Movimentos de bairro - Por Geet Banck (Parte II)
2. Eleições, Percentuais e Surpresas
As eleições de 1988 para as prefeituras municipais brasileiras redundaram num notável avanço do Partido dos Trabalhadores. Embora a surpreendente vitória na cidade de São Paulo tenha sido especialmente marcante, o PT venceu também em outras importantes cidades do país. Assim, em Vitória, capital do Espírito Santo, o candidato petista foi eleito com 35% dos votos. Uma das razões normalmente aventadas para essa vitória é a de que, entre forças atuantes por trás do PT, estão as comunidades de base, por sua vez ligadas ao trabalho pastoral da Igreja junto aos pobres. De fato, a diocese de Vitória foi uma das primeiras a executar essa política, de modo que as CEB's são fenômeno bem conhecido na cidade como um todo e sobretudo nos bairros mais pobres, sendo muito fortes os seus laços com o PT (cf. Doimo (1985), (1988); Banck e Doimo (1989)).Todo tipo de movimento foi desencadeado pelas CEBs, principalmente após a abertura de 1979 (houve protestos, entre outros, contra as deficiências do transporte coletivo e o desemprego), constituindo elas também o núcleo de movimentos de protesto de vários bairros. Uma estreita identificação com os pobres, por um lado, e um conteúdo muito acentuado de retórica partidária, por outro, criaram a expectativa de se obter para o PT um bom número de votos da população carente da cidade.
A apuração dos resultados mostrou, contudo, que o PT conseguiu 25,4% dos votos dos bairros mais pobres (com predominância de famílias com menos de dois salários mínimos de renda), enquanto um candidato clientelista, concorrendo por um partido de feições conservadoras, o Partido da Frente Liberal (PFL), obteve aí 35,7% dos votos. Esse resultado se contrapõe aos de outros bairros de baixa renda: nos bairros em que a maioria das famílias tinha renda entre dois e cinco salários mínimos, 35,5% dos eleitores votaram no PT, e 30,4% no PFL. Mais surpreendente, porém, foi o número de votos dados ao PT nos dois bairros mais prósperos (nas faixas entre cinco e dez e mais de dez salários mínimos): 49,5% e 47,2% respectivamente para o PT, enquanto o candidato do PFL, suposto representante do establishment, não conseguiu mais de 20,4% e 23,3% respectivamente (MEDEIROS; VASCONCELOS, 1989, p. 31). Visto que, em números absolutos, a vitória do PT foi assegurada pelos bairros com renda familiar média de dois a cinco salários mínimos, e que os votos desses bairros correspondiam a mais da metade dos votos depositados nas urnas, é paradoxal, para dizer o mínimo, que quase metade dos votos obtidos por um partido militante e dotado de retórica radical tenha provindo de grupos de renda que representavam, presumivelmente, as classes sociais adversárias do partido, enquanto os grupos mais pobres tiveram, na melhor das hipóteses, um morno comportamento eleitoral em relação ao PT.
Isso é ilustrado pelo caso espantoso ocorrido numa favela construída a partir da invasão, em 1977, de um manguezal, em cuja construção o movimento comunitário local desempenhou importante papel, além de tomar várias iniciativas de caráter organizacional na localidade (BANCK, 1986; BANCK; DOIMO, 1989). De fato, as principais forças motrizes de organização da favela se encontravam na CEB local, que também, depois de 1979, se transformou na virtual cidadela do PT no bairro. Apesar das políticas clientelistas que, desde o início, se fizeram presentes, a impressionante atuação do movimento prometia resultar numa boa votação. Aí, no entanto, o PT amealhou menos do que a média de 25% obtida nos bairros pobres como um todo. O candidato do establishment obteve mais de 40% dos sufrágios, e o PT, menos de 19%, índice humilhante que o colocou abaixo do total de votos brancos e nulos (21,4%)(2). Como explicar esses resultados?
Notas
(2) Percentagem que não chega a ser incomum em eleições brasileiras.
Contracapa do Livro – Por Renato Pacheco: Nunca um “brasilianista” havia volvido seus olhos para gente de nossa pequenina terra. Viajantes muitos e ilustres passaram por aqui, relatando suas impressões, como está visto em Viajantes e estrangeiros no Espírito Santo, do historiador Levy Rocha. Mas não era observadores sistemáticos, Afeitos aos métodos das ciências sociais. Estamos diante de algo, a meu ver, pioneiro em nossa bibliografia.
Fonte: Dilemas e Símbolos Estudos sobre a Cultura Política do Espírito Santo, Segunda Edição aplicada – 2011
Autor: Geert. A. Banck
Compilação: Walter de Aguiar Filho, abril/2019
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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