Rio Jacaraípe tem “vida urbana”
De todas as bacias que formam a Unidade Hidrográfica Litorânea Central, a do rio Jacaraípe é a mais populosa e, conseqüentemente, a que apresenta um maior número de problemas.
De acordo com o pesquisador do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Antonio Sérgio Ferreira Mendonça, nas bacias da região – incluindo Reis Magos, Piraqueaçu e Riacho – os rios nas áreas urbanas apresentam índices de coliformes superiores aos limites máximos indicados para banho pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente.
“A água não está boa nas áreas urbanas e abaixo delas, o que torna os rios não balneáveis (impróprios). Isso decorre da alta carga de lançamento de esgoto in natura”, lembrou Antonio Sérgio.
Na bacia do Jacaraípe, ele explica que há muitos bairros próximos as lagoas e as estações de tratamento de esgoto (ETE’s) são antigas ou insuficientes.
“Infelizmente, as pessoas lançam as fezes no rio e, depois, gastam milhões para tratar a sua água para beber”, completou o representante das ONGs no Conselho Estadual dos Recursos Hídricos, Eduardo Pignaton.
A população da Serra, que em 1970 era de 17.286 habitantes, aumentou para 307 mil em 2000, resultando num crescimento populacional de cerca de 94% em 30 anos. O município possui cerca de 394,3 mil habitantes, segundo dados do IBGE do ano passado.
“Na região da bacia, temos bairros muito populosos como Feu Rosa, que é o maior da Serra com 65 mil pessoas, e Vila Nova de Colares. O balneário de Jacaraípe está todo inserido na bacia”, lembrou a geógrafa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Serra, Edmara Salete Lorenção.
Ela informa que nas proximidades da lagoa Jacuném, que já teve água captada pela Cesan, foi instalado o Centro Industrial Vitória (Civit), um pólo que inclui indústrias químicas potencialmente poluidoras.
“No Plano Diretor Municipal vários locais sensíveis serão transformados em Unidades de Conservação e teremos um instrumento para ordenar o uso e ocupação do solo”, explicou.
Algas brigam com peixes por oxigênio
As lagoas Juara e Jacuném – que formam o rio Jacaraípe – estão eutrofizadas, isto é, possuem excesso de algas devido ao lançamento de esgotos sanitários, o que provoca a redução de oxigênio na água durante o período noturno e, conseqüentemente, a mortandade de peixes.
O diagnóstico foi feito pelo engenheiro Antonio Sérgio Ferreira Mendonça, Ph.D. em recursos hídricos e professor pesquisador do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da Ufes.
“Isso ocorre devido ao lançamento de nutrientes na água (fósforo e nitrogênio), dos quais o esgoto sanitário é muito rico, em locais onde há pouca velocidade da água. Eles funcionam como adubos para as algas, o que deixa a lagoa esverdeada, aumenta a quantidade de oxigênio dissolvido durante o dia e, à noite, ocorre o inverso”, explicou.
Canais deixam água salobra nas bacias
Se por um lado a abertura de canais pelo extinto Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) cumpriu com o objetivo de levar a água para outros locais (irrigação) e diminuiu os alagamentos nas partes mais baixas, por outro rebaixou os lençóis freáticos, comprometendo a qualidade da água nas bacias dos rios Jacaraípe, Reis Magos, Piraquaçu e Riacho.
“Essas áreas estão localizadas em regiões litorâneas. Há possibilidade de salinização de solos, pois existe uma curva de salinidade. Ao rebaixar o lençol, a cunha salina acaba avançando para dentro do terreno”, explicou o gerente de Recursos Hídricos do Iema, Fábio Ahnert.
Segundo ele, a conseqüência é a perda de qualidade da água, que fica salobra e perde nutrientes, inviabilizando o cultivo de diversas culturas.
As principais lagoas da Serra
Juara – A lagoa largo do Juara, também conhecida como lagoa do Juá, tem como principal afluente o ribeirão Juara. Em seu lado leste é conhecida como lagoa Jacaraípe, pois está apenas a três quilômetros da praia de mesmo nome, sendo a maior lagoa do município com aproximadamente 2,8 km2 de área e profundidade média de três metros.
Maringá – É artificial, originada pelo represamento parcial do Córrego Maringá. Fica próxima ao bairro de Manguinhos.
Sapongá – Está situada na região de Queimados, na baixada próximo ao Morro Mororon.
Carapebus – É um importante ponto turístico do município e está separada do mar apenas por trechos. Próximo a ela está a pequena lagoa do Baú.
Em determinado trecho é separada do mar apenas por bancos de areia. As nascentes e córregos contribuintes estão localizados em grande parte na área do cinturão verde do conjunto habitacional Cidade Continental.
Jacuném – Possui cerca de 1,4 Km2 e abrange uma grande área urbana do município da Serra. Está inserida entre o Civit, as proximidades de Feu Rosa e Barcelona.
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal da Serra.
Informações Gerais
Rio Jacaraípe
• Área – 221,41 Km² (7,10% da Unidade Litorânea Central)
• Principais afluentes – Ribeirão do Juara, córregos Independência, Quibebe, Cavada, Castelo, Cachoeira do Putiri, São Domingos e Dr. Robson. Estes dois últimos nascem no Mestre Álvaro
• Gerenciamento – Rio de domínio estadual
• Extensão – Cerca de 36,71 Km
• Nascente – O rio nasce da união de diversos córregos, na região do Mestre Álvaro. Eles atravessam a área rural e urbana da Serra e deságuam nas lagoas Largo do Juara e Jacuném
• Foz – Do complexo de lagoas, segue para o mar, desaguando na praia de Jacaraípe. A bacia está inserida no Civit, distante 5 Km do Oceano Atlântico. Constitui cerca de 35% da área do município da Serra
• Município coberto pela bacia – Serra (100%)
• Principais atividades econômicas
– Predominantemente os setores industriais e associações de pescadores; seguidos de cultura de eucalipto, pastagem, seringais, atividades de ecoturismo e agroturismo (pesque-pague), além de esporte náutico
• Principais problemas – Uso desordenado do solo, supressão da vegetação nativa e ciliar, ocupação irregular, lançamento de resíduos domésticos e industriais sem tratamento adequado, assoreamento às margens do rio, captação de água sem monitoramento, erosão nos balneários, obstrução da foz e enchentes. A maior parte da bacia está localizada em uma área fortemente industrializada, com exceção de alguns afluentes e parte da lagoa Juara, que se encontram em uma área rural
• Cobertura florestal – 58,12 Km²
• Unidades de Conservação – APA’s do Mestre Álvaro, da Lagoa Jacuném e do Morro do Vilante
Fonte: Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura da Serra.
Fonte: A Tribuna, Suplemento Especial Navegando os Rios Capixabas – Rios Riacho, Rio Piraqueaçu, Rio Reis Magos, Rio Jacaraípe - 12/08/2007
Expediente: Joel Soprani
Subeditor: Gleberson Nascimento
Colaborador de texto: Anderson Cacilhas
Diagramação: Carlos Marciel Pinheiro
Edição de fotografia: Lucia Zumash
Compilação: Walter de Aguiar Filho, setembro/2016
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