Em 67 anos, Província do ES tem 96 Presidentes
A quantidade de governantes da Província do Espírito Santo, durante todo o período monárquico, é um indicador das dificuldades de administrar uma região que viveu à margem do progresso. Foi uma época de muitos relatórios e poucas obras
Durante todo o regime monárquico, que durou sessenta e sete anos, o Espírito Santo teve noventa e seis presidentes, entre efetivos e substitutos.
Mas o marasmo tomava conta da Província. A educação caminhava a passos lentos, os professores eram despreparados e mal pagos. Em 1830 o quadro de ensino público era, de fato, lamentável. Cursavam as aulas públicas de Vitória apenas 197 alunos.
A construção de estradas estava praticamente parada.
A estrada Espírito Santo—Minas (construída no governo de Alberto Rubim) fora abandonada. Uma das razões primordiais foi a existência de numerosas tribos de índios botocudos na região atravessada pela estrada. O terror assustava a população. Os índios atacavam as lavouras situadas nas proximidades das povoações, roubavam a colheita, aterrorizavam e matavam.
Há correspondência sobre o assunto, onde os presidentes solicitam ajuda dos órgãos centrais, em razão do terror da população e da dificuldade de penetração para o interior e de comunicação.
O Governo Provincial tentou colocar às margens da estrada os alemães que haviam servido nos batalhões de mercenários e mandados para o Espírito Santo depois da dissolução das suas unidades.
Mas a despesa com os colonos alemães seria maior do que as disponibilidades do governo. Dessa maneira, o plano foi posto de lado.
Os alemães deixaram as, terras capixabas, a maioria com destino a Porto Alegre. As revoltas dos escravos agitavam constantemente a vida dos capixabas.
Uma outra preocupação eram os índios. Da Corte vinha grande número de ofícios solicitando o ensino das primeiras letras à população infantil indígena.
Existe um depoimento, de muito interesse para um conhecimento do que se passava na Província, por volta de 1833. Assinado pelo Presidente Manoel da Silva Pontes, diz o seguinte: "As comodidades a que os homens reunidos têm direito não passam nesta cidade da casa do açougue, da banca do peixe e de dois chafarizes. Faltam-lhes casas para o mercado de farinha, grãos e legumes; não há logradouro público, nem campo onde descansem os animais destinados ao corte, nem curral do Conselho; faltam aos vizinhos e forasteiros restaurantes, estalagens e cavalariças, nem há prados que dêem pasto para cavalos de argola".
Um fato importante: em agosto de 1832, as Vilas de Campos dos Goitacazes e de São João da Barra voltaram a ser anexadas à Província do Rio de Janeiro.
Na verdade, o território daquelas Vilas não fazia parte da primitiva Capitania do Espírito Santo. E havia um constrangimento crescente entre os seus habitantes com o ato régio que os fizera dependentes da ouvidoria espírito-santense.
Campos foi sempre rebelde às ordens emanadas do Governo do Espírito Santo. Era difícil manter ali a ordem exigida pela administração. Sobre esse problema, o Presidente da Província oficiava ao Ministro do Império nos seguintes termos: "Julgo todavia do meu dever declarar a Vossa Excelência que faltam-me meios para sustentar a pública tranqüilidade. A força de primeira linha aqui existente é de trinta e uma Praças, espalhadas em diversos pontos e a Companhia Permanente consta atualmente de sessenta, acrescentando não estarem ainda organizadas de todo as Guardas Nacionais, já pela imperícia de muitos Juízes de Paz, já pela inaptidão dos Comandantes e Oficiais, a maior parte dos quais não se acham fardados, e já finalmente pela indiferença de alguns cidadãos..."
Brasileiros e portugueses se desentendiam com freqüência, em São Mateus e arredores.
As autoridades tentavam conter a onda de desordeiros, mas os agitadores cresciam em audácia.
Em fins de 1831, foi descoberto e abafado um serio levante de escravos em Itapemirim. Um grupo de mais de cem homens assassinou, em Benevente (1833) o capitão-mor Francisco Xavier Saraiva. Foi um Deus nos acuda!
Os historiadores concordam que os presidentes da Província se diferenciaram dos antigos capitães-mores e governadores, pelo nível cultural e espírito democrático. Houve muitos que alcançaram projeção no Império. Mas, pouco fizeram em benefício da administração provincial. Analisaram, escreveram relatórios minuciosos, apontaram necessidades básicas, enalteceram a exuberância do solo e suas possibilidades, mas os resultados práticos foram diminutos. Justamente trinta e dois anos depois do início da publicação da Gazeta do Rio de Janeiro, surgiu, editado no Espírito Santo, o primeiro jornal, em 1840. Foi O Estafeta. Teve apenas um número.
Nove anos mais tarde surgiu o Correio da Vitória, cuja circulação marcou, de fato, o aparecimento do jornalismo capixaba. Iluminação das ruas — Em 1832, foi consignada a verba de 600$000 (seiscentos mil réis), por ano, para a iluminação. O serviço foi inaugurado com 40 lampiões a azeite de peixe, distribuídos principalmente pelas esquinas e edifícios públicos. Em 1879, foi inaugurada a iluminação a gás.
Do gás, passou-se ao querosene e desse, à eletricidade, em 1903, em Cachoeiro do Itapemirim.
Biblioteca Pública — A Biblioteca Pública do Estado foi inaugurada em 16 de julho de 1855, em uma sala do hoje Palácio Anchieta. Dr. Sebastião Machado Nunes foi o responsável por essa inauguração. A Biblioteca fora iniciada com a doação de 400 volumes feita por Brás Costa Rubim, que enviou os livros do Rio de Janeiro, onde residia. A Assembléia votou auxílio de cem mil réis por três anos.
Em 1880, já contava com 2.000 volumes, reestruturada por Eliseu de Souza Martins.
Mercado — O primeiro mercado foi mandado construir em 1871 pelo Presidente Francisco Corrêa. Foi demolido em 1926.
Escola Normal — Em 1879, na administração do Dr.Eliseu de Souza Martins, foi construída a Casa da Instrução Pública, depois Escola Normal Pedro II. No governo de Jerônimo Monteiro, a Escola foi ampliada e melhorada.
Capitania dos Portos — Instalada em 1856. O Capitão de Fragata Francisco Luis da Gama Rosa foi o primeiro titular.
Escola de Aprendizes de Marinheiros — Fundada em 8 de fevereiro de 1861, o primeiro comandante foi o Capitão-Tenente Carlos Augusto Vitório. Ocupou o forte de Piratininga, antigo Forte São Francisco Xavier, em Vila Velha.
Fonte: Jornal A Gazeta, A Saga do Espírito Santo – Das Caravelas ao século XXI – 23/09/1999
Pesquisa e texto: Neida Lúcia Moraes
Edição e revisão: José Irmo Goring
Projeto Gráfico: Edson Maltez Heringer
Diagramação: Sebastião Vargas
Supervisão de arte: Ivan Alves
Ilustrações: Genildo Ronchi
Digitação: Joana D’Arc Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, junho/2016
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