Empecilhos à penetração territorial – Início do Século XVIII
Não pode ser silenciado o entusiasmo pela colonização que animou numeroso grupo de habitantes da capitania nesse princípio de século. Embora visasse o litoral e só em reduzida extensão penetrasse no interior, tem expressiva significação para os fastos da capitania, uma vez que assinala novo passo no sentido da efetiva conquista do território.
São conhecidos alguns nomes ligados a esse empreendimento, sendo de notar, entre eles, dois clérigos: padres Bartolomeu Martins e Domingos de Matos; e dois capitães-mores: João de Velasco e Molina e Manuel Correia de Lemos.
Localizaram-se todos nos sertões da vila de Vitória, proximidades da aldeia dos Reis Magos, no vale do Itapemirim e foz do São Mateus.(52)
Na correspondência oficial da época encontramos referências ao atraso no pagamento dos filhos da folha(53) e informações sobre a presença de um barco de piratas nos mares da capitania.(54)
De 1718 é uma ordem para o capitão-mor “alistar todos os homens e pardos forros, que houver em todos os distritos da Capitania capazes de tomar armas”,(55) e do ano seguinte a que determinava fosse examinado se todos os soldados da capitania tinham espingardas.(56)
Vale acentuar a recomendação do marquês de Angeja ao seu enviado, mestre de campo Domingos Teixeira, relativa à “proibição de que ninguém passe a fazer descobertas [de minas]” no Espírito Santo, “por ser ordem de El-rei se não façam estas enquanto se não fortifica primeiro a Capitania”.(57)
A primeiro de janeiro de 1721, João de Velasco e Molina encerrou seu segundo e último período de governo, passando a administração da capitania às mãos de Antônio de Oliveira Madail,(58) este com patente de capitão-mor-governador, subordinado à administração da Bahia.(59)
NOTAS
(52) - FELISBELO FREIRE (Hist. Territorial, 110-1) cita os alvarás por força dos quais foram concedidas as sesmarias, indicando os limites e extensões destas. Acrescenta-lhe o nome de Domingos Antunes, “natural da cidade do Porto, casado na vila da Vitória”, que, com sua família, se estabeleceu nas proximidades do rio São Mateus (F. A. RUBIM, Memória Estatística, 167).
– Em 1716, o marquês de Angeja escreveu a Domingos Antunes, “capitão do distrito de São Mateus, concedendo-lhe faculdade para continuar aquela povoação”. Prometeu-lhe interceder junto ao bispo do Rio de Janeiro para que fosse designado um sacerdote para S. Mateus e censurar as autoridades do Rio das Caravelas por não terem permitido vender gêneros aos habitantes da recém-fundada povoação. Juntamente com esta missiva, fez seguir a “patente de capitão dos moradores dessa povoação (S. Mateus), subordinado ao Capitãomor da Capitania do Espírito Santo” (DH, LXX, 315-6).
(53) - “Porquanto sou informado que os filhos da folha da Capitania do Espírito Santo, se queixam publicamente de se lhes não pagar as folhas ordinárias do ano passado de 1718” (DH, LV, 323).
(54) - DH, LIV, 339 ss. Em 1715, um navio inglês, procedente da costa da Mina, arribou ao porto de Vitória (?), provocando enérgicas recomendações do governador geral para que fosse evitado qualquer contato da sua tripulação com a gente da terra (DH, LIV, 52).
(55 )- DH, LV, 147 ss.
(56) - “com especial especulação examinará, se todos os Soldados têm espingardas, ou não, porque àqueles que as não tiverem, os obrigará a que as comprem no espaço de seis meses, sendo abastados de bens, e aos que forem pobres lhes dará um ano para haverem de fazer a dita compra; e para haver de executar esta ordem com mais suavidade a distribuirá pelos Capitães, para que cada um nos distritos que lhe toca, vá pessoalmente notificar os Soldados das suas Companhias para este efeito, obrigando-os a ter as ditas armas no tempo declarado” (DH, LV, 199-200).
(57) - Esta recomendação vinha a propósito das atividades de Pedro Bueno. São as seguintes as palavras do governador geral, contidas nas instruções fornecidas a Domingos Teixeira de Andrade:
“De Pedro Bueno, que se acha nessa Capitania com roças que no sertão dela tem feito, tive carta em resposta de uma minha em que me informa não ter achado naquele sertão, ribeiros, que pintem ouro com utilidade: e porque poderá ser assim, e talvez seja contrário por ambição de querer tirar só as utilidades daquele sertão, deve Vossa Senhoria informar-se deste particular com grande cautela e segredo de tal modo, que o dito Pedro Bueno não perceba desconfiança do exame que Vossa Senhoria fizer, antes entenda que Vossa Senhoria fia nele, e entretanto continuar na proibição de que ninguém passe a fazer descobertas na dita Capitania, por ser ordem de El-Rei meu Senhor, se não façam estas enquanto se não fortifica primeiro a Capitania do Espírito Santo” (DH, LIV, 53).
– A carta d’el-rei ao marquês de Angeja mandando proibir a prospecção no Espírito Santo e determinando fortificasse o litoral da capitania traz a data de dois de setembro de 1716 (cópia na Seção de Mss. da BN, códice I-5, 2, 29).
(58) - RUBIM, Notícia, 341; DAEMON, Prov. ES, 150.
(59) - RUBIM, Memórias, 245.
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018
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