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A Era Vargas no ES - O Estado Novo

Capa do Livro do Fernando Achiamé - A Era Vargas

Bley é novamente nomeado interventor federal em 25 de novembro de 1937. O Estado Novo manteve o mesmo interventor, já então velho conhecido dos capixabas e experimentado conhecedor da política local. Um pequeno acréscimo nos versos de famosa marchinha de carnaval talvez sintetize bem o desfecho político do início do Estado Novo no Espírito Santo: “Mulata, mulatinha meu amor, fui (outra vez) nomeado seu tenente-interventor”.

O novo regime político dissolve o Congresso Nacional, as assembléias legislativas e as câmaras de vereadores e proíbe os partidos políticos. A queima das bandeiras estaduais na pira da pátria foi um ato simbólico que marca a anulação política dos estados em relação ao governo central (Carone, 1978).

Junto com os episódios relacionados à sua eleição indireta para o cargo de governador constitucional, Bley deve ter aprendido mais uma lição do seu mentor político, Getúlio Vargas, que numa disputa política não se fixava em nomes pessoais, mas trabalhava para que sua tendência política saísse vencedora. No entanto, não devemos dar curso a simplificações da conjuntura política espírito-santense do final de 1937 – como afirmar que Bley continuou no poder porque já era politicamente forte. Isso representava, então, uma meia verdade. Ele permaneceu no comando da política local porque soube se adaptar aos novos tempos e fazer com que seu grupo o acompanhasse nessa postura política. A prova está em algumas mudanças político-administrativas efetuadas no tabuleiro da administração estadual em dezembro de 1937 e início de 1938. Bley atrai para seu projeto continuísta parte do antigo Partido da Lavoura, aquela que não acompanhava Jerônimo Filho, e nomeia Nelson Monteiro secretário de governo da nova interventoria. Talvez ninguém quisesse resolver o passado recente e lembrar do interventor de 1938 que em 1930 o mesmo Monteiro era secretário da Presidência na Administração Aristeu Aguiar. Coerência não entrava nos novos acordos políticos de Bley com parcelas da oligarquia.

Carlito Medeiros, após brigar com Bley, em 1936, por não ter recebido o seu apoio político na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa, com ele se recompõe e é designado novamente para o comando do Regimento Policial Militar. Além disso, Bley confiram Carlos Lindenberg como secretário da Agricultura, Terras e Obras, e “renova” as importantes secretarias da Fazenda e da Educação com, respectivamente, Oswald Guimarães, seu amigo particular e fiador junto às classes dominantes desde os episódios de outubro de 1930, e Fernando Duarte Rabelo, que tinha seu chefe de polícia e agora desempenharia nova missão reformista autoritária: a de “nacionalizar o ensino” nas regiões de colonização alemã e italiana. Para a também importante secretaria do Interior e Justiça o escolhido foi Celso Calmon Nogueira da Gama, de ilustre estirpe linharense. Ou seja, se a hegemonia do grupo de Bley já era muito grande, precisava ser garantida e ampliada com uma reformulação política precisa, em que algumas peças fossem trocadas para que o conjunto continuasse mandando da forma costumeira.

Como citado antes, membros da elite política espírito-santense logo perceberam os exageros patrióticos do tenente-coronel Lopes da Costa, militar integralista e um dos executores no Espírito Santo do estado de guerra, e o apelidaram de “altar da pátria”. A foto mostra uma cerimônia no chuvoso 19 de novembro de 1937, quando, no Parque Moscoso, foi montado um desses cenários, no caso, em homenagem ao Dia da Bandeira. As pessoas do povo, muitas delas, talvez não atinassem o que estava acontecendo, mas as autoridades, essas sabiam o que se sacrificava nesse “altar”: o frágil regime democrático.

Não se pode descartar a hipótese, a ser comprovada por estudo específico, de que a criação da revista Chanaan em 1936 tenha sido iniciativa de grupo econômico (talvez ligado ao comércio cafeeiro) que apoiava o governador e comungava da sua ideologia liberal democrata, de forma a concorrer com a tradicional Vida Capichaba, cada vez mais alinhada com as idéias integralistas, apesar de continuar cortejando em suas páginas a administração estadual, da qual dependia financeiramente para sobreviver.

Esse “partido” mais recente, a revista Chanaan, logo se posiciona em relação aos novos tempos. No seu número de novembro de 1937 estampa na capa uma alegoria do que seria a realidade política daí em diante, do ponto de vista do poder vigente. Não mais confusões e brigas partidárias que atrapalhassem a boa marcha da administração; agora todos unidos e submetidos aos ditames e interesses do governo central e do seu Estado Novo. A frase ao pé da alegoria sintetiza a hegemonia almejada pelos governos do estado e da União nesse final de 1937: “Acima das competições partidárias a unidade da pátria”.

 

 

Fonte: O Espírito Santo na Era Vargas (1930-1937) – Elites Políticas e reformismo autoritário, 2010
Autor: Fernando Achiamé
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2011

 

 

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