Thomas Cavendish e as peripécias de um desembarque malsucedido (1ª Parte)
Tão antiga quanto a própria historiografia das campanhas militares, são as narrativas dos desembarques armados, através do tempo.
A batalha naval de Salamina, ocorrida em 480 a. C., entre gregos e persas, assim como a derrota ateniense, no malfadado desembarque em Siracusa, na costa siciliana, em 413 a. C durante a guerra do Peloponeso, são exemplos de desembarques, nas Guerras Antigas.
Fastidioso seria citar, a esse respeito, as contendas medievais e da Idade Moderna, bastando simples referência a alguns desembarques bem-sucedidos, das conflagrações do Século XX, também denominadas Guerras Contemporâneas.
Modelos perfeitos de planejamento estratégico e coordenação tática, foram o desembarque alemão na Noruega, em 1940 e os assaltos das tropas aliadas à costa tunisiana e ao litoral da Sicília – ambos no Mar Mediterrâneo – em 1943.
Também a conflagração entre americanos e japoneses, no transcurso da Segunda Guerra Mundial, foi pródiga em desembarques armados, dado seu caráter típico de guerra naval.
Pertence, portanto, ao desembarque aliado no litoral da Normandia, na costa francesa ocupada pelos exércitos alemães, a glória de figurar como o mais importante e bem-sucedido assalto marítimo de todos os tempos.
Iniciado no dia 06 de junho de 1944, contra a chamada “Fortaleza Européia de Hitler”, constitui obra prima de elaboração e execução de um projeto militar.
Nada foi deixado aos caprichos do acaso, pois o planejamento estratégico abrangeu uma infinidade de alternativas e pormenores. Até mesmo a construção de quilométrico cais transportável, teve início, na Inglaterra, a fim de facilitar o desembarque das tropas, veículos militares, armas e munições, nas praias normandas. Para isso, construíram-se cento e quarenta e sis gigantescos “caixões-fênix”, em ferro e concreto armado.
Nos dias subseqüentes ao desembarque das primeiras unidades de combate, foram essas secções de cais rebocadas, peça a peça, através do Canal da Mancha, manobradas e fixadas na posição exata, conforme o aclive do fundo do mar, na Normandia.
Os ingleses protagonizaram dois desembarques, em épocas distintas em sua história militar. Um deles é recente e ocorreu no transcurso da Primeira Guerra Mundial, no Estreito de Galípoli – litoral da Turquia – em 1915.
Tinha por objetivo forçar a passagem dos Dardanelos, e embora poderoso pelo número de tropas, armamento e embarcações que o compuseram, não obteve sucesso. Sobre esse desembarque existe literatura abundante.
O outro insucesso inglês foi de pequena monta e discreto registro na literatura militar. Teve lugar na atual baía de Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo, denominada à época (fevereiro de 1592), de barra do Espírito Santo, na Capitania do mesmo nome, no litoral leste do Brasil-Colônia, então pertencente à Coroa portuguesa.
Do ponto de vista militar, tão modesto desembarque configura uma ação beligerante entre pequenas unidades combatentes: marinheiros ingleses, com efetivo aproximado do valor de uma companhia de combate, deslocando-se a remo, em dois lanchões, aos quais se contrapunham tropas terrestres portuguesas apoiadas por um contingente de índios flecheiros, convocados ao combate pelos padres jesuítas.
A respeito desse episódio, a literatura é pobre e imprecisa, o que motivou as apreciações e confrontações entre relatos ingleses, portugueses e brasileiros, que se seguirão.
Autor: Zoel Correia da Fonseca
Fonte: Textos de História Militar do Espírito Santo – Coleção João Bonino Moreira – vol. 3
Compilação por: Getúlio Marcos Pereira Neves. Vitória, 2008.
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