De 1960 a 1967 – Estudos e projetos de água para o ES
Atuação do Departamento de Água e Esgoto (DAE)
Em 1962, o diretor do DAE, Jonas Hortélio da Silva Filho, publicou um relatório definindo as obras necessárias para a solução definitiva do abastecimento de água de Vitória, Cariacica e Vila Velha. Já sinalizava que o manancial a ser aproveitado deveria ser os rios Jucu e o Duas Bocas. A vazão esperada com a captação do Rio Jucu era de 1,23 metros cúbicos por segundo. O DNOS forneceu o valor de 10,8 metros cúbicos por segundo como vazão mínima do Jucu. Quanto ao manancial de Duas Bocas, estimava-se captar 400 litros por segundo, de acordo com os estudos hidrológicos. A vazão esperada desses dois mananciais, somando 142.600 metros cúbicos por dia (1,63 metros cúbicos por segundo), superava a demanda necessária da população estimada em 129 mil metros cúbicos por dia (1,49 por segundo), considerando um consumo per capta de 330 litros diários, e um coeficiente de 1,25 para o dia de maior consumo.
Quanto ao Rio Santa Maria, Jonas Hortélio previu o futuro aproveitamento em função do crescimento populacional ou consumo industrial de monta, por meio de obras de captação próximas à localidade de Capitania, longe da influência da maré. A água seria recalcada por uma adutora de 1.000 mm de diâmetro e comprimento aproximado de 19 km até a ETA de Cobi.
Como se observa hoje, a previsão do engenheiro Jonas Hortélio de utilizar o Duas Bocas e, na sequência, os rios Jucu e o Santa Maria, estava correta. Com o Jucu, aconteceu a captação em 1977 e, com o Santa Maria, em 1983. A única diferença é que o Santa Maria da Vitória alimentou a Estação de Tratamento em Carapina (na Serra) e não a ETA de Cobi (em Vila Velha).
Quanto às obras imediatas, o engenheiro previu: captação no Jucu no início da Vala Neves, onde não mais se fazia sentir a influência da cunha salina; canal adutor destinado a levar água ao poço de sucção na Casa de Bombas; Casa de Bombas com quatro conjuntos de motobombas centrífugas e uma de reserva, tendo cada uma 600 HP, e recalcando 300 litros por segundo cada, com altura manométrica de 100 mca (metro de coluna de água); adutora até a ETA de Cobi com dois trechos, sendo o primeiro com recalque até um reservatório intermediário e, o segundo, por gravidade daquele ponto intermediário até a referida ETA; ampliação da ETA de Cobi com mais dois decantadores e mais oito filtros; construção de reservatórios em Vila Velha, Paul, Cobilândia, Jardim América, Santo Antônio e Praia Comprida; ampliação do reservatório inferior de Santa Clara assentado na cota de 45 metros; reforma das redes de distribuição da Zona Norte, Centro, Vila Velha, Ataíde, Glória, Paul e Jardim América; construção de nova barragem em concreto ciclópico no manancial de Duas Bocas a jusante da barragem existente; construção de uma nova adutora de 800 mm em ferro fundido, ligando a nova barragem de Duas Bocas à ETA de Cobi.
Sobre Duas Bocas, informação importante foi feita pelo engenheiro Elmo Luiz Campo Dall’ Orto, primeiro ex-conselheiro do DAE e ex-diretor do DNOS:
“Em 1960, ocorreu uma grande e excepcional enchente no mês de março, ocasião em que o nível da barragem de Duas Bocas estava subindo rápido e assustadoramente. Numa atitude corajosa, o engenheiro Jonas Hortélio, então diretor do DAE, autorizou a execução da abertura emergencial de um grande orifício (buraco) na parte lateral da tulipa e mais abaixo do vertedouro para que a água extravasasse em uma cota abaixo do vertedouro (sangradouro), pois a descarga de fundo não conseguia esgotar a vazão afluente e a subida do nível da água na barragem ameaçava o rompimento da mesma. A abertura foi feita com explosivos (dinamites) colocados na parede da tulipa voltada para o reservatório. Para fazer esse trabalho, estavam presentes Jonas Hortélio, Elmo Luiz Campo Dall’ Orto, e um técnico do Exército, especialista em dinamite. Nesse enorme rombo feito na parede, a água passou a verter.”
O engenheiro Helder Faria Varejão, ex-empregado e ex-diretor técnico da Cesan, relatou:
”Em 1969, por ocasião de uma grande enchente, estava ocorrendo o rompimento da barragem próximo ao centro da mesma. Naquela ocasião contou com a ajuda do DER, por meio do Sr. José Carlos Pereira Neto, que auxiliou nas intervenções de emergências com a utilização de máquinas para fechar a abertura que ameaçava romper a barragem. Foram lançados além de terras, bagaços de cana, bananeiras, vegetação, enfim, tudo que era possível. Posteriormente, o engenheiro Benedito Andrade aumentou a abertura do buraco para dar maior vazão nas enchentes. Também rebaixou e retificou a base do buraco em forma de um vertedor.”
Nas fotos é possível ver essa modificação no buraco.
