelo formidável desenvolvimento do seu solo, da sua indústria manufatureira e fabril e do seu intenso e animador movimento comercial, o que vale por colocá-lo em posto de incontestável destaque entre os restantes municípios espiritosantenses”.

Portanto, como confessei já, um outro objetivo orientou o meu espírito de administrador público ao tentar levar avante o empreendimento que hoje realizamos, - a certeza das vantagens dele decorrentes, do ponto de vista econômico e social, em benefício do interesse público. As vantagens econômicas decorrem logo ao contato que se efetua entre o produtor e o consumidor, entre o proprietário de matéria prima e o fabricante, entre o grande e o pequeno comerciante, entre o lavrador e o técnico experimentado, entre o administrador público idealista e as estatísticas e gráficos de resultados concludentes. Percorrendo os pavilhões oficiais neste certame, teremos logo uma demonstração nítida da realidade presente e das possibilidades futuras, se atentarmos cuidadosamente para os stands do café, de um lado e do cacau, da sericicultura e do algodão, do outro. – Em seguida, sopesando os números das estatísticas que nos demonstram a realidade da produção e do consumo desses produtos, chegaremos intimamente a conclusões lógicas sobre o cultivo daquele primeiro produto, que não pode fugir a estes três caracteres principais que denominaremos dos três BBB: bom, barato e bastante, e obteremos também uma demonstração segura das nossas grandes possibilidades quanto aos outros três. Pelas estatísticas que defrontaremos sobre o cacau, a seda e o algodão, veremos que estes três produtos racionalmente cultivados, têm probabilidades segura de êxito para a lavoura espírito-santense, e que, em um espaço de tempo muito menor do que aquele que é lícito imaginar, eles poderão proporcionar ao Espírito Santo um equilíbrio estável para a sua economia pública, desviando-o, ainda em tempo, dessa instabilidade financeira que a monocultura acarreta para o erário público e para a bolsa particular. Outras possibilidades se nos apresentarão ao percorrermos os mostruários dos diversos pavilhões, porém eu peço permissão para insistir naqueles a que me referi, porque, sobre serem produtos de garantida cultura em nosso Estado, porque possuímos terras ainda inexploradas em grandes extensões e que se prestam admiravelmente a este gênero de lavoura, são, além disso, gêneros de grande necessidade e cuja produção atual ainda fica aquém do consumo mundial para uns, como a seda e o cacau, porque para o outro, o algodão, temos a possibilidade de concorrer, em preço menor e qualidade, com os maiores centros produtores do mundo e que se acham localizados na América do Norte. A produção do algodão em São Paulo, pelo seu baixo preço e por sua apreciável qualidade, já vem influindo tão marcadamente no mercado mundial do ouro branco, que as grandes firmas exportadoras americanas já pensam em estabelecer lavouras próprias em alguns Estados brasileiros, conforme nos dão notícias os últimos telegramas recebidos e publicados pela nossa imprensa.

Para nos capacitarmos do que linhas atrás afirmei, basta saber que, ao longo dessa grande extensão de terras altas, que a E. F. Leopoldina percorre em sua maior parte, e que estavam destinadas a se cobrirem eternamente da samambaia, símbolo de terreno sáfaro, a cultura da amoreira e a criação do bicho da seda encontraram a sua zona apropriada de produção, como talvez não se encontre em nenhum dos países europeus e asiáticos, dentre aqueles considerados melhores produtores da seda. – Basta assinalar que em nossas terras os óvulos de lagartas podem germinar, em 3 e às vezes 4 épocas do ano, ao passo que, naqueles países, a produção vai ao máximo de duas vezes por ano. – Em nosso baixo Rio Doce que, sem favor algum, poderíamos comparar as terras fertilíssimas do baixo Nilo – encontramos o verdadeiro habitat do cacau. – Segundo um artigo que tive oportunidade de publicar no número especial do “Diário da Manhã”, comemorativo do 4º aniversário do governo do Sr. Interventor Federal neste Estado, ressaltei o fato da produção de cacau do nosso Estado já estar chamando a atenção das classes conservadoras do grande Estado da Bahia, que, em seu território, possui a segunda zona produtora de cacau do mundo. Se podemos produzir o melhor cacau, se o Governo do Estado confere, gratuitamente, terras a quem dedicar5 a essa lavoura, e se o cacau sai dos nossos portos,livre de impostos, quando na Bahia, ele deixa os postos de embarque já onerado com mais de 20% do valor do seu produto, em taxas e impostos, que perspectiva admirável não possuem os espíritos-santenses, para se livrarem rapidamente do perigo latente da monocultura do café!

Quanto ao algodão, poderemos, dentro em breve, seguir o exemplo formidável do grande Estado de São Paulo. As terras baixas, litorâneas de Serra, Santa Cruz, Timbuí, Riacho e São Mateus, prestam-se perfeitamente à cultura do ouro branco. Tão auspiciosamente têm sido as experiências levadas a efeito em Santa Cruz pelo seu prefeito, que este não trepidou em instalar, na sede de seu município, uma fábrica de óleos, que será alimentada com as sementes do algodão que aquela zona produz.

