Ano de 1849 – Por Basílio Daemon
1849. Sai à luz da publicidade, nesta capital, no dia 17 de janeiro deste ano, o primeiro número de um jornal de pequeno formato sob o título de Correio da Vitória, (565) de propriedade e redação de Pedro Antônio de Azeredo, natural do Rio de Janeiro, que comprara para esse fim a antiga tipografia pertencente à viúva do finado Aires Vieira de Albuquerque Tovar. De formato diminuto foi o Correio da Vitória nos primeiros anos, indo aumentando de ano a ano até chegar ao ponto em que, na imprensa, conhecemos por formato regular. Contratara o proprietário e redator Pedro Antônio de Azeredo a publicação dos atos do governo e mais impressos, segundo a lei nº 6, de 23 de março de 1835, mas não sob todas as bases do contrato feito por Aires Tovar a 17 de setembro de 1840 com o presidente da província Dr. João Lopes da Silva Couto, que o mandara lavrar pelo então secretário do Governo, coronel Dionísio Álvaro Resendo, o qual obrigava o contratante a dar duas folhas por semana, em formato pequeno, em papel ordinário, e de que receberia de cada número que saísse a quantia de 10$000, sendo o prazo do contrato por dez anos,(566) com obrigação de serem fornecidos ao governo 120 exemplares, cuja relação fora escrita pelo mesmo secretário do governo. O contrato, porém, feito com o Pedro de Azeredo, teve outras garantias e melhores condições. Pode-se dizer ter sido o Correio da Vitória o primeiro jornal que teve esta província, visto que o Estafeta só publicou um número e esse mesmo pouca circulação teve. Por morte de Pedro Antônio de Azeredo passou a tipografia a ser de propriedade do capitão José Francisco Pinto Ribeiro e Jacinto Escobar Araújo, que ainda publicaram o Correio da Vitória por alguns anos, tendo o mesmo tido a existência de vinte e quatro anos, sendo para lamentar que o primeiro jornal que teve a província e já com não pequena duração viesse a desaparecer pela falta de meios para sustentar-se! O Correio da Vitória foi até os últimos tempos de sua existência quase sempre folha semi-oficial.
Idem. Naufraga à noite de 9 de fevereiro deste ano, na barra desta cidade, a sumaca nacional Santa Ana, (567) de que era proprietário Francisco José dos Santos e mestre Manoel Martins de Amorim, vindo a mesma, impelida por forte ventania, a bater sobre a laje conhecida por Baleia, dando fundo entre o monte Moreno e ilha do Boi, mas com água aberta quase a soçobrar ali; sem ter pedido socorro algum, mas sendo vista pela manhã, no dia 10, pela gente da Fortaleza de São Francisco Xavier, com um tiro de peça fizeram sinal ao patrão-mor que logo seguiu para ali e salvou o mestre e tripulação em número de sete. O fazendeiro Bernardino da Costa Sarmento, morador em Piraém, também prestou socorros. Sobre este naufrágio contam-se bons episódios.
Idem. Aporta inesperadamente nesta cidade, no dia 16 de fevereiro deste ano, o vapor de guerra Afonso, comandado pelo capitão-de-mar-e-guerra Joaquim Marques Lisboa (hoje visconde de Tamandaré), trazendo a seu bordo 218 prisioneiros de guerra da revolução de Pernambuco,(568) entre eles os deputados Vilela Tavares, Lopes Neto, Peixoto de Brito e general Abreu Lima, estes últimos feridos gravemente no combate de 2 deste mesmo mês e ano.
Idem. Toma posse a 7 de março deste ano, da administração da província o desembargador Antônio Joaquim de Siqueira, que pouco se demorou no Espírito Santo, passando a administração a 21 de julho, por ter obtido exoneração a 28 de junho deste mesmo ano.