A cota do vertedor original do projeto, no nível máximo, era de 190,50 metros. Após a abertura do orifício extravasor, passou a verter a água na cota de 184,43 metros na sua borda inferior, portanto, com um rebaixamento de 6,07 metros. A cota mínima de chegada à ETA era de 180,44 metros. Na cota de 184,43 (orifício), o volume armazenado que é condicionado pelo orifício extravasor tinha 1.929.500 metros cúbicos. Na cota de 190,50 metros (nível original da tulipa), o volume armazenado era de 5.285.272 metros cúbicos. Da cota do vertedor original de 190,50 até a cota de 172,30 metros do fundo da tulipa, o desnível foi de 18,20 metros. Na tulipa, existem mais aberturas feitas no concreto de dimensões menores e que, provavelmente, foram feitas com ferramentas manuais.
Barragem de Duas Bocas – Cotas dos níveis da tulipa e da chegada à ETA:
(Ver fotos do Projeto da Barragem de Duas Bocas abaixo do texto)*
Realizações do DAE e convênio com o DNOS
Mesmo com as obras emergenciais da nova captação no Rio Marinho e na Estação de Tratamento de Cobi, a linha adutora de 20 polegadas para o suprimento de água entre o continente e a ilha de Vitória continuava a mesma de 1936. Essa situação perdurou até 1963, quando se planejou construir uma rede adutora de 24 polegadas (600 mm), partindo da Estação de Tratamento de Cobi até a Praia Comprida.
Em 1964, a linha de recalque no trecho horizontal de 800 mm em aço, com apenas oito anos entre a elevatória no Rio Marinho e a Estação de Tratamento, começava a ser substituída, já que tinha sido instalada em terreno alagadiço e com características ácidas. A troca foi por duas redes de ferro fundido no diâmetro de 600 mm cada, assentadas num dique de argila compactada. Utilizou-se parte do material da adutora da Praia Comprida.
O convênio do DAE com o DNOS (final de 1963) para solucionar os problemas teve redução no ritmo de trabalho das adutoras de 600 mm da Praia Comprida e de 400 mm, de Vila Velha, por causa do plano de economia e contenção de despesas do Governo Federal e, também, por problemas financeiros do DAE.
Outras obras estavam em andamento pelo DAE:
- Recuperação da Estação Elevatória do Rio Marinho, com assentamento de dois conjuntos motobombas de 300 HP cada.
- Restauração da Estação de Tratamento do Alto de Cobi, com recuperação dos quatro filtros existentes.
- Construção da oficina eletromecânica para execução de todos os serviços.
- Aquisição de oficina completa de mecânica e de recuperação de motores elétricos. Os serviços que anteriormente eram feitos por terceiros, passaram a ser realizados com mão de obra própria.
- Assentamento da subadutora de 14 polegadas de ferro fundido para Jardim América e Paul, com extensão de 760 metros.
- Construção da subadutora da Praia da Costa de 8 polegadas, com 2.500 metros de extensão.
- Construção da rede de Santa Clara-São Francisco, de 8 polegadas em ferro fundido e extensão de 650 metros.
1964 – Relatório da Sondotécnica Engenharia de Solos para o DNOS
Em 1964, a Sondotécnica elaborou para o DNOS um relatório preliminar sobre captação provisória da água do Rio Jucu. Esse documento contém a concepção do conjunto de obras a serem projetadas sobre o Rio Jucu e a Vala Neves, com a finalidade de melhorar as condições de abastecimento de água de Vitória. O relatório continha basicamente o seguinte:
“O abastecimento d’água proveniente dos mananciais de Duas Bocas e pelo canal Marinho esteve a ponto de entrar em colapso. O canal Marinho é alimentado pelo Rio Jucu, através da Vala Neves aos quais se misturam as águas do Rio Formate. Cerca de 70% do abastecimento é feito através desse manancial, cujas águas são bombeadas para a estação de tratamento. Problemas de escassez de águas do Jucu, infiltração da água salgada através dos difusores laterais ao canal e excesso da poluição do Rio Formate, agravado pela maior concentração de indústrias na época de estiagem, levaram o DNOS a tomar providências imediatas tendentes a corrigir, pelo menos provisoriamente, esta situação calamitosa.”
As ideias gerais que nortearam as obras projetadas foram:
Na Vala Neves
Aumento da capacidade de adução da Vala em época de estiagem mediante a construção de uma barragem de laminação a jusante da sua entrada, elevando o N. A. do Jucu até a cota adequada.
No Rio Formate
Construção de uma pequena barragem-vertedor no curso do Rio Formate, com 3 a 4 metros de altura, deixando uma abertura no corpo da barragem para passagem do Rio Formate. Dessa maneira, isolavando esses dois mananciais, evitava-se o problema de poluição das águas devido, em grande parte, ao Rio Formate.
No Canal Marinho
Construção de uma obra adequada a jusante da Casa de Bombas, elevando o N. A. atual do canal em torno de 0,50 metros acima do piso atual da Casa de Bombas e conservando esse nível de forma constante. Isso implica no levantamento do piso das bombas e dos geradores em 0,50 metros acima do nível. Em consequência, o fluxo de infiltração se dá de dentro para fora do canal, evitando, assim, o problema da salinização de água provocada pela maré.
Cabe registrar que Robson Sarmento ingressou no DAE, em 1966, e permaneceu na Cesan até 1971. Mais tarde, em 1999, tornou-se presidente da empresa.
Fonte: Das Fontes e Chafarizes às Águas Limpas – Evolução do Saneamento no Espírito Santo – Cesan, 2012
Autor: Celso Luiz Caus
Compilação: Walter de Aguiar Filho, janeiro/2019
GALERIA:
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