A expulsão dos jesuítas
Ao despontar o ano de 1760, o Espírito Santo perdeu a poderosa força que, havia mais de dois séculos, vinha colaborando no seu desenvolvimento: os jesuítas. Foi a vinte e dois de janeiro daquele milésimo que Vitória assistiu ao embarque dos dezessete inacianos(17) que, ao tempo, residiam na capitania. Era a execução do alvará(18) de D. José, que expulsava de Portugal e domínios todos os membros da Companhia de Jesus.
Como a significar a importância que a Coroa e seus delegados emprestavam ao assunto, a diligência da prisão dos jesuítas, no Espírito Santo, foi cometida ao desembargador João Pedro de Sousa Sequeira Ferraz,(19) da Relação do Rio de Janeiro. Aqui chegado a quatro de dezembro do ano anterior,(20) no mesmo dia fez cercar o Colégio dos padres, mantendo-os em custódia até que fossem arrebanhados os das residências: Muribeca, Itapoca e Araçatiba; e os das missões dos Reis Magos e Iriritiba.(21) Àquele dia, acompanhados de Ferraz, seguiram – pela nau Libúrnia(22) – com destino ao Rio de Janeiro, de onde, mais tarde, embarcaram para o exílio.
Seguiu-se a devassa, presidida pelo padre Antônio Esteves Ribeiro, vigário colado da vila de N. S. da Conceição de Guarapari, tendo sido ouvidas, como testemunhas, sessenta e duas pessoas.(23) Informa Alberto Lamego: “Quase todos os depoimentos versavam sobre as terras da fazenda da Muribeca”,(24) por certo a mais importante propriedade da Companhia, no Espírito Santo.
Prejuízos sofridos pela catequese e ensino
Faltam elementos para fixar com precisão os efeitos provocados, na capitania, pela retirada dos jesuítas. Não foi de menor expressão a desordem trazida à política de aperfeiçoamento dos indígenas, que, em massa, desertaram as aldeias, de regresso às brenhas de origem.(25)
No terreno precaríssimo da instrução, foi enorme o prejuízo. A biblioteca da casa(26) desmantelou-se. Anos mais tarde, o Tribunal da Mesa Real Censória exigiu os livros, cabendo ao ouvidor da comarca a tarefa de deitar bando e recebê-los, em restituição, das mãos dos que se acusaram.(27) Em 1794, incendiou-se o remanescente.(28)
NOTAS
(17) - Baseando-se nas informações do padre Francisco da Silveira, Serafim Leite afirma que era aquele o número de jesuítas embarcados no Espírito Santo. CAEIRO, por exemplo, dá dezesseis (Jesuítas, 254). SERAFIM LEITE explica a sua afirmação: “Outros autores variam, mas Silveira é primeira fonte” (HCJB, VI, 142).
– Entre os inacianos integrantes da turma que partiu do Espírito Santo contava-se o escritor Manuel da Fonseca, autor da célebre Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes.
(18) - Ato de três de setembro de 1759 (TEIXEIRA, Dicionário, 494).
(19) - LEITE, HCJB, VI, 141-2; ALMEIDA (Inventário, I, 395) grafa Siqueira.
(20) - CAEIRO, Jesuítas, 253.
(21) - LAMEGO, Terra Goitacá, III, 153, 171-2.
(22) - CAEIRO, Jesuítas, 255.
(23) - LAMEGO, Terra Goitacá, III, 214.
(24) - Efemérides, I, 247.
(25) - LAMEGO, Terra Goitacá, III, 153.
(26) - “Boa livraria”, escreveu LEITE (HCJB, VI, 141).
(27) - Três documentos sobre esse detalhe in Inventário, de ALMEIDA, II, 253.
(28) - “...por ter-se acidentalmente queimado em 1794 a biblioteca dos extintos jesuítas”. (INÁCIO ACCIOLI DE VASCONCELOS, Memória anexa ao ofício de vinte e três de abril de 1828, dirigido ao ministro da Justiça Lúcio Soares Teixeira de Gouveia – Ms. Pertencente ao acervo da BN, onde tem o número I-11, 4, 3).
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018
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