Idem. Tendo-se insurgido neste ano, no dia 19 de março, os escravos das fazendas da freguesia de São José do Queimado, e havido no dia 20 um ataque no lugar chamado Aruaba, entre eles e a força de linha comandada pelo alferes José Cesário Varela da França, sendo coadjuvado espontaneamente por seis cidadãos, entre eles pelo então bem moço o Sr. coronel Manoel Ribeiro Coutinho Mascarenhas, todos sustentando fogo contra os insurrecionados com o maior valor, deu em resultado muitos escravos se refugiarem nos sertões, por muito tempo esteve a força ali estacionada e os lavradores de Cariacica, Serra, Itapoca e Queimado se conservaram sempre armados.(569) O pânico por este fato foi imenso em toda a população da província; daqueles insurgentes foram logo alguns capturados e outros posteriormente sofreram castigos nesta cidade, sendo também justiçados dois cabeças pelos crimes que cometeram entre eles Prego e João, tendo os outros três condenados à forca um se suicidado e outros fugido da cadeia, dos quais não houve mais notícia alguma.(570) Muita energia mostrou e serviços prestou nesta ocasião o alferes Varela França.
Idem. Aparece neste ano, no mês de maio e junho, no sítio Jaçapê da freguesia de Carapina, um indivíduo de nome Francisco Lima, dizendo-se enviado de Jesus Cristo e inculcando-se de sacerdote, e assim batizava, pregava, administrava o crisma, casava, dispensava aos nubentes dos impedimentos dirimentes, oficiava, dizia e cantava missa, fazendo prosélitos que o acompanhavam e acreditavam em seu apostolado, ao ponto de pedirem paramentos ao vigário para este Santo Milagroso, como o chamavam. Bêbado por natureza e atacado do cérebro por excessos de bebidas, nas ocasiões lúcidas era quando esforçava-se a explicar os mistérios e entregar-se ao ministério sacerdotal; mas perseguindo-o a polícia e prendendo-o, apesar das adesões que tinha dos crédulos e pobres de espírito, foi recolhido ao Hospital da Misericórdia, onde sofreu exame de sanidade no dia 2 de julho deste mesmo ano, declarando os facultativos Filipe Pornim e Francisco Barata terem reconhecido no Apóstolo desarranjo mental e monomania religiosa.
Idem. É neste ano aprovado o compromisso da Irmandade do SS. Sacramento da Matriz de Nossa Senhora do Amparo, da vila de Itapemirim.(571)
Idem. Tendo sido nomeado por carta imperial de 28 de junho deste ano, para presidente da província, o oficial de Marinha capitão-tenente Felipe José Pereira Leal,(572) prestou juramento e tomou posse do cargo a 9 de agosto deste mesmo ano, sendo exonerado a 31 de maio de 1851.
Idem. Assume a administração da província em 21 de julho deste ano o 2º vice-presidente José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, por ter-lhe passado a administração o presidente Antônio Joaquim de Siqueira.
Idem. Assume neste ano a administração da província no dia 2 de agosto o já então barão de Itapemirim, José Marcelino da Silva Lima, quando se achava administrando a província o 2º vice-presidente coronel Monjardim.
Idem. Assume a 9 de agosto deste ano a administração da província o oficial de Marinha capitão-tenente Felipe José Pereira Leal, por ter prestado juramento neste mesmo dia e mês.
Idem. Soçobra no dia 25 de agosto deste ano, na altura do Riacho, a lancha São Pedro, de propriedade do negociante José Pinto Ribeiro Manso, que nela ia com tripulação, ficando naquele dia somente sobre a quilha da embarcação o mesmo Manso e três tripulantes, o que fora visto pelo dono e mestre da lancha Penha, Manoel Elias do Carmo, inimigo de Manso e com quem andava rixoso. Dizem que Elias não o salvou nem aos três marinheiros por não o ter querido, como foi confessado; não mais souberam-se notícias desses desgraçados, que a voz pública diz ainda hoje terem perecido por não lhes ser dado socorro pela tripulação da lancha Penha, apesar dos náufragos terem pedido para o fazer, ao que se negara Elias, que mais tarde com os outros acabou desgraçado.
Idem. Neste ano, a 8 de setembro, tenta um malvado assassino cortar a existência do coronel Dionísio Álvaro Resendo, que achando-se habitando com sua família em um sítio, a não ser a coragem de sua virtuosa esposa e a fidelidade de um escravo, teria sido vítima.
