Ano de 1866 – Por Basílio Daemon
1866. Por decreto de 17 de fevereiro deste ano é nomeado chefe de Polícia desta província o bacharel Carlos de Cerqueira Pinto, que prestou juramento e entrou em exercício a 15 de setembro do mesmo ano, sendo removido no mesmo cargo para a província de Santa Catarina, a 30 de novembro de 1867.
Idem. É nomeado por decreto do 1º de março deste ano juiz de direito da comarca de São Mateus o bacharel Raimundo Furtado de Albuquerque Cavalcante,(687) que prestou juramento no dia 10 de março do mesmo ano, entrando em exercício a 18 de abril; em 8 de junho de 1867 foi nomeado chefe de Polícia da província de Minas Gerais.
Idem. Falece a 11 de março deste ano o antigo negociante desta cidade comendador Domingos Rodrigues Souto, nascido em Portugal, mas que, tendo abraçado a Independência do Brasil, tornou-se brasileiro adotivo. Prestou muitos serviços à causa pública, ocupou diversos cargos e foi deputado provincial. Deixou fortuna regular não só em moeda como em prédios, terrenos e escravos.(688)
Idem. É nomeado por decreto de 18 de maio deste ano juiz de direito da comarca da Vitória o bacharel Dídimo Agapito da Veiga, que assumiu o exercício a 27 de agosto do mesmo ano, tendo sido declarado avulso a 12 de abril de 1869, por não assumir o exercício, finda uma licença que obteve.
Idem. É instalada a 25 de maio deste ano a 1ª sessão da 16ª legislatura da Assembleia Legislativa Provincial,(689) concernente aos anos de 1866 a 1867, e reconhecidos deputados: comendador Rafael Pereira de Carvalho, coronel José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, tenente-coronel Manoel do Couto Teixeira, engenheiro Manoel Feliciano Muniz Freire, major Torquato Caetano Simões, tenente-coronel Alfeu Adelfo Monjardim de Andrade e Almeida, engenheiro Leopoldo Augusto Deocleciano de Melo e Cunha, tenente-coronel Henrique Augusto de Azevedo, engenheiro Pedro Cláudio Soído, Dr. Francisco Gomes de Azambuja Meireles, bacharel Joaquim Pires de Amorim, major Caetano Dias da Silva, Dr. Antônio Rodrigues de Souza Brandão, bacharel José Correia de Jesus, padre Domingos da Silva Braga, padre João Pinto Pestana, José Sebastião da Rocha Tavares, padre Manoel Pires Martins, tenente José Antônio Aguirre, Manoel Soares Leite Vidigal.(690) Foi composta a mesa do primeiro ano da legislatura: presidente coronel José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, 1º secretário engenheiro Manoel Feliciano Muniz Freire, 2º secretário major Torquato Caetano Simões. No segundo ano foi composta a mesa: presidente coronel José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, 1º secretário engenheiro Manoel Feliciano Muniz Freire, 2º secretário major Torquato Caetano Simões.(691)
Idem. Neste ano apareceu à luz da publicidade, na vila de São Pedro do Cachoeiro e no dia 1º de julho, o primeiro número de um periódico sob o título O Itabira, (692) defendendo as ideias da política conservadora, sendo o mesmo literário, agrícola, comercial e noticioso, redigido por Basílio Carvalho Daemon e editor João Paulo Ferreira Rios. Este periódico tornou-se afinal virulento pelas polêmicas que teve que sustentar; tornando-se, seis meses depois, de única propriedade e redação do mesmo Basílio Daemon, mas aparecendo mais tarde sob outro título.
Idem. Neste ano Manoel Amâncio da Silva, no dia 18 de julho, assassina barbaramente a Cândido, [e] abrindo-lhe o peito e extraindo o coração, trincou-o nos dentes, atirando depois para o mato o corpo do infeliz Cândido.
Idem. Neste ano, a 23 de julho, é publicado nesta capital o primeiro número de um pequeno periódico sob o título Diário Vitoriense, que pouca vida teve, suspendendo a publicação depois de poucos números.
