Capitanias Hereditárias
Quando Vasco Fernandes Coutinho chegou à sua capitania, 35 anos após o descobrimento, todo o litoral brasileiro já era conhecido pelos principais navegadores europeus. Em 1501, o rei D. Manoel organizou uma frota de três caravelas com a missão de fazer a primeira exploração de todo o litoral das terras enunciadas por Cabral, cujo comando principal entregou ao experiente navegador português , Gonçalo Coelho. Uma das três caravelas foi comandada pelo grande nauta florentino, Américo Vespúcio, amigo dos mais ricos e influentes homens da Europa, inclusive dos reis católicos Fernando e Isabel, de Aragão e Castela. A esse respeitável mareante, coube o relato da expedição que foi entregue ao rei de Portugal, no qual, teria afirmado o seguinte:
“Nesta costa não vimos coisa de proveito, exceto uma infinidade de árvores de pau-brasil e já tendo estado na viagem bem 10 meses, e visto que nessa terra não encontramos coisa de metal algum, acordamos nos despedir dela.”
Tendo sido esse o teor da carta, é muito provável que a atenção da corte tenha permanecido voltada para a conquista do rico comércio de Calicute, nas Índias. Era preciso, primeiramente, consolidar o estabelecimento das feitorias ao longo da costa africana, onde floresciam o comércio árabe e os pontos de apoio às naves que retornavam das Índias Orientais carregadas de pimenta, gengibre, noz-moscada, almíscar, açafrão, sândalo, âmbar, seda, porcelana e, em pequenas quantidades, pérolas, rubis e até diamantes.
Portanto, podemos imaginar que durante os primeiros decênios a partir da descoberta de Pedro Álvares Cabral, a tarefa de colonização do Brasil tenha se processado em ritmo lento. Só mais tarde a costa brasileira passaria a ser visitada com frequência pelas naus portuguesas para que se assegurasse a posse das ricas terras descobertas. Por isso as primeiras viagens de ida ao sul do continente e o seu retorno, como também aquelas que rumavam, para as Índias, no oriente, objetivavam traçar o perfil do nosso litoral e garantir a sua posse.
Da região do Espírito Santo, sede da capitania, o monte Mestre Álvaro era a principal baliza dos navegadores, como também a abertura da barra, compreendida entre o morro do Moreno e aponta de Peraém e depois chamada de Ponta de Tubarão, foi assinalada como sendo a foz de um grande rio. Segundo narrativa de Varnhagen, quando Dom Nuno Leal aqui chegou, no dia 13 de dezembro de 1501, a denominou baía de Santa Luzia, por ser o dia da santa. Em razão disso, surgiram mais tarde, com o nome de Santa Luzia, a pequenina praia e o farol, ambos localizados ao pé do morro do Moreno.
Circulando pela Europa notícias da grande descoberta pelos portugueses, houve o imediato despertar de interesses dos reis aventureiros que financiavam os navios corsários que aqui estiveram.
Para melhor garantir a posse da terra, D. João III entendeu que deveria mudar o sistema de colonização. Para ele, seria impossível criar novos núcleos como os de São Vicente e Piratininga, que eram mantidos pelo Tesouro Real. O ônus seria pesado demais para a combalida economia do Reino Português. Nasceu então a idéia de dividir as terras recém-descobertas em capitanias hereditária e distribuí-las aos homens de sua confiança e aos merecedores da generosa recompensa pelas conquistas na África e na Ásia.
Em 1534, o fidalgo Vasco Fernandes Coutinho recebeu, a seu requerimento, no solar de Alenquer, o foral da donataria e, já em 1535, a nau Glória, com cerca de 60 homens, içava velas e se lançava ao grande mar com destino ao Brasil.
Fonte: VILA VELHA - Onde começou o Estado do Espírito Santo
Autor: Jair Santos
Compilação: Walter de Aguiar Filho, dezembro/2010
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