Exército de papel - Por José Teixeira de Oliveira
Não obstante a situação deficitária dos orçamentos locais, desconcertante variedade de corpos militares e militarizados: Regimento da Infantaria Auxiliar, Terços da Ordenança, Companhia da Artilharia Auxiliar, Companhia dos Homens Pretos, Companhia dos Forasteiros, Companhia de Estudantes, (V) Tropa denominada da Conquista do Gentio bárbaro, composta de duas companhias de vinte e cinco homens cada uma,(64) capitães de entradas e assaltos – denominação pretensiosa dada aos capitães do mato(65) – e outros mais.
Isto em um país cujos habitantes tinham verdadeira aversão pela carreira das armas.(66)
O espantoso, porém, é que, não obstante tanto aparato militar, navios franceses apresaram e saquearam embarcações portuguesas na barra do Espírito Santo, onde não existiam munições necessárias para a defesa da capitania...(67)
Razão assistia ao príncipe regente D. João – futuro D. João VI – quando, nas instruções passadas ao governador da Bahia, assim se expressava a propósito na nomeação de novo dirigente para a terra capixaba: “Tendo-me devido um particular cuidado o reanimar a quase extinta Capitania do Espírito Santo, confiada até agora a ignorantes e pouco zelosos capitães-mores”.(68)
V - “Capitania do Espirito Santo e sua Comarca – Regimento de Infantaria. Auxiliar de que He coronel o capitão-mor da mesma Capitania Ignacio João Mongiardino. Este Regimento he formado na sobredita capitania com sete companhias, divididas na fórma seguinte: cinco na villa da Victoria e seus districtos; uma na villa do Espirito Santo, denominada villa Velha; e uma na villa de N. S. da Conceição de Guaraparim. Acha-se presentemente com o total de 360 praças.
O seu sargento-mór e ajudante são pagos pelas camaras da mesma capitania e os soldados comprarão á Real Fazenda os seus armamentos. D. Rodrigo José de Menezes, governando esta Capital, creou este regimento pela necessidade que havia de hum corpo auxiliar para guarnição da sua costa, que fica exposta ao inimigo e justamente para os destacamentos das entradas que descem de Minas Gerais e em que fica tão proxima a referida capitania, com muitos poucos dias de viagem. Na verdade que tendo ella só para sua guarnição huma pequena companhia de infantaria paga, necessitava de maior guarnição, não só pelas razões acima ponderadas, mas porque os seus habitantes são invadidos pelo fero gentio Botucudo, que tanto os prejudica nas vidas e lavouras.
Por esta mesma causa S. M. F. mandou fazer huma Fortaleza na Ilha do Boi para sua defeza e recommenda que seja guarnecida. Todas estas razões obrigarão a que se regulassem os pequenos corpos de Ordenanças na fórma seguinte.
Companhias de Cavallaria. Auxiliar. Para defeza da costa da mesma capitania se crearão duas companhias da cavallaria auxiliar, uma da repartição do norte e outra da do sul com o numero de 50 praças cada huma, escolhendo-se para officiaes e soldados dellas os moradores de maior possibilidade. Acha-se com o numero total de 100 homens, com os quaes não faz S. M. nem as camaras despeza alguma.
Companhia de Artilharia Auxiliar de que he capitão Francisco Teixeira Pinto. Esta companhia he formada dentro da villa da Victoria, com o numero total de sessenta e uma praças e serve de guarnecer as fortalezas da mesma capitania. O mapa incluso mostra os officiaes das fortalezas e fortes da dita Capitania e o uniforme de que uzão. Elles não são pagos pela Real Fazenda nem pelas camaras.
Terço da Ordenança de que he capitão-mór Bernardino Falcão de Gouvêa. He este Terço formado na villa da Victoria, cabeça de comarca com nove companhias, divididas pelos districtos na fórma seguinte: uma dentro da villa; uma no districto de Maruipe; uma no districto do Iucú, Campo Grande e SantAnna; uma no districto de Carapina, Praia e Caraipe; uma no districto da Boapaba. Curipe, Una, Campo Grande e Tayobaya; uma no districto de Jacariacica, Cangaiba e Maricarã e annexas a este corpo tem duas companhias, uma de estudantes e uma de forasteiros. Acha-se prezentemente com o numero total de 348 praças de homens robustos e capazes de pegarem em armas.
Companhia dos homens pretos de que he capitão Miguel Pereira da Rocha. Esta companhia he formada de homens pretos, livres, libertos dentro da villa da Victoria e tem presentemente o numero total de 97 praças.
Terço da Ordenança de que he capitão-mór José Ribeiro Pinto. He formado este Terço com tres companhias dentro da villa do Espirito Santo, denominada villa Velha e seu districto, com o numero total de 449 praças.
Terço da Ordenança de que he capitão-mór Francisco Xavier Nobre. Este terço he formado na villa de N. S. da Conceição de Guaraparim, em cinco companhias, divididas pela villa e seu termo na fórma seguinte: uma dentro da villa; uma nas de Miaipe e Ubú; uma nos districtos de Moquiçaba, Aldeia Velha e Morrinho e uma no districto de Itapemirim. Acha-se presentemente com o numero total de 250 praças. As distancias destes pequenos districtos povoados, que ficão de huns a outros, derão motivo a esta divisão de companhias e tambem porque estes são os mais atacados pelo gentio barbaro, de que acima se faz menção e he necessario que hajão officiaes que os governem e estejam promptos para resistir a qualquer invazão.
Terço da Ordenança de que he capitão-mór Martinho Vieira Guimarães. De todos os pardos livres e libertos que rezidem nas tres villas da Capitania se formou este terço com sete companhias, divididas na forma seguinte: duas dentro da villa da Victoria, cabeça da comarca; uma nos districtos de Campo Grande, Itaonga e Cangahiba, uma nos districtos de Boapaba, Capoeira Grande, Murundú, Serra e Praia, todos da mesma villa; uma na Villa do Espirito Santo, uma dentro da villa de N. S. da Conceição de Guaraperim e de seus districtos de Maipe e Ubu, e uma finalmente nos districtos de Una e Moquiçaba, Peroção e Aldeia Velha da mesma villa. Acha-se presentemente com o numero total de 388 praças” (Da observação que acompanha o ofício de D. Fernando José de Portugal para Martinho de Melo e Castro, de onze de junho de 1791, in ALMEIDA, Inventário, III, 225-6).
– Em 1804, a “tropa paga e miliciana” e fortificações da Capitania era mencionada assim: “Companhia de Infantaria paga, Companhias (2) de artilharia e cavallaria miliciana, Regimento de Milicias. – Tropa paga da Conquista do Gentio. [...]” Fortalezas: “...de S. Francisco Xavier da Barra, de S. João, de N. S.ª do Carmo e de Santo Ignacio” (ALMEIDA, Inventário, V, 154)
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2018
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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