Idem. A 23 de julho deste ano falece nesta capital, vítima de uma hidropisia, o arcipreste e vigário da vara padre-mestre Dr. João Clímaco de Alvarenga Rangel, formado em Direito, teólogo profundo, orador sacro dos primeiros que tem tido o Brasil, admirado por Monte Alverne e D. Manoel do Monte Rodrigues, de quem era amigo, tendo por vezes pregado na Capela Imperial perante um auditório escolhido. De talento e inteligência máscula, era respeitado por sua vasta erudição e saber. Como legista e teólogo era consultado. Ocupou diversos cargos de nomeação do governo, tendo sido eleito deputado geral e provincial, diretor do Liceu e lente de Latim.(693) Contava 68 anos de idade quando desceu ao túmulo, ralado de desgostos por traições políticas, tendo vivido os últimos anos de sua vida segregado da sociedade. Sua morte foi muito sentida.
Idem. Neste ano o hábil e ilustrado engenheiro Carlos Kraus organiza dois mapas geográficos da província do Espírito Santo, demarcando neles os locais das colônias, estradas e rios até então conhecidos.(694)
Idem. Por decreto de 10 de outubro deste [ano] é nomeado juiz de direito da comarca de Itapemirim o conselheiro bacharel Francisco Xavier Pinto Lima, que prestou juramento a 17 de maio e entrou em exercício a 29 de julho, sendo removido para a comarca do Bananal, em São Paulo, por decreto de 23 de março de 1870.
Idem. No mês de outubro deste ano revoltam-se os escravos da Fazenda da Safra, de propriedade da viúva D. Josefa Souto, causando horrível pânico às vilas de Itapemirim e Cachoeiro, tendo a 31 do dito mês sido ferido gravemente o feitor da mesma fazenda, que, achando-se à noite deitado em um quarto, foi atacado por dois escravos que, saltando a janela, descarregaram sobre Guilherme Johnson um golpe de foice sobre a região frontal, com o que despertara Johnson. Depois de grande luta, os escravos fugiram pela mesma janela por que haviam entrado, tendo o dito Guilherme saltado também a janela e prendido um dos escravos, apesar de bastantemente ferido, não sendo vencido por eles. Continuando sublevada a escravatura da mesma fazenda, parte dela fugida e outra, conquanto sossegada aparentemente, tramava secretamente contra a vida de muitos; apesar das providências tomadas pelas autoridades e entre elas pelo então delegado Dr. Pires de Amorim, é ainda barbaramente assassinado pelos ditos escravos o lavrador Antônio de Jesus Lacerda, que prestara-se com outros cidadãos a contê-los, e a apreender aqueles que achando-se fugidos, causavam terror à população, sendo portanto vítima de sua dedicação.
NOTAS
(687) “...juiz de direito de São Mateus bacharel Raimundo Furtado de Albuquerque, convidado em data de 10 de março último...,” [Relatório apresentado à Assembleia Legislativa Provincial no dia da abertura da sessão ordinária de 1866 pelo presidente Dr. Alexandre Rodrigues da Silva Chaves, Repartições Públicas – Secretaria da Polícia, p. 30]
(688) Jornal da Vitória, 14 de março de 1866, p. 3.
(689) Idem, 6 de junho de 1866, p 2.
(690) Lista de deputados eleitos para a 16º legislatura da Assembleia Legislativa Provincial. 25 de maio de 1866. [Pena,História da província, p. 100]
(691) Ofício de Assembleia Legislativa: Relação dos membros da Assembleia Legislativa Provincial que compõem a mesa da mesma Assembleia. 24 de maio de 1866.
(692) “Primeiro periódico publicado fora da capital. Tinha por programa ‘pugnar especialmente pelas ideias do liberalismo e do progresso em toda a sua plenitude’, prometia fugir dos artigos anônimos, críticas às vidas privadas, política, vinganças parciais e tudo o que era incompatível com a boa educação e nobreza de caráter. Tornou-se violento, sendo obrigado a suspender a publicação, e substituído mais tarde pelo Estandarte (1868).” [Pereira. Imprensa, p. 35]
(693)Jornal da Vitória, 25 de julho de 1866, p 4.
(694) Krauss, Carlos, Mapa geral das colônias de Santa Leopoldina, S. Isabel e Rio Novo na província do Espírito Santo, 1866; Mapa geral da província do Espírito Santo relativo às colônias e vias de comunicação. 1866
Nota: 1ª edição do livro foi publicada em 1879
Fonte: Província do Espírito Santo - 2ª edição, SECULT/2010
Autor: Basílio Carvalho Daemon
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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