Epidemias e Ameaças - Por Serafim Derenzi
As aglomerações humanas propiciam as endemias, mormente quando se tornam centro de emigração. O paludismo e a varíola madrugaram na ilha com a entrada dos indígenas catecúmenos. Em 1558 e 1559, quando a ilha se despovoava com os assaltos dos silvícolas, uma epidemia "matou tanta gente que o adro da igreja, onde, segundo costume, os jesuítas chegaram a sepultar dez cadáveres por dia..." (1) Os loiolistas registram continuamente, em suas cartas, essas mazelas.
Luís da Grã, certa vez, "achou a todos convalescentes de febres". Em 1564 a bexiga outra vez devasta, principalmente na Aldeia da Conceição, hoje "Serra". (2) Não deve ter sido outra doença, que matou o Padre Diogo Jácome e o Ir. Pedro Gonçalves". (3) O progresso demográfico, com a insurreição do índios, as epidemias e lutas contra os estrangeiros, só podia ser negativo. Os franceses, que ameaçaram a costa em 1551, voltaram em 1558 ao Porto de Vitória, onde dormiram. Salvaram o desembarque Simão Azevedo e um francês, residente na ilha, chamado Nao, os quais indo a bordo, exageraram o poder bélico dos colonos e os fizeram levantar ferros.
"Gato" os surpreendeu dias depois em Itapemirim, combatendo-os e desbaratando-os. (4)
Os franceses são persistentes: em 1561, em duas naus artilhadas, fundeiam defronte a vila, aterrorizando a parca população em suas casas de palha sem defesa. Belchior de Azevedo chefiou a defesa, levando o P. Brás Afonso o estandarte de São Tiago. Toda a população combate. Foram postos em fuga a golpes de flechas. Uma nau portuguesa de passagem prestou auxílio valioso. (5)
No ano seguinte não ousaram entrar; mandaram um batelão explorar o parto e foram postos a correr. (6)
BELCHIOR DE AZEVEDO
Entre os moradores da Capitania, um destacou-se pelas suas virtudes excepcionais: Belchior de Azevedo. Além de próspero proprietário, exercera a Provedoria Real da Fazenda. Era secretário de Coutinho, administrador da Justiça, estimado por Brás Afonso, superior do Colégio. Na última viagem de Vasco Fernandes elegido pelo povo e as mais vozes para Capitão.
Mem de Sá, voltando da Guanabara, achando vaga a Capitania, por provisão de 3 de agosto de 1560, datado de Vitória, confirma o ato dos habitantes da ilha, fazendo ao cavaleiro d' El Rei, Belchior de Azevedo, capitão, com todas as prerrogativas do donatário. O que eu não atino é que, tomando Mem de Sá conhecimento da morte de Coutinho, de Salvador, em 16 de outubro do ano seguinte, torne a nomear Belchior, capitão-mor da Capitania, determinando que ela não seja entregue a nenhuma outra pessoa a não ser ao filho do falecido Coutinho, se se apresentar. (7) Parece-me redundância. Belchior de Azevedo vai imortalizar-se na história da invasão francesa no Rio e será perpetuado, pela ajuda a Frei Pedro Palácios, na construção da ermida da Penha.
NOTAS
(1) Mario Freire — "A Capitania do Espírito Santo" pág. 23.
(2) Apud Serafim Leite — Tomo I. pág. 216 e seguintes.
(3) Serafim Leite.
(4). C.A. — "Apud" Serafim Leite.
(5) C.A. c/ nota de Afrânio Peixoto — "Apud" Serafim Leite.
(6) Idem, idem — Daemon.
(7) Os dois documentos estão reproduzidos nos "Ensaios Sobre a História e Estatística da Província do Espírito Santo", de José Marcelino Pereira de Vasconcelos, editada em Vitória, em 1858".
Fonte: Biografia de uma ilha, 1965
Autor: Luiz Serafim Derenzi
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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