565 (a) “Saiu à luz da publicação aos 17 de janeiro de 1840...” [Pereira, Imprensa, p 29]. Revista do IHGES. (b) Correio da Vitória. Tip. Capitaniense, n. 1, publicado em 17 de janeiro de 1849.
566 “Para o expediente, e impressão de leis é reconhecidamente insuficiente a quantia de RS 500$000, ora votada, por isso aumentei-a no orçamento para o ano futuro. Julgo a propósito tratar neste lugar da publicação dos atos da presidência, que foi contratada, como sabeis, por um dos meus antecessores com o editor do Correio da Vitória pela quantia de 1:000$000 de réis [anuais]. É incontestável que o referido editor adquiriu todo o direito, para que o contrato fosse fielmente cumprido, durante o tempo de 10 anos, observando, como há observado, as condições nele consagradas.” [Relatório com que o Exm. Sr. Felipe José Pereira Leal presidente da província do Espírito Santo abriu..., p. 32-3]
567 Azevedo, Naufrágio da sumaca nacional Sant’Anna, Correio da Vitória. Vitória, 14 de fevereiro de 1849, p. 4.
568 “Aportou ontem ao porto desta cidade, arribada, vinda de Pernambuco, com 4 dias e meio de viagem a nova barca de vapor Afonso; comandada pelo capitão de mar e guerra Joaquim Marques Lisboa, trazendo a seu bordo 218 prisioneiros da célebre e memorável ação dada no dia 2 do corrente, a fim de tomar carvão para seguir viagem para o Rio de Janeiro.” [Correio da Vitória, n. 10, 17 de fevereiro de 1849, p. 3]
569 (a) Afonso Cláudio cita “Ofício relatando com minúcias as providências tomadas pessoalmente desde a tarde de 19 de março no Queimado para reprimir a insurreição e remetendo por cópia o interrogatório feito ao preto Cipriano.” [Insurreição, p. 132] (b) Análise do acontecimento Insurreição do Queimado, segundo o jornal Correio da Vitória, o maior dos males, que nos podia oprimir. Constatações, providências e recomendações. [Comunicado, Correio da Vitória, n. 21, 28 de março de 1849, p. 3] (c) “Enquanto fazia seguir para a povoação insurrecta uma força de linha sob o comando do alferes José Cesário Varela da França, confia o restabelecimento da ordem...” [Cláudio, Insurreição, p. 61] (d) “Outras expedições foram enviadas a Cariacica e Itapoca, onde igualmente se fazia recear o aparecimento dos insurgentes.” [Cláudio, Insurreição, p. 61]
570 “Tem aqui cabida informar-vos que foram executados dois cabeças da insurreição, que explodiu no Queimado no dia 19 de março do ano próximo findo, não tendo sido os outros porque estes puderam evadir-se da cadeia desta capital, onde se achavam presos.” [Relatório com que o Exm. Sr. Filipe José Pereira Leal presidente da província do Espírito Santo abriu..., 25 de julho o corrente ano. 1850. Segurança individual e de propriedade, p. 14]
571 (a) Lei provincial nº 1, de 10 de maio de 1849, Art. 1º: É aprovado o termo de compromisso com a Irmandade do SS. Sacramento da Matriz de Nossa Senhora do Amparo, da vila de Itapemirim.
572 Relatório com que o Exm. Sr. Filipe José Pereira Leal presidente da província do Espírito Santo abriu..., 25/07/1850. Senhores Membros da Assembleia Legislativa Provincial, p. 5.
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, novembro/2018
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
Ver ArtigoA obra de Graça Aranha, escrita no Espírito Santo, foi o primeiro impulso do atual movimento literário brasileiro
Ver ArtigoPara prover às despesas Vasco Coutinho vendeu a quinta de Alenquer à Real Fazenda
Ver ArtigoNo final do século XIX, principalmente por causa da produção cafeeira, o Brasil, e o Espírito Santo, em particular, passaram por profundas transformações
Ver ArtigoO nome, Espírito Santo, para a capitania, está estabelecido devido a chegada de Vasco Coutinho num domingo de Pentecoste, 23 de maio de 1535, dia da festa cristã do Divino Espírito Santo, entretanto...
Ver Artigo