O Quadriênio Jerônimo Monteiro

A vinte e três de maio de 1908, Silva Coutinho passou a presidência a Jerônimo de Sousa Monteiro, que trazia para o governo um programa de amplas realizações.
Preliminarmente, promoveu o congraçamento dos partidos, conseguindo sólida base política para sua administração. Da fusão de elementos do Partido Construtor e do Republicano Federal – aquele chefiado por Muniz Freire, o segundo por Torquato Moreira – surgiu o Partido Republicano Espírito-Santense, dirigido pelo próprio presidente.
Durante o quadriênio Jerônimo Monteiro, o Estado experimentou largos benefícios da ação governamental: abertura de estradas, fomento da produção agrícola, melhoria dos rebanhos bovinos, construção da usina de açúcar de Paineiras – ao tempo considerada a melhor do Brasil –, desenvolvimento do ensino público (II) e melhoria do aparelho administrativo.
Vitória transformou-se em cidade moderna, dotada que foi dos serviços de água, esgotos, luz e bondes elétricos.(35) Rasgaram-se novas ruas. Surgiram a Vila Moscoso e seu belíssimo parque. Os principais edifícios públicos foram reconstruídos, inclusive o antigo Colégio dos jesuítas – que sofreu remodelação completa, graças à qual o velho casarão se transformou no atual e majestoso Palácio
Anchieta.(36) De sua iniciativa foram, também, a construção do atual Hospital da Misericórdia e a criação da Caixa Beneficente Jerônimo Monteiro.
Vale ressaltar que Jerônimo Monteiro realizou obras tão vultosas – até hoje lembradas em meio às mais gratas referências pelos capixabas – sem apelar para empréstimos. Ao contrário, coube-lhe a tarefa de amortizar – com pontualidade exemplar – as dívidas de seus antecessores.
NOTAS
(35) - Serviços de luz elétrica e água inaugurados a cinco de setembro de 1909; de esgotos, a vinte e nove de janeiro de 1911; de bondes, a vinte e um de junho de 1911. A iluminação elétrica de Vila Velha foi inaugurada a trinta de julho de 1910. A primeira localidade espírito-santense a desfrutar das vantagens da iluminação elétrica foi Cachoeiro de Itapemirim, sendo o serviço inaugurado a primeiro de novembro de 1903 (MARINS, Minha Terra, 73).
(II) LUIZ DERENZI escreve, com a segurança de quem conhece o tema, na sua bem elaborada Biografia de uma Ilha: “Que era o ensino no Espírito Santo, até 1908? Um mito e, para as famílias abastadas, em pequeno número por sinal, um privilégio. O Estado guardava posição desairosa com suas 125 escolas para uma população presumível de 250.000 habitantes. Não havia magistério, não havia escolas e, pior ainda, sem orientação pedagógica capaz de acrescer o rendimento cultural dos professores. Com o espírito arejado, que lhe adornava o patriotismo, Jerônimo Monteiro, ufano de sua terra, não foi nativista. Sua visão panorâmica era objetiva. Pretendendo elevar o nível do Estado, não podia subordinar-se a caprichos de fronteira. Em S. Paulo, contratou a Carlos Gomes Cardim, educador entusiasta e jovem, forjado no dinamismo da cultura paulistana, sempre na dianteira do progresso nacional, confiando-lhe o problema da instrução pública. A vinte e nove de junho, trinta e sete dias após o novo Governo, Gomes Cardim se investia na Inspetoria do Ensino. Seus conhecimentos, carinho e método de trabalho dinamizaram todos os subordinados. Não deixou vestígio da velha e retrógrada estrutura educacional de professores autodidatas, adeptos da eficácia da palmatória. A escola passou a ser desejada, tornou-se centro de atração infantil. Os professores se envaideciam de sua nobre missão social. Tudo foi modificado: edifícios, magistério, metodologia, disciplina e educação. Nasceu a mística escolar, irradiada pelo ambiente sadio da comunidade.
Os recreios, os jogos, o batalhão, a cultura física, o cântico de hinos patrióticos, a instrução cívica e moral criaram ambiente e interesse aos alunos e pais. A modelagem, as artes domésticas e o jornal escolar despertaram virtudes adormecidas. A instrução média mereceu igual cuidado.
O Ginásio Espírito-santense, fundado a vinte e quatro de maio de 1906, logrou equiparação. A Escola Normal, além de reestruturada, foi reconstruída, ganhando salão nobre, dependências administrativas, gabinete de história natural e nova arquitetura.
A fim de aumentar o contingente de professores, reclamados pela abertura de escolas em toda a parte, é equiparado o Colégio N. S. Auxiliadora, das Irmãs do Carmo, educandário tão querido e prestante, com seu internato para alunas do interior. Inspetores escolares fiscalizam, com carinho e sacrifício, em longas caminhadas a cavalo, o método de ensino e o aproveitamento dos alunos. Foi, sem dúvida, a mais bela cruzada, galhardamente vencida pelo Governo: a difusão do ensino primário. É preciso ter-se em vista as condições geográficas e a fraca densidade demográfica do Estado, naquela época. A localização das escolas rurais não era fácil, dadas as distâncias entre os moradores agrícolas. A hospedagem dos professores, outra dificuldade que, ainda hoje, não tem solução plausível. Em resumo, houve verdadeiro movimento educacional no sentido dinâmico do termo.
A reabertura da Biblioteca Pública, a fundação da Escola de Belas Artes, os Congressos Pedagógicos, as reuniões de professores, as visitas de homens de letras e de ciências propiciaram a elevação cultural da sociedade. Carlos Reis, à testa da Escola de Pintura, descobriu vocações e incutiu gosto pelas artes plásticas.
Professores cultos e capazes encontram clima no magistério enobrecido. Deocleciano de Oliveira pôde suceder a Gomes Cardim, sem deslustrar a obra renovadora. O estímulo atinge o magistério particular. Abrem-se cursos primários, que se tornariam famosos. A semente educacional germinou com viço e o nome do Estado transpôs as fronteiras, alcançando classificação honrosa nas estatísticas nacionais. A vinte e três de maio de 1912 o número de escolas se elevava a 247” (op. cit., 189-90) .
Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, setembro/2017
Pero de Magalhães de Gândavo, autor da 1ª História do Brasil, em português, impressa em Lisboa, no ano de 1576
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