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Recenseamento – Terceira década do Século XVIII

João V, foi Rei de Portugal e Algarves de 1706 (1707 sendo feita a aclamação) até 1750.

Graças à documentação que instruiu o processo relativo àquelas obras, ficamos sabendo que, entre 1728 e 1730, a vila da Vitória “se achava mui destituida de cabedaes e atenuada por falta de negocio, sendo por esta cauza muy pobres os seus moradores; que os vizinhos de que se compunha passavão de 5.000 entre brancos, pardos, pretos forros e captivos, que os fogos que nella havião passavão de 700, que os dizimos não chegavão em muitas occasiões a cobrir os filhos da folha, não passando o seu rendimento de 2:500$000”.(73)

Cousas da administração colonial – Pedro Bueno Cacunda não cessou jamais os seus trabalhos em busca das minas. Burlando a vigilância dos delegados d’el-rei e as insensatas disposições que proibiam o desbravamento dos sertões, perlustrou as principais regiões metalíferas da capitania, revelando suas riquezas, provocando seu povoamento. O resultado portentoso da sua odisséia foi relatado por ele mesmo na carta dirigida ao rei, datada de oito de setembro de 1735, no “Arraial de Santa Anna”.(74) Nesse documento, o audaz sertanista pedia a superintendência das minas e das passagens dos rios Mayguassu (Manhuaçu), Guandu e Itapemirim e quatro hábitos de Cristo, lembrando a necessidade de se estabelecer uma espécie de corpo de polícia, constituído de oitenta homens armados, para manter em respeito as “naçoens do gentio inhumano”. Pedia, também, caso a Coroa permitisse a continuação das explorações, lhe fosse facultado retirar sessenta índios das aldeias administradas pelos jesuítas e religiosos de Santo Antônio “para com estes fortalecer as estalagens que tenho feito e as mais que serão necessarias, rezistir ao encontro do gentio barbaro que nos possa hostilizar e abrir caminho para entrar povo, para o que he tambem necessario serem providos de ferramentas”.

Informa Alberto Lamego que o Conselho Ultramarino deu parecer, em parte, favorável, tendo sido expedidas ordens ao conde de Sabugosa para fornecer utilidades a Cacunda e determinar aos diretores das aldeias a entrega dos índios requeridos. Consultados pelo vice-rei, os padres da Companhia deram tais informações que Sabugosa apôs na petição de Cacunda o seguinte despacho: “A S. Mag. darei conta porque não cumpro a portaria”. Vencido por tão poderoso voto, Cacunda recolheu-se às cabeceiras do rio Doce, onde enfrentou, por muitos anos, a ferocidade do gentio.(75)

 

NOTAS

(73) - Informação do provedor da Fazenda do Rio de Janeiro, baseada em elementos de outra do seu colega do Espírito Santo (ALMEIDA, Inventário, VII, 133-4). No mesmo documento, se lê mais o seguinte: “não sabia que houvesse naquella Capitania [Espírito Santo] effeitos alguns donde sahisse a despeza que se havia de fazer com a reedificação da dita Igreja”.

– A consulta do Cons Ult, de vinte e sete de julho de 1731, transcreve ipsis litteris os termos da informação supracitada (ALMEIDA, Inventário, VIII, 103).

(74) - Carta de Pedro Bueno Cacunda, dirigida ao rei, em que lhe relata as suas explorações pelos sertões das Minas e lhe pede varias mercês, em remuneração dos seus serviços (ALMEIDA, Inventário, VII, 199-201).

(75) - LAMEGO, Terra Goitacá, II, 276-9.

 

Fonte: História do Estado do Espírito Santo, 3ª edição, Vitória (APEES) - Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – Secretaria de Cultura, 2008
Autor: José Teixeira de Oliveira
Compilação: Walter Aguiar Filho, junho/2017

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