Morro do Moreno: Desde 1535
Site: Divulgando desde 2000 a Cultura e História Capixaba

Visita de D. Pedro II ao Espírito Santo

Foguetes subiam no ar por toda a cidade, figura dos festejos da chegada do Imperador ao Cais das Colunas, a partir de 1860, Cais do Imperador - Foto Elmo Elton

Enfim, a chegada!

Pela manhã do dia 24 de janeiro de 1860 a esquadrilha de Suas Majestades Imperiais partia de Valença, Província da Bahia, levantando âncoras da enseada do Morro de São Paulo e seguindo por dentro dos Abrolhos, após dois dias de viagem, avistava, aos albores do dia 26, os contornos da serra de Mestre Álvaro, ponto de referência da baía de Vitória.

Quando, do topo do Monte Moreno, o vigia descobriu as embarcações que demandavam o porto, deu o sinal convencionado, acendendo uma girândola de foguetes. Incontinenti, outra girândola foi acesa pelo vigia da Fortaleza de São Francisco Xavier da Barra, e ainda ao mesmo tempo, outra, da Fortaleza de São João (N.R.: atual Clube Saldanha da Gama), elevava-se alvissareira acima do penedo, pondo em alvoroço os capixabas.

No torreão do palácio governamental foi arvorada a bandeira nacional e por dez minutos repicaram os sinos da capela nacional, os de São Gonçalo, Santa Luzia, São Francisco, Conceição, Carmo, Rosário, Misericórdia e Matriz. Aquelas festivas badaladas também marcaram as oito horas da manhã.

Tocou-se imediatamente, chamada da Guarda nacional e de 1ª Linha, para a formatura em honra dos augustos visitantes.

As embarcações ancoradas, os escaleres e os barcos particulares, embandeiraram-se e, obedecendo às instruções expedidas pelo capitão do porto, formaram em alas, “no intuito de facilitar-se a passagem da esquadrilha até o ancoradouro e o trânsito até o desembarque no Cais das Colunas”, conforme o programa.

“Tudo pôs-se em movimento – escreveu o correspondente do Jornal do Comércio – a Vitória despertou de seu contínuo letargo, em todos os semblantes divisava-se ansioso esperar pela honra do desembarque.”

Quando o Apa, navio que conduzia Suas Majestades Imperiais, à frente da esquadrilha, passava entre a ponta Ucharia e o rio da Costa, aproximando-se da Fortaleza de São Francisco Xavier da Barra, a qual servia para tomar o registro dos navios de cabotagem, prestando as devidas continências, os canhões da fortaleza abriram a salva de 21 tiros, enfumaçando em torno da grande bandeira auri-verde imperial, lá hasteada; a mesma que impressionara, pelo tamanho, o pintor François Biard, na sua chegada.

Além de Dom Pedro II e sua consorte, a Imperatriz Dona Teresa Cristina Maria, viajava naquele navio capitânia, pequeno séqüito: o Conselheiro de Estado, Cândido José de Araújo Viana, Visconde de Sapucaí, como Camarista; Conselheiro Luís Pedreira do Couto Ferraz, ex- governador da província (1846-1848), futuro Barão e Visconde de Bom-Retiro, como Viador; Conselheiro Antônio Manuel de Melo – Guarda-roupa; Dr. Francisco Bonifácio de Abreu – Médico da Câmara; Dr. Antônio de Araújo Ferreira Jacobina – servindo de Mordomo; Cônego Antônio José de Melo – Capelão; Dona Josefina da Fonseca Costa – Dama de S. M. a Imperatriz; mais alguns criados e criadas do serviço doméstico de S. S. M.M I.I. Também acompanhavam a S. S. M.M. o Conselheiro João de Almeida Pereira Filho – Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império e o seu Oficial-de-Gabinete, Dionísio Antônio Ribeiro Feijó – 1º Oficial da Secretaria do Império.

Antes que o Apa atingisse o começo da garganta que a baía forma em frente ao Penedo ou Pão-de-Açúcar e à Fortaleza de São João, antiga guardiã da entrada da capital, disparava esta os seus canhões cuja mudez permitia a familiaridade das teias de aranhas, ramos de matos e camaleões.

O correspondente do Jornal do Comércio registrou: “Ao passar pelas fortalezas foram Suas Majestades saudadas com as salvas que lhe são devidas, as quais correram regularmente, ao inverso do que quase sempre há acontecido, pelo mau estado da artilharia, pelo que não poucos desastres tem havido.”

O Imperador, a quem não escaparam os principais detalhes da viagem, após esquadrinhar os horizontes com o binóculo e a olho nu, pequeno lápis em punho , anotou na sua caderneta de bolso;

“Entrada do Espírito Santo, do lado do Sul MorenoPenha; Mestre Álvaro do lado do Norte que se vê com tempo claro até 60 milhas ao mar; baixos do Burro e Cavalo ao Sul e da Baleia ao Norte; ilha do Boi, do Des. Souto forte do Moreno; Vila-Velha na base da Penha; portão e nicho no começo da subida para a Penha; Pão d’Açúcar ao Sul; forte de São João ao Norte; Jucutucoara o do lado N., com seu mamilo sobre o comprido de granito no alto da montanha, boa casa; do Monjardim, genro do Capitão-mor Francisco Pinto do lado do Sul sítio da Pedra d’Água, ou de Santinhos.

Fundeamos perto da ponte de desembarque às 9, ¾. Desembarque ao meio-dia.”

 

Fonte: Livro Viagem de Pedro II ao Espírito Santo, ano 2008
Autor: Levy Rocha

Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2010 



GALERIA:

📷
📷


História do ES

Ano de 1863 – Por Basílio Daemon

Ano de 1863 – Por Basílio Daemon

Publica-se neste ano, nesta capital, a 12 de julho, o primeiro número de um periódico sob o título O Amigo do Povo, sendo político e noticioso

Pesquisa

Facebook

Leia Mais

O Espírito Santo na 1ª História do Brasil

Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576

Ver Artigo
O Espírito Santo no Romance Brasileiro

A obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro

Ver Artigo
Primeiros sacrifícios do donatário: a venda das propriedades – Vasco Coutinho

Para prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda

Ver Artigo
Vitória recebe a República sem manifestação e Cachoeiro comemora

No final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações

Ver Artigo
A Vila de Alenquer e a História do ES - Por João Eurípedes Franklin Leal

O nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto... 

Ver Artigo