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Um 171 do Século 18

Foto ilustrativa escaneada da própria matéria da Revista Zêniteevista

Há palavras ou expressões que surgem por força de alguma coisa externa à língua, em determinado momento da História: um fato, um costume, um uso, um modismo (hábito que logo passa), novidades da evolução. Marcada pela sua época de origem, a expressão tende também a desaparecer quando o que a originou cai em desuso. É assim que, de repente, as pessoas se vêem falando coisas que não sabem explicar, pois é uma questão de conhecimento (os “saberes” que sustentam a cultura do meio em que se vive).

É o caso do substantivo “conto-do-vigário”. Tudo começou no Século 18, em Ouro Preto (MG). Duas paróquias, Pilar e Conceição, receberam de presente a mesma imagem de Nossa Senhora. Para definir qual ficaria com o presente, os vigários colocaram um burro com a imagem amarrada às costas no meio do caminho entre as duas igreja; aquela para onde ele se dirigisse seria a felizarda. E a vencedora foi... a Igreja de Pilar!...   Soube-se mais tarde que o burro era do vigário da igreja vencedora, que o havia treinado para seguir para lá...

O site “Exacta Press” oferece uma outra versão: “Segundo a pesquisadora mineira Lourdes Aurora, a expressão inicial era ‘cair na conta do vigário’, pois recebiam ouro roubado e pagavam pouco aos escravos. Várias igrejas foram construídas, segundo Lourdes, pela tal ‘conta do vigário’. Daí que veio a palavra vigarista, pessoa que agia como os vigários d’antanho.”

Com efeito, diz o Dicionário Aurélio que a palavra “vigarista” é a junção de “(conto-do-) vigário” com o sufixo “-ista”. O Dicionário Etimológico informa que ambas as palavras (vigário e vigarista) são derivadas do latim “vicarius” (=vicário, “que faz as vezes de outrem ou de outra coisa”). No rigor semântico, “vigário” designa o padre que substitui o titular em uma paróquia.

Na boca do povo, a expressão “conto-do-vigário” já está atualizada pela maior (e oportuníssima) difusão das leis em nosso país: agora é 171, artigo do Código Penal que trata das tentativas de levar alguém de boa-fé na conversa, “no bico”, “no lero”, do estelionato, enfim.

 

Fonte: Revista Zênite, Ano 8 - Edição 25 (novembro, dezembro2011 e janeiro/2012)
Contatos com a redação da revista: zenite.revista@gmail.com

Autor: Maurilen de Paulo Cruz
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março /2012 

 

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