Do ponto de vista social é a seguinte a vantagem das realizações periódicas de empreendimentos como esse que ora instalamos: chamar a atenção do brasileiro para a realidade brasileira, que, segundo a frase de um grande compatrício, se resume em poucas palavras: rumo aos campos. Enquanto tivermos campos para lavrar, é um crime, penso eu, desperdiçar capitães, braços e tempo em algumas indústrias que só podem viver com proteção escandalosa e antieconômica das barreiras alfandegárias, provocando o êxodo dos campos e acarretando aos grandes centros urbanos a complexidade das inúmeras questões sociais.

Justificando, assim, a necessidade das breves palavras do Prefeito de Vitória, nesta soleniddade, eu termino agradecendo aos Srs. Prefeitos Municipais que se dignaram aderir a esta 1ª Feira de Amostras da Cidade de Vitória, emprestando o seu concurso para maior realce desta realização. – Aos Srs. expositores, de um modo geral, estendo também os agradecimentos da Prefeitura de Vitória, desejando-lhes completo êxito durante o funcionamento desse certame.

Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Nº 10 dezembro de 1935.
Compilação: Walter de Aguiar Filho, maio/2012

[1] A Feira de Amostras aconteceu na mais tradicional escola do Espírito Santo. Um símbolo para o estado, a ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

O “Colégio Estadual”, como ficou conhecido dos capixabas, foi criado pela Lei Nº 450, de 24/10/1906, pelo presidente Henrique da Silva Coutinho. Em 19/02/1908, pelo decreto nº 96, regulamentou-se o seu funcionamento criando-se um "Instituto de Ensino" nos moldes do "Gymnásio Nacional" com o nome de "Gymnasio Espírito-Santense", era uma escola masculina equiparada ao Pedro II, do Rio de Janeiro. Durante mais de 100 anos, foi sempre uma referência positiva para o Estado do Espírito Santo.

Com entendimentos com o Governo do Estado, baixou a Prefeitura o Decreto nº 572, de 12 de maio de 1934, instituindo a Feira de Amostras da cidade de Vitória e fixou sua instalação para o mês de dezembro. A administração da Feira ficou a cargo do Sr. Pedro Paulo Lanza.

[2] Estação de Monta é um período pré determinado para o acasalamento entre vacas e touros, utilizado em pecuária de corte.

[3] MORRO GRANDE

E. F. Leopoldina (n/d-1975)
RFFSA (1975-1996)
FCA (1996-2007)

Município de Cachoeiro do Itapemirim, ES
Ramal Sul do Espírito Santo - km 486,843 (1960) ES-0561
Inauguração: n/d
Uso atual: estação e depósito da FCA
Com trilhos
Data de construção do prédio atual: n/d

HISTORICO DA LINHA: O Ramal Sul do Espírito Santo, assim denominado pela Leopoldina teve sua origem na E. F. Sul do Espírito Santo, que tinha uma linha construída na região de Vitória e pertencia ao Governo do Estado do Espírito Santo, e na E. F. Caravelas, ambas adquiridas pela Leopoldina em 1908. A Caravelas partia de Vitória para Castelo, de um lado, e para Rive, do outro, bifurcando na estação de Matosinhos (Coutinho). Estes trechos estavam prontos desde 1887. Para chegar a Minas Gerais, na linha do Manhuaçu, como rezava o contrato, a Leopoldina levou cinco anos, abrindo o trecho Rive-Alegre em 1912 e até Espera Feliz, ponto final, em 1913. No final dos anos 60, o trecho Cachoeiro-Guaçuí foi suspenso para passageiros e finalmente erradicado em 26/10/1972. O outro trecho, Espera Feliz-Guaçuí, transportou passageiros até a sua erradicação, em 05/11/1971. Sobram ainda trilhos desde Cachoeiro até próximo à estação de Coutinho, para transportar mármore e granito das diversas serrarias dessas pedras que existem na região.

A ESTAÇÃO: A estação de Morro Grande era a primeira a partir de Cachoeiro do Itapemirim, no ramal Sul do Espírito Santo. Apesar da erradicação do ramal no começo dos anos 1970, os trilhos foram mantidos entre Cachoeiro e próximo à estação de Coutinho, para o transporte de mármore e granito das diversas serrarias dessa pedras que existem ao longo dos trilhos. Em 2005, o trecho inicial do ramal ainda está operante. Aliás, a estação de Morro Grande hoje tem uma importância muito maior do que no passado; foi incorporada em 1995 à variante que fez a ferrovia passar por fora da cidade de Cachoeiro do Itapemirim e é hoje o seu pátio principal ferroviário, mantendo o seu nome original. A estação foi desativada em 2007, não serve mais à FCA.

[4] IBIRAÇU – Em 1892 a vila e o município de Guaraná têm o nome mudado para Pau Gigante, e em 1943, o nome muda para Ibiraçu, que significa pau gigante.



GALERIA:

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História do ES

A história do Jornal A TRIBUNA

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Conheça a história do jornal A TRIBUNA, publicada na resvista da Associação Espírito-Santense de Imprensa (AEI) em 12/2008

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