Nossa vida no Brasil - Imigração dos EUA para o ES
Prefácio do livro - Nossa Vida no Brasil
Considerações iniciais
O manuscrito Nossa vida no Brasil foi escrito e organizado por Julia Louisa Lee Hentz Keyes, com contribuições de diversos membros de sua família, em especial Jennie Rutledge Keyes, sua filha, e de John Washington Keyes, seu esposo.
A versão original, de 1874, encontra-se no arquivo histórico do estado do Alabama, em Montgomery, nos Estados Unidos, onde realizamos parte de nossa pesquisa documental de uma investigação mais ampla sobre a imigração confederada para o Brasil. O manuscrito é uma referência importante não apenas para os estudiosos do autoexílio confederado, mas para aqueles que desejam estudar a história capixaba, em especial o norte da então província – hoje Estado – do Espírito Santo.
A imigração confederada
Em torno de oito a dez mil imigrantes confederados teriam deixado os Estados Unidos (EUA) em direção ao Brasil, México, Cuba, Venezuela e outros países da América Latina, bem como ao Canadá, após o fim da Guerra Civil Americana. O Brasil teria sido o principal destino dos imigrantes sulistas: entre dois a quatro mil indivíduos teriam se dirigido ao Império.
Esses números são insignificantes quando confrontados com o movimento em massa de imigrantes ocorrido no Brasil após fins da década de 1880, em especial italianos, alemães, portugueses e espanhóis. Entretanto, há uma especificidade na imigração confederada: não se tratou de um deslocamento motivado apenas pela busca de melhores oportunidades econômicas, mas, essencialmente, por motivos políticos.
Sendo assim, a imigração confederada constitui uma exceção dentro do cenário dos grandes movimentos populacionais do período. Os Estados Unidos da América eram o principal destino dos imigrantes europeus e, destarte, o movimento realizado pelos sulistas em direção ao Império foi de contrafluxo – o segundo maior da história daquele país, sendo o primeiro aquele realizado pelos toriesque rumaram em direção ao Canadá durante a luta pela independência contra a Grã-Bretanha.
Insatisfeitos com a derrota dos Estados Confederados da América, a abolição da escravidão e a supressão dos direitos políticos daqueles que pegaram em armas contra a União, os sulistas almejaram o autoexílio. Estima-se que algo em torno de 16% a 18% das famílias sulistas, entre os brancos, tenham considerado deixar os EUA após a guerra.
Existiu uma convergência ideológica entre os líderes dos imigrantes e os políticos conservadores sulistas, em especial aqueles que clamavam pela secessão anos antes da Guerra Civil. Muitos dos promotores da imigração ao Brasil no pós-guerra tinham sido agentes políticos pró-secessão, ou mesmo familiares próximos.
Por que o Brasil? Tendo a escravidão sido varrida do sul dos EUA pelos exércitos de Sherman e Grant, o Império, junto com Cuba, era um dos últimos países da América onde a possibilidade de empregar a mão de obra compulsória do negro na lavoura comercial ainda existia. Recorrentemente, o Brasil surge nos jornais sulistas como um paraíso para aqueles insatisfeitos com a ordem social imposta pela derrota na Guerra Civil.
Fonte: Nossa vida no Brasil – Imigração Norte-Americana no Espírito Santo 1867-1870
Autora: Julia Louisa Keyes
Tradução e notas: Célio Antônio Alcântara Silva (Historiador)
Publicação: Arquivo Público do Espírito Santo, 2003
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